O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca em 28 de setembro de 2020| Foto: MANDEL NGAN / AFP
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A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos apresentou nesta segunda-feira (25), ao Senado a acusação contra o ex-presidente Donald Trump de incitar uma insurreição no discurso a seus seguidores antes do ataque do dia 6 ao Capitólio que deixou cinco mortos, dando ensejo ao seu segundo processo de impeachment. Há dúvidas se haverá respaldo suficiente entre os republicanos para condená-lo.

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Nove deputados democratas da Câmara que atuarão como procuradores levaram ontem à noite o artigo de impeachment ao Senado, onde Trump será julgado, apesar de já ter deixado o cargo após a derrota para o democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro.

A ação marcará dois acontecimentos inéditos: Trump é o único presidente americano a sofrer impeachment na Câmara duas vezes e será o primeiro a ser julgado depois de deixar o cargo. Ele sofreu impeachment na Câmara pela primeira vez em 2019, sob a acusação de usar a ajuda dos EUA para pressionar as autoridades ucranianas a investigar Biden e seu filho Hunter, mas foi absolvido no Senado.

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Dessa vez, se o Senado considerar Trump culpado, ele se tornará o primeiro presidente na história dos EUA a ser condenado em um julgamento de impeachment. Ele também poderá ser impedido de concorrer a cargos públicos.

Para condenar Trump, dois terços dos senadores teriam de aprovar o artigo de impeachment, isto é, pelo menos 17 republicanos teriam de se voltar contra o ex-presidente. Atualmente, o Senado está dividido pela metade entre democratas e republicanos, mas os democratas têm uma estreita maioria por causa do voto de desempate da presidente da Casa, a vice-presidente Kamala Harris.

O segundo julgamento de impeachment do ex-presidente sob a acusação de incitar a invasão do Capitólio agravou uma disputa entre seus colegas republicanos. Na Câmara, 10 deputados republicanos votaram a favor do impeachment de Trump.

Segundo levantamento feito pelo jornal The Washington Post, dos 100 senadores da Casa, 40 são a favor do impeachment de Trump, 23 considerarão a condenação, 29 são decididamente contrários e 8 manifestaram "posições ambíguas".

Líderes do Senado concordaram em não iniciar o julgamento antes de 9 de fevereiro. Isso dará a Trump mais tempo para preparar uma defesa, e permitirá ao Congresso se concentrar nas prioridades iniciais do presidente Biden, entre elas a confirmação do gabinete.

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Uma pesquisa Reuters/Ipsos revelou na sexta-feira que 51% dos americanos acreditam que o Senado deveria condenar Trump. O número se dividiu essencialmente segundo as filiações partidárias, já que menos de 2 a cada 10 republicanos concordam.

O democrata Patrick Leahy, o mais antigo da Casa, presidirá o julgamento. Embora a Constituição exija que o presidente da Suprema Corte lidere esses processos, cabe a um senador liderar a ação quando o atual presidente não está mais no cargo.

O senador republicano Mitt Romney, disse acreditar que o julgamento, que pode proibir Trump de se candidatar no futuro, foi uma resposta necessária ao apelo inflamado do ex-presidente a seus partidários para "combater" sua derrota eleitoral na invasão do dia 6.

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"O artigo de impeachment enviado pela Câmara sugere conduta impugnável", disse Romney, crítico frequente de Trump, que votou por sua condenação durante o primeiro julgamento de impeachment. "Está bastante claro que durante o ano passado e agora houve uma tentativa de corromper a eleição dos EUA e não foi pelas mãos do presidente Biden, mas sim pelo presidente Trump", afirmou o republicano à Fox News.

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Na noite após a invasão dos apoiadores de Trump ao Capitólio - no momento em que o Congresso certificaria a vitória de Biden nas eleições - vários republicanos condenaram a violência. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, culpou Trump pelo ocorrido, dizendo que ele "provocou" a multidão.

Mas um número significativo de parlamentares republicanos, preocupados com a fervorosa base de eleitores de Trump, rejeitam o processo. O senador Tom Cotton sustentou que o Senado estava agindo além de sua autoridade constitucional ao conduzir o julgamento. "Acho que muitos americanos vão achar estranho que o Senado esteja gastando seu tempo tentando condenar um homem que deixou o cargo há uma semana", disse Cotton à Fox News.