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Carla Souza, 37 anos, foi assassinada por Jeremias Bins em maio de 2006 | Divulgação
Carla Souza, 37 anos, foi assassinada por Jeremias Bins em maio de 2006| Foto: Divulgação

O brasileiro Jeremias Bins foi condenado à prisão perpétua pelo duplo-assassinato da esposa Carla Souza, 37 anos, e do enteado Caíque Souza, de 11, em maio de 2006. Os 12 jurados da Corte Superior de Woburn, no estado de Massachusetts, concluíram que Bins, 32, cometeu dois assassinatos em primeiro grau, e sentenciaram o brasileiro a cumprir uma prisão perpétua por cada morte.

Na noite de 20 de maio de 2006, Carla e Bins tiveram uma discussão no apartamento do casal em Framingham, cidade que concentra vasta comunidade brasileira. Bins teria reclamado do tempo que esposa gastava num templo Mórmon local. Caíque, filho de Carla de casamento anterior, tentou interceder e também foi atingido por golpes de martelo.

Segundo William Zane, o médico que examinou o caso a pedido do Estado, Carla teria sofrido pelo menos seis lesões graves na parte do cérebro que responde pelas funções respiratórias cardíacas. Já Caíque, que pesava 43 quilos e tinha 1,27m de altura, sofreu pelo menos três golpes, um no topo do crânio e dois abaixo da orelha direita.

Durante todo o julgamento, o advogado apontado pelo Estado para defender Bins, Earl Howard, tentou ganhar tempo. Howard, que não convocou nenhuma testemunha a depor, disse que "Bins foi ameaçado por Carla" e "agiu num momento de raiva."

O promotor Lee Hettinger convocou 15 testemunhas e apresentou 60 provas que apontavam Bins como o autor dos assassinatos. Bins se entregou para a polícia logo depois dos crimes, com a camisa e o short cheios de sangue e carregando no colo o filho que teve com Carla, Phillipe, na época com 4 meses.

Hoje o único irmão de Carla vive nos EUA, Élvio Maia, um decorador de festas radicado em Milford, disse estar satisfeito com o trabalho da promotoria.

- Hoje ficou provado que a justiça dos homens funciona nos EUA. Agora a minha vida pode seguir em frente, disse Maia.

Desde os assassinatos, Maia mantém a guarda do sobrinho Phillipe, que ainda não sabe sobre o fim trágico da mãe e do irmão e a sentença do pai.

- Ele destruiu três vidas: a de Carla, Caíque e a dele próprio, disse Antonio Júnior, pai de Caíque.

Após ouvir a sentença de Bins, Júnior disse que foram "dois anos e meio de angústia e as últimas três semanas sem poder dormir, comer, ou trabalhar".

- A comemoração será triste, não tenho muito que comemorar. Estou aliviado por ver que ele vai pagar. Porque se ele me tirou o direito de ficar com o meu filho, esse direito também foi tirado dele hoje, desabafou Júnior.

O caso movimentou a comunidade brasileira em Framingham. Nas semanas seguintes ao duplo assassinato os jornais estamparam editoriais dizendo "Estamos de luto, mas não somos culpados." E em programas de rádio apresentados por brasileiros, mulheres ligavam desesperadas dizendo "eu posso ser a próxima vítima".

Casos de violência doméstica são constantes entre a comunidade brasileira de Massachusetts. Aqui o problema, que muitas vezes é uma continuação do que já acontecia no Brasil, fica mais sério porque o agressor se sente protegido pelo status imigratório irregular das vítimas nos EUA.

Só a assistente social da Massachusetts Alliance for Portuguese Speakers, Kate Lessard, atende 150 vítimas brasileiras por ano.

Na época dos crimes, autoridades lebraram que a violência doméstica sempre deixa sinais que devem ser vistos como alertas, uma referência ao fato de que Bins já havia quebrado o computador de Carla na tentativa de impedi-la de contatar alguns amigos.

Carla de Souza e Jeremias Bins se conheceram nos EUA, começaram a namorar em 2004 e se casaram um ano depois. Ambos vieram de famílias humildes no Brasil.

Bins, um dos sete irmãos, é nascido no Espírito Santo mas mudou-se com a família para Santa Luzia do Oeste, em Rondônia, quando tinha apenas 6 anos. Bins abandonou a escola na sexta série ginasial e antes de migrar para os EUA em 2003, trabalhou na plantação de milho, feijão, arroz, e café da família.

Carla, a segunda mais velha entre oito irmãos, deixou Feira de Santana em 1998 e veio se juntar ao então marido Antonio Júnior nos EUA.

Nos momentos finais do julgamento, o advogado de defesa Earl Howard argumentou que os crimes não foram premeditados. Se Bins fosse condenado por assassinato em segundo grau, ainda assim ele seria condenado à prisão perpétua, mas após 15 anos poderia recorrer para cumprir o resto da pena em liberdade.

- Quero agradecer aos amigos que ligaram e manifestaram apoio a nossa família. No entanto, ninguém que representasse o templo religioso que a Carla freqüentava me procurou para saber do julgamento, desabafou Élvio Maia.

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