Perfil
Eleito fez alianças com elite do país
Michel Martelly, de 50 anos, é um carismático cantor de kompa o ritmo mais popular do Haiti, que lembra a lambada e costumava subir ao palco sem papas na língua, mesmo para criticar políticos tradicionais.
Foi explorando essa imagem de "outsider", que o Tèt Kale (careca) comandou a mais profissional e azeitada campanha à Presidência, arrebatando os jovens.
O cantor se define como de centro-direita e, na campanha, se aproximou da elite tradicional haitiana e de novos grupos de poder estrangeiros, como a gigante da telefonia de capital irlandês, Digicel.
O estilo desbocado e por vezes agressivo atrai tantas críticas como seus supostos laços com setores do duvalierismo.
Entre as suas propostas mais polêmicas está a reativação das Forças Armadas haitianas.
Caracas - A Comissão Eleitoral do Haiti afirmou ontem que o cantor popular Michel Martelly foi eleito o novo presidente do país, com 67,5% dos votos. Ele derrotou a ex-primeira-dama Mirlande Manigat, que ficou com 31,74%.
De acordo com a legislação haitiana, porém, os resultados ainda poderão ser contestados nos próximos dias. Apenas no dia 16 de abril os números finais serão proclamados. É possível que isso aconteça, pois a Manigat denunciou ontem que a cúpula do Conselho Eleitoral Provisório (CEP) do país teria atuado para favorecer Martelly.
A posse do novo mandatário deve acontecer antes de 14 de maio, quando acaba a prorrogação do mandato do atual presidente do país, René Préval. Se tudo correr bem, será a primeira vez em 206 anos que o Haiti terá uma transição democrática com alternância de grupo de poder.
Suspeitas
Segundo o próprio conselho eleitoral, foram encontrados vestígios de fraude em cerca de 15% das atas eleitorais computadas no segundo turno, em 20 de março.
Ainda assim, a avaliação do CEP e de organismos de observação como a missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Comunidade do Caribe (Caricom) era a de que a votação foi menos caótica e vulnerável a fraudes que o primeiro turno, em novembro.
ONU
A eleição do novo presidente, num país que apenas começa a reconstrução após o terremoto de 2010, foi chancelada pela forças da ONU, no Haiti desde 2004. O Brasil comanda militarmente a missão. Além do presidente, o Haiti escolheu 1/3 do Senado e renovou a sua Câmara dos Deputados.
O novo presidente também terá de lidar com um fato novo no cenário político. A volta ao país do ex-presidente Jean Bertrand Aristide.
O político esquerdista, eleito e deposto duas vezes, retornou ao Haiti no dia 18 após sete anos de exílio na África do Sul. Aristide optou, porém, por ser discreto. Limitou-se a reclamar da exclusão formal do seu Família Lavalas da disputa.
Votação
O primeiro turno das eleições haitianas foi caótico, dominado por acusações de fraude e por tumultos. Forças da ONU patrulharam a capital, Porto Príncipe, e outros locais mais conflitivos por todo o Haiti, que ainda se recupera do terremoto devastador que sofreu no ano passado. No segundo turno, porém, a votação foi mais tranquila.
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