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Barcos navegam durante fortes ventos e chuvas causados pelo tufão In-Fa em Shanghai, China, 27 de julho
Barcos navegam durante fortes ventos e chuvas causados pelo tufão In-Fa em Shanghai, China, 27 de julho| Foto: EFE/Alex Plavevski

Na China, celebridades, artistas e figuras públicas sofrem pressão para não desviar da "conduta moral", conforme a definição do Partido Comunista, e correm o risco de cair em uma lista negra, sendo banidos da indústria cultural - o que tem sido descrito como uma "cultura do cancelamento" chinesa.

Um caso que ganhou as atenções recentemente é o do cantor canadense-chinês Kris Wu, uma estrela da música pop que foi detido na semana passada pela polícia em Pequim acusado de estupro, em um caso que acendeu um movimento similar ao #MeToo na China. Quando as acusações de assédio contra Wu surgiram, as autoridades de Pequim aproveitaram para reforçar que nem celebridades, nem estrangeiros e nem alguém com uma grande base de fãs está livre dos braços da lei. A mídia estatal também não deixou de mandar o seu recado contra a obsessão com celebridades, que é mal vista pelo regime.

O cantor teve a sua conta banida no Weibo, o Twitter chinês, e suas músicas desapareceram das plataformas chinesas. Ele também perdeu contratos de publicidade com um grande número de marcas de luxo, como Louis Vuitton e Bulgari.

O incidente também serviu para o Partido Comunista da China reforçar o seu ideal de moralidade, que tem sido especialmente promovido no momento em que o partido celebra o seu centenário, ao lado da visão de governança de Xi Jinping. "A lei é a moralidade escrita, enquanto a moralidade é a lei consciente", já declarou o líder chinês.

O escândalo de Kris Wu envolve acusações graves de assédio sexual, que ainda não foram julgadas. No entanto, artistas que cometeram infrações menores foram banidos da mídia estatal chinesa e tiveram suas carreiras interrompidas.

No começo do ano, o "maior influencer" chinês de 2020, Ding Zhen, de 20 e poucos anos, sofreu uma crise de imagem após aparecer em um vídeo fumando um cigarro eletrônico. Há alguns anos, a televisão estatal chinesa proibiu a aparição de pessoas com tatuagens ou da cultura do hip hop, descrevendo-as como "de mau gosto, vulgares e obscenas". No ano passado, o cantor Show Lo foi banido na China após um escândalo de infidelidade.

Artistas não podem dublar e devem “amar a pátria”

Em fevereiro deste ano, a China publicou uma lista de exigências e proibições a artistas, que passaram a estar sujeitos a punições que incluem o banimento da indústria do entretenimento caso as regras sejam desobedecidas.

A regulamentação foi emitida pela Associação de Artes Performáticas da China, um órgão ligado ao Estado, e formalizou regras do Partido Comunista que já eram implícitas e que já vinham afastando artistas do mercado de música, filmes e outros.

Entre as exigências – que têm palavreado vago e acabam ficando sujeitas a interpretações – estão regras políticas e técnicas. Os artistas não podem fazer mudanças não autorizadas em conteúdos que já passaram pelo crivo da censura chinesa e não podem usar "playback" (dublar as canções) em apresentações, por exemplo.

O regulamento deixa claro para o artista que quiser prosperar na China que ele terá que estar alinhado ao Partido Comunista. Cantores, músicos, dançarinos, atores de teatro, televisão e cinema, comediantes, acrobatas e outros devem seguir o código moral e de "auto-disciplina".

Os artistas devem "amar ardentemente a pátria, apoiar a linha, princípios e políticas do Partido", além de aceitar a supervisão do governo e da sociedade. Eles também devem "usar a literatura e a arte para servir ao povo e ao socialismo", obedecendo aos padrões da era Xi Jinping.

A publicação das normas ressalta a importância da "moralidade" e do alinhamento ao Partido Comunista para o futuro da carreira dos artistas.

De acordo com as regras, os artistas serão punidos se violarem a constituição chinesa, e ficam proibidos de "colocar em risco a segurança nacional, a honra e a integridade territorial da China; incitar o ódio e a discriminação étnica; envolver-se em cultos e superstições; envolver-se em atos criminosos como pornografia, jogos, violência, terrorismo ou drogas; dirigir sob o efeito de álcool; colocar em perigo a moralidade social ou prejudicar as tradições culturais da China; fazer dublagens durante performances comerciais; fazer declarações ou espalhar informação falsa em tentativa de quebrar a lei, perturbar a ordem pública ou distorcer a história; violar de forma maliciosa ou deixar de fazer uma performance conforme contrato; e insultar ou difamar os outros".

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