A supremacia do camundongo como principal instrumento da pesquisa genética pode estar chegando ao fim. Após vários anos de tentativas frustradas, pesquisadores americanos, britânicos e chineses conseguiram vencer um dos maiores desafios tecnológicos da biomedicina: a obtenção da primeira linhagem de células-tronco embrionárias de rato.

CARREGANDO :)

O experimento abre caminho para a produção de ratos geneticamente modificados destinados ao estudo de doenças em laboratório - técnica usada há 20 anos em camundongos e que em 2007 rendeu o prêmio Nobel de medicina a três pesquisadores. "É algo que esperávamos há muito tempo", disse José Eduardo Krieger, diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração de São Paulo.

Ele explica que, em muitas situações, o rato é um modelo de pesquisa preferível ao camundongo porque é geneticamente e fisiologicamente mais parecido com os seres humanos.

Publicidade

O fato de ser um animal maior também facilita o estudo de doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial. O problema é que, sem a capacidade de cultivar células-tronco embrionárias da espécie, fica difícil produzir animais geneticamente modificados (chamados "nocautes") que permitem estudar o papel de genes específicos no organismo. Isso porque a melhor maneira de saber a função de um gene é desligá-lo (ou ?nocauteá-lo?) e ver o que acontece com o organismo.

Tipicamente, a manipulação genética é feita nas células-tronco embrionárias em cultura, que depois são usadas para produzir animas transgênicos. As primeiras linhagens de células embrionárias de camundongos foram obtidas em 1981 e, oito anos mais tarde, foram obtidos os primeiros animais transgênicos. O Nobel coroou a contribuição da técnica para a biomedicina. Mas ainda faltava o rato. A receita usada para cultivar células-tronco de camundongo nunca funcionou para outros roedores. Até agora.

Em dois trabalhos que serão publicados amanhã na revista Cell, cientistas das Universidades do Sul da Califórnia (EUA), Fudan (China), Edimburgo (Escócia) e Cambridge (Inglaterra) relatam a obtenção das primeiras linhagens de células-tronco embrionárias de ratos. Eles produziram um "coquetel" de moléculas capaz de manter as células indiferenciadas e desenvolveram técnicas para manipulá-las geneticamente em cultura. O próximo passo é produzir os animais transgênicos.