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Médicos chineses coletam amostras para teste de coronavírus| Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP

A China atrasou o compartilhamento do mapa genético do novo coronavírus nos primeiros dias da epidemia de Covid-19, apesar de, na época, ter sido aplaudida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) por ter divulgado a informação “imediatamente”, revelou a Associated Press nesta terça-feira (2). Documentos obtidos pela agência de notícias mostraram que controles rígidos sobre as informações e a concorrência entre cientistas no sistema de saúde pública chinês contribuíram para o atraso da divulgação.

Segundo a reportagem, três laboratórios chineses já haviam decodificado o código genético do vírus pelo menos uma semana antes de o governo central da China compartilhar a informação, crucial para o combate ao coronavírus. Pequim também não repassou à OMS dados detalhados sobre casos de coronavírus no país, segundo relatórios de reuniões da organização, que foi deixada no escuro durante os primeiros dias da epidemia.

No início de janeiro, membros da OMS reclamaram que não estavam conseguindo dados suficientes sobre o coronavírus que os permitissem avaliar a eficácia com que o vírus se espalha entre as pessoas ou qual o risco da doença para o resto do mundo, o que custou um tempo valioso no combate à propagação do vírus e até no desenvolvimento de testes, medicamentos e vacinas.

Segundo a reportagem, elogiar a colaboração do governo da China foi provavelmente uma maneira encontrada pela organização de saúde para conseguir mais informações sobre o vírus, já que o órgão multilateral não tem qualquer poder executivo sobre os países-membros e depende apenas da boa vontade de cooperação.

Na segunda semana de janeiro, o chefe de emergências da OMS, Dr. Michael Ryan, disse que temia uma repetição da epidemia de Sars, em 2002, que começou na China e matou quase 800 pessoas em todo o mundo. Naquela ocasião, o governo chinês foi amplamente criticado pela comunidade internacional pela falta de transparência e atraso na divulgação de informações sobre o vírus.

"Este é exatamente o mesmo cenário, tentando incessantemente receber atualizações da China sobre o que estava acontecendo", disse Ryan, de acordo com documentos obtidos pela Associated Press. "A OMS mal saiu dessa com o pescoço intacto, dados os problemas que surgiram em torno da transparência no sul da China". Segundo ele, a melhor maneira de “proteger a China" contra o coronavírus era que a OMS conduzisse sua própria investigação sobre o novo vírus com base no que o governo chinês havia repassado a eles até aquele momento. Ryan também disse que a ocultação de informações por parte de Pequim não ocorreu durante a epidemia de ebola no Congo e em outros lugares.

Segundo a reportagem da AP, o genoma do novo coronavírus foi identificado pela primeira vez por um laboratório chinês em 2 de janeiro. Cientistas reconhecem que o sequenciamento genético de foi feito em uma velocidade surpreendente. Mas o governo chinês ordenou no dia seguinte que todos os laboratórios deveriam destruir suas amostras do coronavírus ou enviá-las a institutos designados por razões de segurança. Também proibiu que os laboratórios publicassem informações sobre o vírus sem a autorização do governo.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) da China decodificou o mapa genético do vírus em 3 de janeiro, mas segundo reportagem da AP, estava tendo dificuldades em identificar o vírus devido à falta de especialistas em coronavírus na equipe. Apesar disso, o governo chinês não aceitou ajuda estrangeira e nem de cientistas de Hong Kong. Em 5 de janeiro, outro laboratório chinês sequenciou o Sars-CoV-2 e disse que o vírus poderia ser "contagioso através de passagens respiratórias".

Mas essa informação não chegou à OMS. No mesmo dia a organização informou que não havia evidência de que o vírus era transmitido entre humanos. Uma linha do tempo sobre a pandemia, no site da OMS, mostra que a China compartilhou a sequência genética do vírus em 12 de janeiro, depois que o Wall Street Journal havia publicado uma reportagem sobre a descoberta de um novo coronavírus em Wuhan e depois que um cientista de Shangai chamado Zhang Yongzhen já tinha publicado um artigo com o mapa genético.

A confirmação de que o vírus era transmitido entre humanos só veio em 22 de janeiro. Na época, um caso do novo coronavírus já tinha sido identificado na Tailândia.

O governo da China negou que tenha atrasado de forma proposital a entrega de informações à OMS sobre o novo coronavírus.

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