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Um cachorro caminha perto do rio Paraguai, no lado argentino do Gran Chaco, segundo sistema florestal contínuo mais importante da América do Sul
Um cachorro caminha perto do rio Paraguai, no lado argentino do Gran Chaco, segundo sistema florestal contínuo mais importante da América do Sul| Foto: EFE/Santi Carneri

Quando se fala em florestas na América do Sul, o Brasil é muito cobrado pela Europa e pelos Estados Unidos pela preservação da Amazônia. Entretanto, o segundo sistema florestal contínuo mais importante da região está muito longe de despertar a mesma mobilização internacional: o Gran Chaco, cuja área é distribuída pela Argentina (60%), Paraguai (23%), Bolívia (13%) e Brasil (4%).

Esse grande bioma de floresta seca teve 14 milhões de hectares desmatados desde 1985, sendo que na Argentina a devastação no período superou os 8 milhões de hectares, para utilização principalmente pela pecuária e produção de soja transgênica, com exportação na maior parte para a China e a Europa.

A história da área que se tornaria o Parque Nacional O Impenetrável (cuja criação foi concretizada em 2014), localizado na província argentina do Chaco e que constitui um importante remanescente do bioma, com 128 mil hectares (o Gran Chaco inteiro tem pouco mais de 1 milhão de quilômetros quadrados), foi marcada pela atuação de grupos criminosos, assassinatos, disputas entre empresas, governos local e nacional e ONGs e retratada no documentário “El silencio del Impenetrable”, do diretor Ignacio Robayna.

Ignacio Gasparri, pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica da Argentina (Conicet) na Universidade Nacional de Tucumán, explicou ao site de notícias sobre meio ambiente ((o))eco que o desmatamento no Gran Chaco argentino é feito principalmente por empresas com grande capacidade de investimento que promovem “desmatamento total” em ciclos curtos, de alguns anos, nos quais “passam por todo um caminho que vai da pecuária à agricultura e, às vezes, à agricultura direta”.

“Em termos da superfície que esta região tem, em comparação com a Amazônia, está emitindo muito [carbono], ainda que tenha menos da metade da biomassa que a Floresta Amazônica tem por hectare. Entretanto, as emissões são equivalentes em ordens de grandeza”, alertou Gasparri.

Ambientalistas acusam o governo da província do Chaco de colaborar para essa devastação, e aí a conta pode ser cobrada em grande parte do peronismo: nos 37 anos desde 1985, o Partido Justicialista, do presidente Alberto Fernández, só não governou a província durante 16 anos.

O atual governador, Jorge Capitanich, que já exerceu o cargo durante outros dois mandatos, é da legenda e foi chefe de gabinete da presidência argentina durante a gestão de Cristina Kirchner.

Ambientalistas apontaram que o Ministério da Produção do Chaco apresentou em julho um novo mapa atualizado do Planejamento Territorial de Florestas Nativas que coloca em risco o bioma.

“Um grupo de empresas e funcionários públicos, a portas fechadas, decidiu fazer um mapa que consideramos regressivo e completamente ilegal, no qual grandes regiões do Impenetrável passaram da categoria 'amarela' para a categoria 'verde'. A urgência é tornar isso visível para que a Justiça possa agir. Estamos acompanhando dois processos contra o governo provincial por má gestão das florestas”, relatou Riccardo Tiddi, físico, técnico em imagens de satélite e integrante do movimento Somos Monte Chaco, ao Filo.News.

Segundo a classificação, a categorização 3 (verde) permite exploração econômica muito maior de uma área, até mesmo que seja parcial ou totalmente transformada, com a prévia realização de Avaliação de Impacto Ambiental.

Tiddi apontou que, no ritmo de devastação atual, até 2050 a floresta pode deixar de existir. “As florestas de algumas reservas, parques, comunidades indígenas [no Gran Chaco] permanecerão, mas o resto será perdido. Esse cenário é arrepiante para nós que moramos aqui, pensar que quando tivermos 70 anos, não vai sobrar nada, é assustador”, alertou.

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