O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu homólogo indiano, Narendra Modi, durante cerimônia em Nova Delhi, em 2018| Foto: EFE/ Harish Tyagi
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Desde que o Hamas realizou o massacre do dia 7 de outubro, há exatos cinco meses, dezenas de países manifestaram apoio a Israel em sua ofensiva na Faixa de Gaza para derrotar o grupo terrorista, enquanto outros condenaram as ações de Tel Aviv no território vizinho, acusando o país até mesmo de "genocídio", como fez o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

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Um dos países que chama a atenção por sua "solidariedade" com a causa israelense é a Índia, por seu histórico de defesa dos palestinos. Algumas décadas atrás, inclusive, o país asiático possuía até um selo postal representando as bandeiras indiana e palestinas hasteadas lado a lado, acompanhadas das palavras “solidariedade com o povo palestino”, o que evidencia uma mudança radical de posicionamento ao longo dos anos por parte de Nova Délhi.

Em novembro do ano passado, um mês depois do atentado terrorista em solo israelense, o BRICS (grupo liderado por Brasil, China, África do Sul, Índia e Rússia) concordou informalmente durante uma reunião em condenar a ofensiva em Gaza. Mas, na ocasião, a Índia optou por uma abordagem mais branda, concentrando-se em criticar o ataque do Hamas, a verdadeira causa do conflito regional.

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Esse posicionamento rendeu ao país asiático muitas críticas internas, visto que boa parte de sua população ainda defende o povo palestino e, por isso, condenou a defesa de Israel.

O alinhamento indiano com o povo árabe se fortificou principalmente a partir da década de 1920, quando as lideranças do movimento nacionalista indiano se uniram aos palestinos para lutar contra os britânicos. Anos depois, em 1947, a Índia rejeitaria a criação de Israel durante a votação do plano de dois Estados na Assembleia Geral das Nações Unidas, vindo a reconhecê-lo como um território independente somente três anos depois, em 1950.

Já na década de 1980, o país asiático foi o primeiro não-árabe a "reconhecer" a Palestina como um Estado e seguiu com seu apoio ao bloco de países árabes na defesa do direito dos palestinos a um território soberano. Nos anos que se seguiram, Nova Délhi tentou se manter "neutra" em sua política externa em relação a Israel.

No entanto, esse cenário tem mudado nos últimos anos, desde que o governo indiano se aproximou de Tel Aviv e deu início a um período de alinhamento diplomático e comercial com o país, apesar de suas muitas diferenças culturais e políticas. O reconhecimento diplomático entre as nações se deu, oficialmente, em 1992, mas essa aproximação se tornou mais evidente na última década.

Segundo relatos de fontes diplomáticas à imprensa internacional, a disputa entre os dois países envolveu por muito tempo questões relacionadas à colonização britânica, no entanto, à medida em que a Índia começou a "olhar" mais para o Ocidente, no final da Guerra Fria, os motivos de distanciamento se tornaram menos importantes do que os novos interesses de Nova Délhi.

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Navtej Sarna, que serviu como embaixador da Índia nos Estados Unidos e em Israel, contou ao jornal The Washington Post, que, conforme a Índia se envolvia em conflitos fronteiriços com o Paquistão e a China, tornou-se cada vez mais importante o fornecimento de armas para o país. Com isso, Israel surgia como um forte aliado ao enviar drones, radares e sistemas de mísseis para a Ásia.

Além disso, o mercado tecnológico foi outro ponto relevante para aproximar os dois países, segundo apontou o ex-embaixador.

Diante das necessidades da Índia, Israel também considerou o país um cliente valioso para conseguir equipamentos militares e de vigilância. "Os Estados Unidos estavam preocupados com a relação militar de Israel com a China e pressionaram Israel a desviar o seu comércio militar para outros países", explicou Blarel. A relação militar então cresceu, tornando a Índia o principal cliente de armas de Israel.

Um marco evidente dessa mudança de posicionamento foi a primeira visita de um premiê da Índia em Israel, quando Narendra Modi se encontrou com o homólogo Benjamin Netanyahu, em 2017.

Desde então, houve uma forte aproximação entre as duas nações. Em setembro do ano passado, os países assinaram um novo “corredor econômico” ligando a Índia a Israel com componentes ferroviários, gasodutos e de dados. Esse projeto também pretende rivalizar com a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI) da China.

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Os laços comerciais avançaram, especialmente com a presença crescente das empresas de software indianas em Israel. E apesar de algumas divergências sobre aspectos específicos, os Estados negociam um acordo de comércio livre (ACL).

Analistas políticos também apontam que há semelhanças entre o partido direitista Likud, de Netanyahu em Israel, e o partido nacionalista hindu Bhartiya Janata (BJP) da Índia, de Modi, outro fator a ser levado em conta para o estreitamento das relações.

A participação da Índia desde 2017 na aliança militar informal Quad, formada por EUA, Austrália e Japão, também indica ainda mais uma inclinação de Nova Délhi com o Ocidente.

À medida em que a Índia se esforça para estabelecer sua influência econômica e política a nível mundial como uma potência emergente, as relações com os EUA e Israel se tornaram ainda mais estratégicas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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