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Candidato presidencial democrata e ex-vice-presidente, Joe Biden| Foto: Olivier DOULIERYAFP

A campanha do democrata Joe Biden para as eleições presidenciais dos Estados Unidos, até agora, teve sorte acima de tudo, mas também foi inteligente – pelo menos inteligente o suficiente.

Sair de uma campanha praticamente morta no início do ano para conquistar a indicação do Partido Democrata, como Biden fez, e ainda rapidamente emergir como favorito na eleição presidencial de novembro é um percurso de sucesso que despertaria inveja de qualquer político americano.

É fácil considerar isso um mero acidente, dada a fraqueza dos oponentes de Biden. Primeiro ele enfrentou um socialista nas primárias democratas que tinha apoio limitado e agora vai enfrentar um presidente em exercício cuja popularidade diminuiu.

A equipe de Biden certamente não vai reescrever nenhum manual de campanha ou deslumbrar ninguém com seu brilhantismo, mas evitou erros graves e demonstrou uma compreensão das bases do cenário político e dos pontos fortes de seu candidato.

Eles não pediram a Biden que ele fizesse algo fora de sua zona de conforto ou além de suas capacidades. Se contentaram com que o presidente Donald Trump dominasse toda a atenção, desde que o republicano não esteja avançando em sua causa - e muitas vezes ele vem recuando, com todas as manchetes e tempo que aparece na TV.

Acima de tudo, a campanha de Biden evitou os excessos ideológicos mais politicamente perigosos. Isso exigiu alguma disciplina, dado o quão influente é o movimento de esquerda no Twitter.

A teoria de Biden sobre o Partido Democrata, mesmo que parecesse duvidosa no início, mostrou-se correta – de que o centro de gravidade do partido ainda estava com, como ele colocou, os democratas Obama-Biden, e não com os socialistas e os autodeclarados socialistas e justiceiros sociais.

Biden seguiu essa linha enquanto os demais candidatos seguiram o outro caminho. Pode parecer óbvio que endossar o "Medicare for All", que envolve remover o seguro de saúde privado de mais de 100 milhões de americanos, é tolo e politicamente indefensável, mas vários candidatos na corrida democrata o fizeram de qualquer maneira.

Biden evitou outras armadilhas desde que garantiu a indicação do Partido Democrata. Disse que não proibiria o fracking [método de extração de combustíveis criticado por ambientalistas, mas comum nos EUA], não endossou cortes de orçamento da polícia e defendeu as estátuas dos fundadores dos Estados Unidos.

Ele indiscutivelmente deslizou para a esquerda, mas este tem sido o seu modus operandi durante toda a sua carreira: ficar no meio de qualquer posição consensual do Partido Democrata a qualquer momento. Ele está concorrendo com uma plataforma mais à esquerda do que qualquer candidato democrata em algumas gerações, mas tentou amenizar isso o máximo possível.

Como uma questão geral, nada do que ele disse causou muita impressão de uma maneira ou de outra. Sua campanha sabe que se beneficia se a eleição for um referendo sobre Trump – e está agindo de acordo. Por outro lado, Trump deve saber que se a eleição for um referendo para ele, isso o prejudica - mesmo assim ainda persiste em levar esse referendo adiante.

Por que Biden deve tentar tirar o microfone de Trump se o presidente o está usando para brigar com o piloto Bubba Wallace e Dr. Anthony Fauci (chefe do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas dos EUA, cuja popularidade é maior do que a de Trump)?

Essas divergências em nada prejudicam Biden e ainda servem para validar as alegações do ex-vice-presidente de que o país precisa de um retorno à normalidade.

Nada decidido

Mesmo assim, uma eleição não é decidida em julho. Os ventos a favor de Trump no início deste ano se transformaram uma tempestade para o presidente. Algo imprevisível pode mudar a dinâmica mais uma vez, e melhores condições econômicas podem melhorar a atmosfera geral.

O histórico e a agenda de Biden dão alvos a Trump, e o republicano obviamente deve aproveitar todas as oportunidades para, na medida do possível, falar sobre o radicalismo do Partido Democrata.

Portanto, Trump não pode ser contado. Mas a campanha de Biden é esperta o suficiente para não facilitar as coisas para ele.

Finalmente, há o fato de que Biden é um ator instável, na melhor das hipóteses. As restrições à Covid-19 o livraram dos rigores da típica campanha presidencial, mas ele terá que emergir para participar de um debate ou debates no outono, e ninguém pode descartar algum fracasso catastrófico.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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