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Foto de Noura Hussein na prisão de Ondurman | Divulgação/Anistia Internacional
Foto de Noura Hussein na prisão de Ondurman| Foto: Divulgação/Anistia Internacional

Noura Hussein deixou claro que não queria casar, porque não tinha terminado a escola. Mas quando tinha 16 anos, seus pais, à força, iniciaram o processo de casamento com um homem que tinha o dobro de sua idade.

Então, no ano passado, quando a adolescente sudanesa esfaqueou seu marido até a morte, após este tentar estupra-la, foi colocada na cadeia. Em maio, a sharia – uma corte islâmica – condenou-a à morte por enforcamento. Mas, na terça, uma corte de apelações em Cartum, capital do Sudão, modificou a decisão e a sentenciou a cinco anos de prisão e ordenou que sua família pagasse uma multa à família do marido. 

Vitória parcial

A decisão é uma vitória parcial para os defensores dos direitos humanos que divulgaram amplamente a história no mês passado, gerando indignação internacional. Apesar de grupos como a Anistia Internacional estarem celebrando que Hussein não irá enfrentar a pena de morte, eles consideraram que a nova sentença ainda é uma punição desproporcional, porque a adolescente estava agindo em legitima defesa. 

Ela, antes da revisão da sentença, disse à CNN que tinha deixado claro que não queria se casar e que pensava em suicidar-se. Ela se lembra que no nono dia após o casamento, no ano passado, quando recusava-se a ser tocada por ele, a família dele interveio. Ela foi estuprada. 

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Defensores dos direitos humanos montaram uma campanha internacional massiva para dar atenção ao caso. Advogados dentro e fora do Sudão, e ativistas de grupos como o Afrika Youth Movement trabalharam em conjunto na tentativa de salvar a vida de Hussein. 

Funcionários das Nações Unidas se uniram à campanha. E, em um comunicado conjunto, entidades ligadas à ONU pediram, ao governo sudanês, clemência para esse caso: “Falando pelas mulheres e meninas do mundo, pedimos ao governo do Sudão para salvar a vida de Hussein.” Desde 2017, ela está presa em uma prisão feminina em Ondurman, a segunda maior cidade do Sudão. 

Atenção internacional

A história despertou a atenção para o casamento infantil e o estupro marital no Sudão. Nenhuma das práticas é crime no país. O Sudão tem uma das piores situações do mundo para as mulheres, de acordo com o Índice de Desigualdade de Gênero do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, que é baseado em níveis de renda, representação política, saúde reprodutiva entre outros fatores. A agência de notícias Reuters aponta que uma em três sudanesas se casa antes de completar 18 anos. 

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Hussein, entretanto, lutou contra o desejo de seus pais. Após concluir os exames escolares, a jovem fugiu para morar com um parente e evitar os procedimentos finais para o casamento. Mas, seu pai a convenceu a retornar com segurança para casa. Mas, em abril de 2017, sua família a enganou e ela teve de casar com o homem que ela estava evitando. 

Dias depois, o marido pediu a ajuda de familiares para estuprá-la. O advogado de Hussein disse à Associated Press que, quando o marido tentou estuprá-la novamente no dia seguinte, ela pegou uma faca e o esfaqueou em legitima defesa.

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