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Não há números oficiais de inflação na Síria, mas o vice-primeiro-ministro para Assuntos Econômicos estima que tenha chegado a 120% no fim de 2012 | Khaled Al-Hariri/Reuters
Não há números oficiais de inflação na Síria, mas o vice-primeiro-ministro para Assuntos Econômicos estima que tenha chegado a 120% no fim de 2012| Foto: Khaled Al-Hariri/Reuters

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Ajuda de Irã, Iraque e Rússia mantém economia funcionando

Recentemente, Teerã concluiu uma linha de crédito de US$ 3,6 bilhões ao governo sírio para a oferta de derivados de petróleo e gás em troca de investimentos futuros não especificados. A produção própria de gás e petróleo da Síria está quase paralisada por causa da guerra, e o governo de Bashar Assad tem importado a maior parte do petróleo que precisa do Irã e do Iraque. A ajuda externa, diz o professor Steve H. Hanke, da Universidade Johns Hopkins, é a única forma de manter a economia da Síria funcionando e conter a hiperinflação. "Esse é um problema de ter alguém que arque com suas necessidades. Se você tem um financiador, funciona."

O regime sírio não pode arcar com uma perda de apoio por causa da hiperinflação. No começo de agosto, Assad emitiu um decreto para combater o que o governo chamou de "dolarização" da economia síria. O decreto impôs multas pesadas e pena de prisão de até dez anos para quem fizer transações comerciais em moeda que não seja a libra síria.

213% é o porcentual inflacionário estimado pelo professor de economia aplicada da Universidade Johns Hopkins Steve H. Hanke na Síria até o momento neste ano. A hiperinflação é resultado da queda na produção devido à guerra civil e a um aumento acentuado na oferta de moeda. A situação de 2013 é pior que a de 2012, quando esse porcentual chegou a 120%.

Teerã forneceu uma linha de crédito de US$ 3,6 bi ao governo sírio para a oferta de petróleo e gás em troca de investimentos futuros.

  • Em um ano, preços dos alimentos aumentaram até cinco vezes

O Ramadã e o feriado de Eid al-Fitr, que se segue ao período de jejum e orações dos muçulmanos, são geralmente a temporada mais forte de compras na Síria, mas para muitos sírios o Ramadã deste ano, encerrado agora em agosto, é o pior da história recente do país, já que a hiperinflação desvalorizou a moeda local e comprometeu o poder de compra dos consumidores. A situação é ainda pior para aqueles em áreas controladas pelos rebeldes, onde operações militares restringiram o acesso a muitos produtos essenciais.

INFOGRÁFICO: Veja no mapa os locais atingidos pelos ataques no dia 21 de agosto em Damasco, na Síria

Espanto

Prova dessa mudança pôde ser presenciada numa manhã recente, quando uma mulher parou em frente de uma banca em Bab Serijeh, o maior e mais barulhento mercado de alimentos da capital síria, e expressou espanto com a alta nos preços locais do azeite de oliva e da massa de tomate, que estão, respectivamente, cinco e quatro vezes mais elevados em relação ao ano passado.

Em outra parte da capital, Amal Zuhairi, uma funcionária pública de 44 anos, voltou de mãos vazias da cooperativa estatal Oumawyeen. Poucas semanas antes, ela havia comprado óleo de milho no mesmo local por 325 libras sírias (US$ 1,63) por litro. Agora, a cooperativa ficou sem estoque de óleo de milho, e o litro passou a custar 490 libras sírias no mercado de Bab Serijeh.

A libra síria perdeu quase 70% de seu valor nos últimos 12 meses. Não há números oficiais atualizados de inflação no país, mas em entrevista recente o vice-primeiro-ministro para Assuntos Econômicos Kadri Jamil estimou que a inflação atingiu cerca de 120% no fim de 2012. "Ainda não contabilizamos em 2013, mas é ainda pior na minha opinião", disse. O professor de economia aplicada da Universidade Johns Hopkins Steve H. Hanke estima que a inflação no país esteja em torno de 213% até o momento neste ano.

Jamil disse que a hiperinflação resultou da queda na produção devido à guerra civil e a um aumento acentuado na oferta de moeda. Ele manifestou confiança na capacidade do governo de controlar a inflação usando empréstimos de aliados para aumentar suas reservas em moeda estrangeira e defender a libra síria.

Privatização

A economia da Síria tem influência socialista, com um Estado que é o maior empregador do país. A liberalização e privatização na economia começaram logo após a posse do presidente Bashar Assad, em 2000. A economia, então, tornou-se uma das mais promissoras do mundo árabe, apesar de muitos economistas dentro e fora do país afirmarem que o processo estava mergulhado em corrupção e acordos favorecidos para parentes e empresários próximos ao regime de Assad.

Após o início da revolta contra o presidente, em março de 2011, muitos desses empresários deixaram a Síria e transferiram seu dinheiro para o exterior. A guerra e as sanções internacionais reduziram o Produto Interno Bruto (PIB) do país a menos da metade, segundo economistas e autoridades. Agora, o regime sírio está se voltando para os aliados Irã e Rússia em busca de mais linhas de crédito e empréstimos. Jamil disse que Irã, Rússia e outros "amigos" serão recompensados por sua lealdade no futuro com concessões para extração de gás natural na costa oeste do país.

Relatos

"Tudo que eu ganho termina no começo do mês"

Ahmed Awad, de 38 anos, deixou sua casa no subúrbio de Damasco cinco meses atrás com medo de tornar-se um alvo dos rebeldes por trabalhar como entregador da companhia nacional de energia.

Agora ele vive num subúrbio mais seguro com sua esposa e quatro filhos num quarto fornecido por uma mesquita, sem pagar aluguel. Awad diz que recebe apenas 15 mil libras sírias por mês. "Tudo que eu ganho termina no começo do mês", diz Awad.

Salário

Rawan al-Hakim, de 27 anos, diretora de marketing numa companhia privada de cimento, disse que seu salário mensal é de 55 mil libras sírias.

Antes da guerra, esse valor equivalia a quase US$ 1.200 (R$ 2.880), uma soma elevada para os padrões sírios. Agora vale apenas cerca de US$ 275 (R$ 660).

Ela disse que sua empresa não elevou os salários e poderá fechar devido ao colapso das vendas.

"Mas, em comparação com outros, vivo como uma rainha", admitiu.

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