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Mulher mostra seu dedo pintado depois de votar ontem, em Túnis. Partido islâmico é o favorito | Lionel Bonaventure/AFP
Mulher mostra seu dedo pintado depois de votar ontem, em Túnis. Partido islâmico é o favorito| Foto: Lionel Bonaventure/AFP

Túnis - "Dizer a você em quem eu votei? Você deve estar brincando. O voto é secreto!" Um tunisiano deixa o centro de votação, com o dedo in­­dicador azul, um sorriso nos lá­­bios, orgulhoso e solene ao mesmo tempo. Das 7 às 19 horas de ontem, milhões de tunisianos vo­­taram em massa nas primeiras eleições livres da história do país, berço da Primavera Árabe. O re­­sultado sairá nesta terça-feira e o partido islâmico é o favorito.

Após uma afluência recorde pela manhã, o fluxo diminuiu, mas quase no final da votação, muitos eleitores ainda aguardavam em filas com a carteira de identidade em mãos para cumprir seu dever cívico. Quinze mi­­nutos antes do início do processo eleitoral, eles eram centenas em cada centro. Em calma, mas exultantes, os tunisianos faziam questão de manifestar seu orgulho. Em Mutuelleville, bairro chique da capital, um jovem se enrolou na bandeira tunisiana para cumprir seu dever eleitoral. Em Etta­­dhamen, cidade popular, ho­­mens e mulheres aguardavam em filas separadas. Os véus coloridos se misturavam a vestes escuras. Mi­­litares e policiais se mantinham discretos, mas em grande número.

A maior parte dos eleitores votou pela primeira vez. "Antes, eu não fazia esforço algum para vir votar, era uma farsa", disse Salma Cherif, um médico de 48 anos, em Mutuelleville. "Estou muito feliz, estou muito bem", disse sorridente Ahmed Radali, exibindo seu dedo indicador pintado com tinta azul – marca indelével que ficará por 48 horas com os eleitores – na saída de um centro de votação de Ettadhamen. "Não, não direi em quem votei. Hoje, não há mais ninguém para apontar uma pistola para a sua cabeça, para te estrangular ou te agredir em dias de eleição", disse, gargalhando.

Em Ettadhamen, Hassen e La­­tifa chegaram para votar juntos. Eles votaram no Ennahda, o partido islâmico favorito para as eleições. "É uma decisão pensada, eu li bem o seu programa de governo", disse Hassen. "É a primeira vez que exercemos a democracia na Tunísia. Precisamos fazer isso bem", acrescentou. No final da tarde, em um centro de votação da Cité Olympique de Túnis, dezenas de eleitores ainda aguardavam a sua vez, em sua maioria homens. Neste local as filas de homens e mu­­lheres também estavam separadas. "Aparentemente por cavalheirismo", disse de forma irônica Souad, uma estudante de 21 anos. Ela votou "na esquerda".

Às 17 h (14 h em Brasília), "70% dos eleitores" tinham votado, es­­timou, mos­­trando listas de registro eleitoral cheias de assinaturas. Abdallah Zidi, de 66 anos, ostentando uma longa barba branca à la Karl Marx, exibe sua carteira de identidade: "Nasci no dia 1.º de abril de 1945. Toda a minha vida foi uma mentira, mas aqui, desta vez, estou fa­­zen­do valer o meu direito", disse. Apesar de sentir fortes dores nas pernas, ele resistiu na fila: "Eles disseram para eu me sentar, mas eu não quis. Queria votar como todo mundo, de pé".

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