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O conservador Bush deixa a Casa Branca desacreditado, abrindo espaço para uma nova orientação política internacional. | Mike Theiler/Reuters
O conservador Bush deixa a Casa Branca desacreditado, abrindo espaço para uma nova orientação política internacional.| Foto: Mike Theiler/Reuters

McCain tenta semear discórdia

Na véspera da Convenção Nacional Democrata – que começa hoje –, a campanha do candidato republicano John McCain lançou um novo comercial de tevê em que busca semear a discórdia no partido rival, ao sugerir que Barack Obama desprezou a senadora Hillary Rodham Clinton ao escolher o senador do estado de Delaware Joe Biden como seu vice-presidente. O comercial mostra Hillary fazendo críticas sobre Obama durante as primárias: "a campanha do senador Obama se tornou cada vez mais negativa". O locutor diz: "Ela conquistou milhões de votos, mas não foi designada. Por quê? Por falar a verdade". Em resposta ao anúncio, a porta-voz de Hillary, Kathleen Strand, disse que o apoio da senadora a Obama "é claro".

Sarkozy estréia liderança conservadora

Enquanto o conflito russo-georgiano expôs o novo modelo de atuação externa dos EUA – que agora pensam duas vezes antes de abrir uma nova frente de batalha para apoiar um aliado – ele apresentou também o estilo de liderança internacional do atual presidente do Conselho Europeu, o presidente francês Nicolas Sarkozy. Para a professora de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Cristina Pecequilo, a "estréia" foi boa, mas deixou claras as limitações da política externa européia.

Com a mediação de Sarkozy, as partes assinaram o cessar-fogo, mas sob as condições da Rússia, que deixou 2.500 homens na Geórgia. Não foi à toa: a União Européia depende do gás natural fornecido pela Rússia e por isso não tem tanto poder de persuasão.

"Sarkozy mostrou ter grande possibilidade de atuação política e diplomática, mas carece de capacidade de impor condições."

E assim a Rússia aproveitou as dificuldades militares de EUA e União Européia para cobrar a fatura por um conflito territorial antigo, que vinha se cozinhando desde 1991, quando a Geórgia não quis entrar para a Comunidade dos Estados Independentes (substituta da União Soviética).

Apesar de ser um líder europeu de boa pinta – especialmente ao lado da mulher, a cantora Carla Bruni – Sarkozy lembra mais a chanceler alemã Ângela Merkel, com quem divide atualmente o papel de líder na Europa, do que Tony Blair, premier inglês de 1997 a 2007. Este terminou seu mandato como um conservador, mas havia começado na esquerda. No caminho para a direita, vieram a aliança com os EUA e o apoio à guerra do Iraque.

Já Nicolas Sarkozy, como Ângela Merkel, é mais conservador, não tem antecedentes liberais nem contestadores e tende a se aproximar das potências. "Sarkozy é a grande novidade da Europa", diz a professora Cristina Pecequilo.

Para o coordenador da pós-graduação em relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Williams Gonçalves, a maior dificuldade de Sarkozy ou qualquer líder europeu é apresentar uma política externa comum de todo o bloco. (HC)

Há quem veja a não-interferência dos Estados Unidos no Cáucaso, onde a Rússia mede forças com a pequena Geórgia (protegida dos norte-americanos) no conflito separatista iniciado há 20 dias, como símbolo da decadência do império norte-americano. A tese poderia ser reforçada pela renúncia, na segunda-feira passada, do presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, após nove anos de um fracassado governo pró-EUA.

A própria secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, admitiu que seu país está atolado até o pescoço nos conflitos militares do Iraque e Afeganistão e não pretende abrir novas frentes de batalha. Mas, para analistas, as atuais escolhas tomadas no campo externo pelos EUA refletem reorientação política, e as coisas podem melhorar com a eleição de Barack Obama ou John McCain – ou melhor, com a saída do conservador George W. Bush da Casa Branca.

Dia 7 de agosto, a Geórgia deslocou tropas para a separatista Ossétia do Sul contando com a aprovação norte-americana – e, quem sabe, uma ajudinha militar, que não veio. Naquelas condições, os EUA não teriam mesmo por que cutucar um problema estacionado – a autonomia da Ossétia do Sul e da Abkházia já tem quase 20 anos. É o que pensa o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Arthur Ituassu.

"Não significa de modo algum a queda do Império, e sim o Império atuando", pondera Ituassu. A preocupação dos EUA com a Rússia, mais do que sua influência no Cáucaso, passa por conceitos como democracia e respeito aos direitos humanos – e, é claro, a venda de armas ao Irã, inimigo da vez.

"Os EUA preferiram observar o comportamento russo, ver até onde estavam dispostos a cumprir com o discurso de que não tolerariam a política norte-americana de cerco ao país", explica o coordenador da pós-graduação em relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Williams Gonçalves.

Paquistão

A renúncia do ditador pró-EUA no Paquistão também revela uma reformulação no campo externo. A política norte-americana de fazer governos para deter aliados pode ter alcançado seu limite. "Isso ficou muito claro no Paquistão. Assim como a política de sanções econômicas deu errado em Cuba e no Iraque", diz Ituassu, da PUCRJ.

O objetivo na região era manter o terrorismo sob controle, mas isso não aconteceu. Pelo contrário, cresceu os extremismos antiamericano. "Os apoios dos EUA têm criado populações radicais, também em outros lugares como Egito e Arábia Saudita", diz Ituassu. O resultado são mais jovens para encorpar os quadros terroristas.

Para Arthur Ituassu, o governo norte-americano claramente desistiu de Musharraf. O professor faz um paralelo com a crise da Argentina em 2001, quando houve uma determinação do governo norte-americano de não pôr mais dinheiro no país. "Deixaram o país quebrar para que aparecesse uma solução política."

"A renúncia era esperada pelo desgaste da ditadura, especialmente depois das acusações ao governo pela morte da (ex-premier) Benazir Bhutto. (Musharraf) estava saindo muito caro e incômodo, e de lá não vinham respostas positivas", diz o pesquisador da Universidade de Brasília (UNB), José Ribeiro Machado Neto.

Antiamericanismo

A mudança de orientação da política externa dos EUA e seu reflexo na Geórgia e no Paquistão tem duas razões claras, para o professor de história da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Henrique Alonso Pereira. Uma é o risco nuclear representado pela Rússia e pelo próprio Paquistão, onde conflitos podem se tornar "explosivos" devido à posse de bombas atômicas.

A outra é o período eleitoral norte-americano. "McCain defende as políticas de Bush, e teria dificuldade de se eleger se houvesse uma nova intervenção militar", opina Pereira.

"O governo Bush conseguiu a façanha de granjear forte oposição interna e externa", diz. A principal derrota foi no Iraque, onde os EUA tencionavam criar uma vitrine para depois remodelar o Oriente Médio, mas não conseguiram.

"Uma coisa são os interesses americanos, outra é o governo Bush, que é um governo desacreditado", diz o professor Williams Gonçalves, diz o professor da Universidade do Estado do Rio do Janeiro. O que significa que sua saída da Casa Branca oferece uma nova chance para as relações exteriores do país. O mundo a vê no rosto de Barack Hussein Obama, como ficou claro pelo entusiasmo das 200 mil pessoas que o trataram como celebridade em sua viagem a Berlim, em julho.

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