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Quando os palestinos solicitaram o reconhecimento do seu Estado nas Nações Unidas, em 2011, esse assunto foi amplamente tratado como tendo pouca importância prática, como sendo apenas um estratagema simbólico para contornar as negociações com Israel e a influência dos Estados Unidos em um conflito de longa data.

Mas os palestinos começaram a traduzir uma série de medidas simbólicas como essa —como a recente iniciativa de adesão ao Tribunal Penal Internacional— em uma estratégia que efetivamente impõe pressão sobre Israel.

Embora muitos israelenses proeminentes defendam uma ação unilateral do país para delimitar suas fronteiras, foram os palestinos que ganharam força política com uma série de passos dados fora das negociações bilaterais.

Na prática, os palestinos estão estabelecendo um Estado legal. Estão apostando que o reconhecimento internacional, feito por 135 países até agora, forçará mudanças no terreno.

"Esses países que reconheceram o Estado da Palestina não estão em número insignificante", disse Mark Ellis, diretor da Associação Internacional de Advogados, com sede em Londres.

Por ora, os palestinos estão preparados para dolorosas retaliações econômicas de Israel e dos EUA, país que também está irritado com a estratégia.

Mas o presidente Mahmoud Abbas parece indiferente à diplomacia americana.

Ele prometeu "aderir a 100, 200, 300" grupos internacionais, apesar das ameaças americanas de cortar ajuda, o que poderiam levar seu governo ao fracasso. "Não ficaremos esgotados ou cansados", disse. "O mundo inteiro está nos apoiando."

Há também a impressão de que Abbas poderá se beneficiar se a abordagem unilateral palestina reforçar a posição do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e de outros conservadores nas próximas eleições, inviabilizando a criação de um governo de centro-esquerda.

Alguns analistas dizem que um governo centro-esquerdista comprometido com a solução de dois Estados seria mais palatável para a Europa e forçaria os palestinos a voltarem às negociações.

Com Netanyahu no poder, Israel reage cada vez mais às ações dos palestinos, sendo obrigado a ficar na defensiva no tribunal e em outros fóruns. Conversas sobre um acordo entre as duas partes praticamente desapareceram.

Abbas enfrenta pressão da população para ir além, suspendendo a coordenação com Israel na área da segurança ou dissolvendo a Autoridade Palestina.

Se a Autoridade for dissolvida, Israel teria de administrar a Cisjordânia, prestar serviços e manter a ordem sem a ajuda das forças de segurança palestinas.

Isso poderia intensificar a insatisfação mundial com a ocupação israelense.

Em alguns aspectos, a pista de mão dupla dos palestinos parece contraditória —como eles poderiam manter a ação em prol do Estado se provocarem o colapso da autoridade provisória criada pelos acordos de Oslo duas décadas atrás, visando à formação do Estado?

Mas é a Organização para a Libertação da Palestina, e não a Autoridade, que representa os palestinos no cenário mundial.

Mustafa Barghouti, um dos líderes palestinos que pressionam pela dissolução da Autoridade, imagina um "governo no exílio" para um "Estado sob ocupação".

"Isso significaria liberar o movimento palestino de todas essas restrições —e também obrigações— de Israel. É como declarar desobediência civil", disse Barghouti.

"De certo modo, é o fim da era de Oslo. Para mim, foi o fim muitos anos atrás. Para Abbas, foi o fim somente nesta semana."

Yaakov Amidror, ex-assessor israelense de segurança nacional, disse sobre a potencial dissolução da Autoridade: "Já passamos por isso, e não é tão ruim", referindo-se aos dias anteriores a Oslo, quando Israel governava diretamente os territórios que capturou da Jordânia na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Mas Abbas parece ter conquistado o apoio da população ao aderir ao tribunal e ao falar na dissolução da Autoridade.

"Escutei do meu pai pela primeira vez: mesmo que não recebamos nossos salários e a situação econômica piore, pelo menos poderemos dizer que conseguimos nossos direitos", disse Rula Salameh. O pai dela, de 70 anos, depende de uma pensão da Autoridade Palestina.

Salameh disse que sua irmã, que está na folha de pagamento do governo, "escuta isso também dos amigos dela, dos colegas".

"Eles até disseram que, mesmo se não tivermos nossos salários, precisamos sentir que alguma coisa está caminhando. Amanhã será melhor do que hoje."

Colaboraram Somini Sengupta, de Nova York, e Said Ghazali, de Jerusalém

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