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Mercado fechado na cidade de Wuhan, na província de Hubei: outro animal, além do morcego, pode ter transmitido o coronavírus.
Mercado fechado na cidade de Wuhan, na província de Hubei: outro animal, além do morcego, pode ter transmitido o coronavírus.| Foto: Noel Celis / AFP

Artigo publicado na edição de sexta-feira (31) do periódico científico Lancet, uma das mais importantes revistas de medicina do mundo, defende que não foram morcegos os transmissores dos primeiros casos de coronavírus na China. A partir da caracterização genômica e epidemiológica do vírus, um grupo de 32 pesquisadores, quase todos chineses, aponta que outro animal selvagem comercializado no mercado de frutos do mar na cidade de Wuhan deve ter sido o hospedeiro intermediário entre morcegos e humanos.

Os pesquisadores estão, em sua grande maioria, ligados a instituições de pesquisa chinesas. Eles fizeram o sequenciamento de última geração de amostras do líquido de lavado broncoalveolar de nove pacientes internados, oito dos quais haviam visitado o mercado de frutos do mar Huanan, em Wuhan. Nas conclusões, eles dizem que apesar da importância dos morcegos – o novo coronavírus (2019-nCoV) é mais próximo às cepas de coronavírus derivadas de morcego do que outros coronavírus humanos, como o que causou o surto de SARS (Síndrome Aguda Respiratória Grave) em 2003 –, há outro animal na cadeia transmissora.

Em primeiro lugar, o artigo cita que o surto teve início em dezembro de 2019, mas nesta época a maioria dos morcegos em Wuhan hiberna. Segundo: nenhum morcego foi vendido ou encontrado no mercado de frutos do mar de Huanan – havia sim outros animais não aquáticos, incluindo mamíferos, disponíveis para compra. Outro fato é que a identidade da sequência genética entre o novo coronavírus e as cepas de coronavírus derivadas de morcego (bat-SL-CoVZC45 e bat-SL-CoVZXC21) é inferior a 90%. Ou seja: os vírus oriundos de morcegos não são ancestrais ​​diretos de 2019-nCoV. Em quarto lugar, outros coronavírus causadores de surtos no passado, como a SARS e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), identificada em 2012, tinham o morcego como reservatório natural, mas com outro mamífero agindo como hospedeiro intermediário, com humanos como hospedeiros terminais (civeta de palmeira mascarada no caso da SARS e dromedários para a MERS).

“Portanto, com base nos dados atuais, parece provável que o 2019-nCoV causando o surto de Wuhan pode também ter sido hospedado inicialmente por morcegos e pode ter sido transmitido aos seres humanos através de um animal selvagem (s) ainda desconhecido, vendido no mercado de frutos do mar de Huanan”, concluem os pesquisadores.

Na análise epidemiológica, o artigo destaca que oito dos nove pacientes analisados tinham um histórico de exposição ao mercado de frutos do mar Huanan, o que levou à suspeita de que o local era fonte de infecção. Entretanto, um dos pacientes nunca esteve no mercado, mas esteve em um hotel nas proximidades antes do início da doença deles. Isso poderia indicar tanto a contaminação entre humanos – como posteriormente confirmada – mas também poderia indicar infecção por uma fonte desconhecida, dizem os autores.

A pesquisa foi financiada por instituições e programas de pesquisa e desenvolvimento da China e publicada no Lancet, com conteúdo aberto à comunidade. O periódico criou um Centro de Pesquisa do Coronavírus, com acesso grátis a todos, de modo a auxiliar trabalhadores da área de saúde e demais pesquisadores.

Situação atual

Segundo o painel de situação do coronavírus da Organização Mundial de Saúde (OMS), até as 10 horas deste sábado (1º) foram confirmados 11.953 casos em todo o mundo, dos quais 11.821 na China, com 259 mortes. No total, vinte e quatro países já registraram a doença: além da China, Tailândia, Japão, Cingapura, Austrália, Coreia do Sul, Malásia, Alemanha, Estados Unidos, Vietnã, França, Canadá, Emirados Árabes Unidos, Itália, Rússia, Reino Unido, Espanha, Suécia, Sri Lanka, Nepal, Filipinas, Índia, Camboja e Finlândia.

* Leia a pesquisa:

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