• Carregando...

Em fevereiro, aos 71 anos, o mé­­dico Jacques Beres, veterano de zonas de guerra, deixou sua vida confortável em Paris para entrar clandestinamente em Homs, o centro da revolta síria, e cuidar dos feridos e doentes.

Trabalhando em segredo, numa casa escura e abandonada, com apenas uma mesa de operações, três camas, quatro aju­­dantes locais e eletricidade intermitente, Beres conta ter operado 89 pessoas; apenas no­­ve não sobreviveram.

Beres, cirurgião com uma fi­­na barba branca que era parte do grupo que fundou a ONG Mé­­dicos Sem Fronteiras, parece ser o único médico ocidental que conseguiu entrar em Homs, on­­de as forças de segurança vêm realizando um ataque brutal. Seus relatos oferecem um raro vislumbre da emergência médica que se desenvolveu com o desenrolar do conflito sírio.

Sua jornada à Síria teve início em fevereiro, quando ele cruzou a fronteira libanesa com a ajuda de contrabandistas, carregando malas repletas de equipamentos médicos. Dali ele foi de carro e motocicleta até Al Qusayr, outra cidade sitiada que faz parte da província de Homs, onde trabalhou por alguns dias com um médico sírio. Quando finalmente chegou a Homs, passou ali cerca de duas semanas.

Em Homs, ele foi obrigado a se mudar uma vez – "senti que o local havia se tornado um alvo para as forças do governo" – e as condições eram longe do ideal.

"O lugar estava tão lotado que tínhamos de caminhar entre as macas", disse Beres numa entrevista em seu apartamento de Paris no final de fevereiro, alguns dias após sua volta.

"Tratei de todo tipo de ferimento: de morteiros, tiros de fuzis de longo alcance, balas de alta velocidade, estilhaços", contou ele. Seu hospital improvisado ficava apenas a alguns minutos de Baba Amr, o bairro que sofreu alguns dos mais pesados combates e bombardeios.

"Outras estavam tão gravemente feridas que não podiam ser salvas."

A viagem de Beres à Síria foi parcialmente patrocinada por duas associações: France-Syria Democracy e UAM93, uma federação de associações muçulmanas em Seine-St.-Denis, região dos subúrbios de Paris amplamente povoada por imigrantes. Beres classificou a participação da federação muçulmana como crucial.

Porém, obter esse apoio não foi fácil. "Eu era totalmente contra essa viagem", afirmou M’hammed Henniche, diretor da UAM93, pelos riscos envolvidos. "Mas Beres insistiu tanto que finalmente pagamos a passagem, e imploramos que ele ficasse de boca fechada durante a viagem."

Segundo Henniche, Beres voltou porque não conseguia mais lidar com a violência e as duras condições de vida em Homs, incluindo a falta de água quente e eletricidade, e pela exaustão de cuidar de tantos pacientes. "Também achamos que ele precisava escapar antes que a cidade fosse completamente sitiada", disse.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]