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Manifestante sul-coreano queima bandeira da Coreia do Norte durante protesto em Seul | Jung Yeon-Je/AFP
Manifestante sul-coreano queima bandeira da Coreia do Norte durante protesto em Seul| Foto: Jung Yeon-Je/AFP

Entrevista

"Há possibilidade de o conflito coreano se tornar uma guerra de grandes proporções"

Heni Ozi Cukier, cientista político, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e especialista em resolução de conflitos internacionais

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  • Veja infográfico com os objetivos da Coreia do Norte, segundo analistas

Pequim - Quando a Coreia do Norte promoveu o teste de um artefato nu­­clear no ano passado, a China emitiu uma branda crítica e pediu a Pyongyang que regressasse à senda da diplomacia. Depois, quando um navio da Marinha da Coreia do Sul foi afundado, mais provavelmente por um torpedo norte-coreano, Pequim manifestou solidariedade a Seul, mas ressalvou que as evidências eram inconclusivas.

Agora a Coreia do Norte disparou uma salva de artilharia contra uma ilha sul-coreana na qual quatro pessoas morreram, sendo dois militares e dois civis, acentuando a tensão em uma região já extremamente armada, mas a China parece mais uma vez reticente quanto a enquadrar seu vizinho e aliado.

Em meio ao aumento do poder e da influência internacional da China, sua tolerância com o comportamento instável do governo da Coreia do Norte expõe a visão de Pequim sobre as diferentes partes do mundo, e em especial sobre seu próprio canto.

"Não há a menor chance de a China, seja aberta ou discretamente, aumentar substancialmente a pressão sobre a Coreia do Norte", avalia Shi Yinhong, professor de relações internacionais da Uni­­versidade Renmin, em Pequim.

Por sua condição de mais importante aliado diplomático da Coreia do Norte e pelo fato de fornecer ajuda alimentar e energética ao vizinho menor, a China possui o tipo de influência que poderia colocar nos eixos o pequeno e isolado país comunista.

Entretanto, a prioridade de Pe­­quim é manter a região estável o bastante para dar continuidade a sua trajetória de ascendente. Se, pa­­ra manter essa estabilidade, for pre­­ciso lidar ocasionalmente com provocações norte-coreanas, ob­­servam especialistas, que assim seja.

A China tem motivos de sobra para se preocupar caso a tênue paz vigente se acabe. Calcula-se que o país tenha perdido em torno de 400.000 soldados durante a Guerra da Coreia (1950-1953). Um novo conflito ou a queda do governo em Pyongyang poderia mandar centenas de milhares de norte-coreanos para seu lado da fronteira, aumentando o fardo sobre províncias chinesas que somente nos últimos anos conseguiram se recuperar dos duros efeitos da reestruturação da economia planificada. Além disso, uma vitória da Coreia do Sul em uma eventual guerra deixaria em seus calcanhares um aliado dos Estados Unidos onde há forças norte-americanas estacionadas.

Reação tímida

Desde a terça-feira, quando ocorreu a ação militar norte-americana, Pequim reagiu timidamente. Em sua primeira declaração por escrito ao incidente, o Ministério das Relações Exteriores da China manifestou pesar pela perda de vidas e conclamou as partes a evitarem a escalada e retomarem o diálogo

A proteção chinesa à Coreia do Norte às vezes parece tão pouco razoável que alimenta dúvidas nos governos do Japão, do Vietnã e de outros países envolvidos em acaloradas disputas territoriais com Pequim nos Mares do Leste e do Sul da China.

A forma como Pequim mantém o apoio a Pyongyang tem alimentado críticas até mesmo dentro da China. Integrantes do governo e especialistas sabem dos riscos e consideram que a margem de manobra de Pequim seja limitada.

"Mesmo que a China tentasse dizer à Coreia do Norte o que fazer, é improvável que a mensagem será ouvida com facilidade", acredita Gong Keyu, vice-diretor do Centro de Pesquisas Ásia-Pacífico do Instituto de Estudos Inter­­na­­cionais de Xangai.

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