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Integrantes da gestão Donald Trump anunciaram nesta quarta-feira (5) a suspensão do compartilhamento de informações de inteligência com a Ucrânia, uma manobra que visa forçar o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a negociar um cessar-fogo na guerra com a Rússia, após o bate-boca com Trump e o vice J. D. Vance na Casa Branca na semana passada.
Não se sabe ao certo a extensão desse bloqueio, mas o conselheiro de segurança nacional, Mike Waltz, e o diretor da CIA, John Ratcliffe, deram a entender que o compartilhamento dessas informações será retomado assim que Zelensky aceitar iniciar conversas.
Em entrevista à Fox Business nesta quarta-feira, Ratcliffe disse que o presidente da Ucrânia já havia se mostrado mais disposto a negociar depois da repercussão do encontro constrangedor na Casa Branca na última sexta-feira (28).
“Então, acho que na frente militar e na frente de inteligência, a pausa que permitiu que isso acontecesse, acho que vai acabar”, afirmou o diretor da CIA.
As informações de inteligência dos Estados Unidos foram cruciais para a Ucrânia desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022. Analistas ouvidos pela BBC News destacaram que elas têm duas funções principais: ajudar a Ucrânia a planejar operações ofensivas e dar a Kiev avisos prévios sobre ataques russos.
“Informações de satélite e interceptações de sinais dão às forças ucranianas na linha de frente uma noção de onde as forças russas estão, seus movimentos e prováveis intenções”, escreveu num artigo Paul Adams, correspondente de assuntos diplomáticos da emissora britânica.
“Sem a inteligência dos EUA, a Ucrânia não será capaz de fazer uso tão efetivo de armamento ocidental de longo alcance, como os lançadores de foguetes Himars fabricados nos EUA ou os mísseis Stormshadow fornecidos pelo Reino Unido e pela França”, acrescentou.
Na parte defensiva, dados fornecidos por satélites dos Estados Unidos sobre movimentação de aeronaves e lançamentos de mísseis são fundamentais para a emissão de alertas não só para os militares ucranianos, mas também para os civis, já que permitem ao governo da Ucrânia disparar sirenes e mensagens de celular que avisam sobre ataques aéreos.
Analistas alertam que uma extensão prolongada do bloqueio a informações de inteligência pode gerar grandes prejuízos aos ucranianos no campo de batalha.
“Combinado com a interrupção da assistência militar e da ajuda externa, isso praticamente garantiria uma vitória russa sem que haja necessidade de um acordo de paz”, afirmou uma fonte de inteligência à emissora americana CNN.
Especialistas ouvidos pelo site da NBC News destacaram que parceiros europeus da Ucrânia, como o Reino Unido, podem fornecer informações de inteligência a Kiev, mas a falta de dados dos Estados Unidos geraria uma lacuna que não poderia ser totalmente preenchida, e “quanto maior a pausa, mais complicações a Ucrânia enfrentará”.
“A decisão de interromper a assistência de inteligência é imprudente e mal pensada. Uma boa cooperação de inteligência deve ser mantida em segredo e fora dos caprichos da política”, disse John Sipher, ex-agente do serviço clandestino da CIA.
“É o último lugar para se adotar uma posição pública, especialmente quando há tantas outras maneiras de se pressionar um parceiro.”
Bloqueio de ajuda militar representa mais de US$ 1 bilhão
Antes, os Estados Unidos haviam anunciado a suspensão de ajuda militar à Ucrânia que já havia sido aprovada pelo Congresso americano, bloqueio que, segundo um ex-funcionário americano que trabalhou no envio de armas à Ucrânia durante o governo de Joe Biden e Mark Cancian, especialista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), ambos ouvidos pela Agência EFE, representaria mais de US$ 1 bilhão em armas e munições.
De acordo com essas fontes, o bloqueio poderia afetar alguns dos mais recentes sistemas de armas fornecidos por Washington, como drones e munição para os Himars.
Além do US$ 1 bilhão bloqueado imediatamente, o valor pode aumentar se a suspensão for prolongada.
Se o bloqueio continuar até o final do ano, disse Cancian, o valor do material militar retido subiria para US$ 11 bilhões, o que corresponde aos fundos já aprovados pelo Congresso e encomendados aos fabricantes de armas dos EUA.
Os EUA têm sido o maior fornecedor de ajuda militar à Ucrânia desde o início da invasão da Rússia e, até o momento, destinaram US$ 65,9 bilhões em apoio militar.