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O candidato da oposição no segundo turno das eleições afegãs, Abdullah Abdullah, anunciou neste domingo (1º) que se retirou do pleito seis dias antes de serem realizados, concedendo efetivamente vitória ao presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, e levantando dúvidas quanto à credibilidade do governo, em um momento em que os Estados Unidos estão ansiosos por um parceiro na luta contra o Taleban.

Ex-ministro das Relações Exteriores de Karzai, Abdullah, afirmou que a decisão foi tomada após Karzai negar sua demanda por mudanças na Comissão Eleitoral Independente e por outras medidas que, acredita, evitariam fraudes, as quais prejudicaram o primeiro turno, em 20 de agosto. Abdullah negou que sua decisão fosse um pedido de boicote das eleições e aconselhou seus seguidores a "não irem para as ruas e para não fazerem protestos".

Azizullah Lodin, o chefe da comissão indicado por Karzai, afirmou que teria de consultar advogados constitucionais antes de decidir se haverá o segundo turno sem Abdullah.

Um cenário eleitoral nebuloso complica a decisão da administração Obama para de enviar mais 10 mil soldados para o Afeganistão para enfrentar o Talean e seus aliados do Al-Qaeda. A Casa Branca aguarda uma solução sobre o pleito desde agosto, mas nesse ínterim a guerra no país intensificou-se. Outubro foi o mês com o maior número de baixas no exército norte-americano desde a chegada das forças norte-americanas no Afeganistão, em 2001. Em outubro, 57 soldados norte-americanos morreram.

Antes do anúncio de Abdullah, a secretária de Estados dos EUA, Hillary Clinton, minimizou a perspectiva de abandono do pleito por Abdullah, dizendo que ele não questionaria a legitimidade da eleições. "Não acredito que tenha a ver com a legitimidade da eleição" disse Hillary em entrevista. "É uma escolha pessoal que pode ou não pode ser feita".

No entanto, o contencioso processo eleitoral, marcado por uma grande fraude nas eleições de 20 de agosto, dividiu grupos contrários ao Taleban em um momento em que os Estados Unidos e seus aliados pressionam pela união diante do fortalecimento insurgente.

Autoridades norte-americanas insistiram para que Karzai concordasse com um segundo turno depois que auditores das Nações Unidas anularam cerca de um terço de seus votos do resultado de agosto, citando fraude. O porta-voz da campanha de Karzai, Waheed Omar, disse ser um pena que Abdullah tenha deixado de concorrer no segundo turno, mas que o pleito do próximo sábado será mantido. "Acreditamos que as eleições têm de ocorrer, o processo tem de ser concluído, o povo do Afeganistão tem de ter direito ao voto", afirmou Omar.

Em discurso emocionado, Abdullah afirmou a seus seguidores que a comissão eleitoral indicada por Karzai tramou uma grande fraude no primeiro turno e que seu pedido para substituição dos líderes da comissão foi rejeitada. "Não participarei das eleições em 7 de novembro", afirmou Abdullah, porque "não será possível a realização de eleições transparentes".

Perguntado por repórteres se estava convocando um boicote às eleições, Abdullah respondeu: "não fiz tal pedido". Abdullah também não mencionou se tomaria parte em qualquer coalizão futura de governo com Karzai, condição que os EUA e os parceiros internacionais do Afeganistão consideram a melhor saída para evitar o fortalecimento do Taleban.

Ao contrário, Abdullah disse que o governo da Karzai não foi legitimado desde que seu mandato expirou em maio. A Corte Suprema, indicada por Karzai, estendeu seu mandato após o impasse do pleito de agosto. "Em uma hora, todas as minhas condições poderiam ter sido implementadas. Infelizmente, eles estão esperando até o último momento, mas ouvimos que rejeitaram nosso apelo", disse Abdullah.

Segundo ele, o povo do Afeganistão "tem o direito" à uma eleição livre e justa, mas a última tentativa foi um fracasso. Autoridades da administração Obama disseram ser simpáticos a um acordo de divisão de poder para evitar as eleições. Mas Abdullah decidiu sair da disputa após as conversações terem sido rompidas na quinta-feira, segundo duas pessoas próximas às negociações.

Durante as negociações Abdullah pediu a retirada de três autoridades da comissão eleitoral, a suspensão de três membros do gabinete e mudanças constitucionais para conceder-lhe o direito de opinião na indicação dos ministros e em qualquer grande decisão política, segundo uma fonte próxima à campanha de Karzai. O presidente afegão discordou das condições. As informações são da Associated Press.

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