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Repressão

Cartunista sírio tem as mãos quebradas como “advertência”

Caricatura de Ali Ferzat, publicada nesta semana, mostra Assad com uma mala pedindo carona para Kadafi em fuga

Ali Ferzat no hospital após ter as mãos quebradas por homens mascarados, em Damasco | AFP
Ali Ferzat no hospital após ter as mãos quebradas por homens mascarados, em Damasco (Foto: AFP)

Ali Ferzat, um renomado cartunista político, cujos desenhos ex­­pressam as expectativas frustradas dos sírios por mudanças, foi atacado depois de deixar seu estúdio na manhã de ontem e espancado por homens mascarados, que quebraram suas mãos e o jo­­garam numa estrada nas proximidades de Damasco.

Ferzat, de 60 anos, conquistou o reconhecimento internacional e o respeito de muitos árabes com suas caricaturas mordazes que en­­fureceram ditadores, dentre eles o iraquiano Saddam Hussein, o líbio Muamar Kadafi e, particularmente nos últimos meses, a autocrática família Assad.

Na noite de ontem, ele estava numa cama de hospital, bastante machucado e com as mãos engessadas, um cruel lembrete que ne­­nhum sírio está imune à brutal repressão do governo. Um parente do cartunista relatou à Associa­­ted Press que Ferzat disse que en­­quanto os homens o espancavam, alertaram que "isto é apenas uma advertência". "Vamos quebrar suas mãos para que você pare de desenhar", disseram os homens, se­­gundo o parente, que falou em condição de anonimato, temendo retaliações.

Apoio e perseguição

Antes de herdar a Presidência de seu pai em 2000, Bashar Assad, oftalmologista formado na Grã-Bretanha, costumava visitar as exposições de Ferzat com palavras encorajadoras.

Quando o novo presidente abriu a Síria para algumas reformas, Ferzat recebeu permissão para publicar o primeiro jornal particular no país em décadas, um semanário satírico chamado "O Acendedor". O jornal foi um sucesso instantâneo e os exemplares se esgotavam horas depois que chegarem às bancas. Mas foi logo fechado, quando Assad começou a reprimir dissidentes e encarcerar críticos após o fim do breve pe­­ríodo conhecido como Primavera de Damasco.

Ferzat se tornou um veemente crítico do regime, particularmente depois de o Exército ter lançado uma repressão brutal contra os manifestantes que pedem democracia. Ele fez caricaturas sobre o levante contra o governo de Assad e postou as ilustrações em seu site, proporcionando um certo alento a seus fãs que não conseguiam mais seguir seu trabalho em jornais locais, que não publicam seus desenhos.

Ironia a ditadores

Seu trabalho ficou mais ousado nos últimos meses e alguns de seus desenhos criticaram Assad diretamente, embora caricaturas do presidente sejam proibidas na Síria. A caricatura publicada por ele nesta semana mostra Assad com uma mala pronta pedindo carona a um Kadafi em fuga. Ou­­tro desenho mostra os ditadores andando ao longo de um tapete vermelho que os leva a uma lixeira. A resposta veio ra­­pidamente.

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