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Peritos investigam cena de crime em Barranquilla, onde seis pessoas foram assassinadas no início desta semana
Peritos investigam cena de crime em Barranquilla, onde seis pessoas foram assassinadas no início desta semana| Foto: EFE/El Heraldo

Desde a posse em 7 de agosto do presidente Gustavo Petro, o primeiro mandatário de esquerda da história da Colômbia, o país vive uma onda de violência, com chacinas, roubos em massa e uma insegurança que atinge tanto as cidades quanto o campo.

Segundo analistas, a diferença deste momento de grande violência para outros que ocorreram na história colombiana é que no atual os massacres não estão ocorrendo apenas nas áreas rurais, como é característico do conflito armado que assola o país desde a década de 1960, mas também nos centros urbanos.

Entre o último sábado e segunda-feira (12), duas chacinas na cidade caribenha de Barranquilla e no município de Landázuri, no departamento de Santander (nordeste), deixaram 14 mortos. Nesta última cidade, um professor, sua esposa e seus dois filhos foram assassinados em sua própria casa por criminosos, dos quais quatro foram linchados por vizinhos das vítimas.

Ao todo, ocorreram 14 chacinas em pouco mais de um mês na Colômbia, além de múltiplos roubos.

Em Bogotá, as autoridades encontraram no fim de semana os corpos de três mulheres, duas no sul da cidade e uma no norte, aos quais se somaram os assaltos em massa na área turística de Park Way e os incêndios criminosos em duas delegacias de polícia.

Também foram encontrados na capital nos últimos meses 23 corpos desmembrados em sacos plásticos, violência atribuída a disputas pelo controle do tráfico de drogas. A prefeitura de Bogotá, que anunciou na semana passada a criação de um “grupo contra o multicrime” para combater a insegurança na cidade, informou que uma das quadrilhas envolvidas nesses crimes é o Tren de Aragua, da Venezuela.

No início de setembro, oito policiais foram assassinados em uma emboscada ocorrida em uma área rural do departamento de Huila, no sudoeste do país.

Para Fernando Rojas Parra, que foi professor de políticas públicas na Universidade Javeriana e na Universidade de Rosário, a primeira coisa que o governo Petro deve fazer para lidar com o problema da violência desenfreada é “definir qual é a política de segurança urbana”.

O pesquisador citou o caso do Tren de Aragua, lembrando que esse grupo não chegou recentemente a Bogotá; pelo contrário, passou anos “competindo com outras organizações que já existem na Colômbia”. Ou seja, o Estado não foi surpreendido: faltou competência para combater a quadrilha.

“Bogotá é um lugar onde há dinheiro, onde há comércio, onde uma organização pode realmente competir pelo controle econômico e por uma renda gigantesca que não passa apenas pelo tráfico de drogas, terras, extorsão. Bogotá é um mercado muito importante para o país. Então aqui falhou a inteligência, falhou a Justiça e falhou a articulação entre o governo nacional e o governo local”, lamentou Rojas.

Estratégias criticadas

Embora Petro não tenha definido uma diretriz clara de segurança pública, os movimentos que ele tem sinalizado nas políticas para essa área e em defesa têm gerado críticas. Eles incluem a remoção de pelo menos 70 generais e coronéis do Exército e da Polícia Nacional, limites nos bombardeios contra grupos guerrilheiros e uma reforma do Esquadrão Móvel de Choque da Polícia (Esmad), responsável pela contenção de protestos.

Alegando que a guerra às drogas não deu certo, a coalizão de Petro, o Pacto Histórico, cogita a legalização de entorpecentes no país para supostamente contornar a violência do narcotráfico, e o governo anunciou a suspensão da fumigação aérea em cultivos ilícitos e o estímulo à substituição voluntária dessas culturas.

“Hoje nadamos em drogas, mas o que virá com essa decisão [fim da erradicação forçada de cultivos ilícitos] será um tsunami de drogas que afogará a Colômbia em mais violência. Estamos indo na direção errada”, escreveu no Twitter o opositor Federico “Fico” Gutiérrez, um dos adversários derrotados pelo esquerdista na eleição presidencial deste ano.

A gestão Petro também quer acordos de paz com grupos guerrilheiros, como o Exército de Libertação Nacional (ELN). “Estamos repetidamente pedindo aos atores violentos que aceitem nossa proposta de Paz Total. Como colombianos, precisamos parar de matar uns aos outros, precisamos que a vida prevaleça, precisamos viver em paz depois de décadas e décadas de violência”, afirmou Petro na semana passada, em uma carta enviada a um ativista que manifestou preocupação com a violência enfrentada pela cidade portuária de Buenaventura.

Alejo Vargas, especialista em segurança e violência, disse à BBC que a ideia de “segurança humana” é positiva, mas o governo colombiano não pode deixar de dar uma resposta rápida e incisiva ao aumento da criminalidade.

“A primeira parte do governo deve estar focada na segurança integral que inclua a segurança pública nas regiões [conflagradas], porque se não houver uma resposta contundente do Estado e da sociedade rechaçando a violência contra a polícia, vamos continuar na lógica comum desses grupos de testar o governo para ver como ele reage”, alertou.

Após o grupo Movimento Revolucionário do Povo (MRP), acusado de um atentado em um shopping em Bogotá que matou três pessoas e deixou outras nove feridas em 2017, mandar uma mensagem a Petro propondo também um acordo de paz, o especialista em segurança Jorge Mantilla questionou no Twitter a abertura do governo para negociar com grupos armados.

“Eles [MRP] têm controle territorial? Eles têm capacidade para realizar operações militares? Eles têm uma estrutura de comando reconhecida? As mensagens contraditórias do próprio governo e a confusão de critérios vão acabar desmantelando a Paz Total”, escreveu. (Com informações da Agência Efe)

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