Política externa deve ganhar tom multilateral
Além de encarnar a esperança de milhões de norte-americanos que não querem perder o emprego, Barack Obama também é alvo de expectativa além das fronteiras dos Estados Unidos.
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Madeleine Bunting, do Guardian*
Blog: Conteúdo extra na Gazeta Online
O Especial "Posse Barack Obama" foi criado pela equipe da Gazeta do Povo Online.
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Washington - Ao trabalhar nos preparativos finais para a sua posse, na próxima terça-feira, o presidente eleito Barack Obama concluiu, em intensivas reuniões com a sua equipe, que a situação mudou para pior desde as vésperas do dia 4 de novembro, quando foi eleito. Assessores dizem que no período de transição, entre a vitória eleitoral e a posse, houve "um choque de realidade". E ele é definido numa frase: a expectativa é que a presidência de Obama deverá ser menos modelada pelas questões discutidas ao longo da campanha eleitoral, e muito mais pelos problemas que ele está herdando.
O período de transição mostrou à sua equipe que o buraco, na verdade, é maior do que o imaginado. Por isso mesmo, a maior preocupação de Obama em sua primeira mensagem à nação e ao mundo, um minuto depois de seu juramento como presidente, será a de exibir uma clara busca de equilíbrio entre a descrição da profundidade da crise econômico-financeira dos EUA e a infusão de esperança de que não há mal que nunca acabe mas que, para isso, será preciso trabalho árduo e sacrifício de todos.
Não é à toa, portanto, que Obama tenha passado as últimas semanas lendo o livro The Defining Moment (O momento de definição), de Jonathan Alter. Trata-se de um estudo sobre como o presidente Franklin D. Roosevelt, em plena Grande Depressão, tratou de informar detalhadamente o povo americano sobre aquela crise, e ao mesmo tempo garantir que o governo tinha em mãos um plano capaz de fazer o país dar a volta por cima.
Obama terá de redobrar seu notável poder de oratória e persuasão no primeiro discurso como presidente, ao anunciar as bases de seus quatro anos de governo dosando as más notícias com as iniciativas planejadas para, pelo menos, cicatrizar as feridas.
Dias atrás, em sua despedida formal à nação, o presidente George W. Bush ressaltou que o maior desafio de Obama será o terrorismo internacional. Este, porém, está mais preocupado com uma tarefa mais urgente: evitar uma total implosão financeira doméstica.
A questão é que, ao esmiuçar as finanças do governo, ele se deu conta de que o problema mais angustiante o déficit orçamentário é, na verdade, dez vezes mais extenso do que imaginava. Ou seja: o déficit recorde de US$ 1,2 trilhão previsto para este ano (equivalente a 8% do produto interno bruto) deverá se repetir anualmente ao longo de uma década.
Essa projeção acaba de ser feita por Peter Orszag, que será o chefe do Escritório de Gestão e Orçamento, da Casa Branca: "O desafio mais premente a curto prazo é dar um impulso na economia para que ela saia da maior crise que já tivemos desde a Grande Depressão. Mas o desafio-chave a longo prazo será colocar o orçamento numa trilha mais sustentável", disse Orszag.
Discurso
O discurso da posse vai conter, sobretudo, uma mensagem subliminar aos americanos. A de que será preciso uma mudança de cultura, que faça valer daqui por diante um antigo conceito: o de que o trabalho árduo e a responsabilidade passem a ser recompensados.
O mais espinhoso para Obama, ao dar esse recado à nação, será convencer os americanos de que para apagar um incêndio ele terá que, primeiro, aumentá-lo. Isto é: embora o déficit previsto para este ano seja de US$ 1,2 trilhão ele terá de ampliá-lo, injetando pouco mais de US$ 800 bilhões apenas em 2009. Pois sua equipe acredita que só mesmo usando essa espécie de cheque especial ele conseguirá tirar a economia de seu estado de estagnação e, mais adiante, utilizar os rendimentos desse impulso para ir, aos poucos, neutralizando o saldo negativo.
O trabalho mais delicado, politicamente, será o de dizer ao público que a volta à normalidade só acontecerá daqui a oito ou dez anos. "Muita coisa vai depender do discurso de posse. Se Obama for capaz de, ao mesmo tempo, instilar a confiança do povo no governo e nele mesmo, durante esse discurso, e se for capaz de implementar uma série de iniciativas que pareçam tão ousadas quanto promissoras, ele conseguirá o êxito alcançado por Roosevelt (na época da Grande Depressão)", previu William Leuchtenburg, professor emérito de História da Universidade da Carolina do Norte e autor de vários livros sobre Roosevelt.
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