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Para que PPK deixe o cargo de fato, Congresso deve aceitar o pedido de renúncia | JUANCA GUZMAN NEGRINI/AFP
Para que PPK deixe o cargo de fato, Congresso deve aceitar o pedido de renúncia| Foto: JUANCA GUZMAN NEGRINI/AFP

Mesmo após o presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski ter apresentado uma carta de renúncia ao Congresso, ele não deve deixar o cargo antes que seu pedido seja aceito. Os partidos Frente Ampla e Novo Peru, assim como os demais da oposição, disseram não ter aceitado a renúncia apresentada na manhã desta quarta-feira (20) por PPK. O Congresso deve debater a situação na tarde de hoje (22) e votar na sexta (23).

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"É preciso que fique claro que o sr. Kuczynski não é uma vítima, está saindo por ser corrupto, imoral e por ser mentiroso", disse na manhã desta quinta-feira (22) a esquerdista Veronika Mendoza, ex-candidata presidencial em 2016 (ficou em terceiro lugar), hoje líder do partido Novo Peru.  

O Novo Peru e a Frente Ampla (siglas que juntas têm 20 parlamentares) foram as responsáveis pelo segundo pedido de moção de vacância de Pedro Pablo Kuczynski.

"Para que o sr. Kuczynski seja levado a esclarecer os negócios sujos em que colocou dinheiro público. Dinheiro que não chegou às famílias e aos programas que ele havia prometido", disse Mendoza.  

"Sua renúncia pareceu o discurso de alguém que foi vítima de uma injustiça. Queremos que fique claro que se trata do maior lobbysta que já passou pela política peruana."  

Apesar de ter apoiado o ex-presidente no segundo turno das eleições de 2016 contra Keiko Fujimori, Mendoza disse que "nunca apoiou seu programa e muito menos esse jogo de repartir a verba pública em troca de favores que está instalado no Congresso", afirmou.   

Mendoza também pede que sejam investigados não apenas os contratos da Odebrecht no Peru como os de outras construtoras. "Deve haver garantias para que a Justiça investigue e revise todos os contratos suspeitos."

Subtituição

Um dia antes de completar 55 anos, o engenheiro civil Martín Vizcarra desembarca em Lima para possivelmente assumir o mandato de PPK.

Antes de embarcar de Ottawa, onde servia como embaixador, para Lima nesta quinta-feira (21), ele disse estar indignado pela situação atual do país, sem mencionar o presidente.

"Mas tenho a convicção de que juntos demonstraremos mais uma vez que poderemos seguir em frente. Por isso, volto ao Peru para me colocar à disposição do país, respeitando o que manda a Constituição."  

De classe média, Vizcarra nasceu em Lima, mas toda a família dele é de Moquegua, no sul. Passou a maior parte da vida profissional no setor da construção.  

Reação da Venezuela

Os aliados do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, ironizaram nesta quarta-feira (21) a renúncia do presidente do Peru, que se tornou um dos principais desafetos regionais do regime chavista.  

Nos 19 meses de governo, PPK colocou a crise venezuelana como prioridade da política externa. Recebeu os líderes da oposição venezuelana desde o início do mandato e facilitou vistos para quem fugia da crise no país caribenho.  

Também foi o anfitrião da reunião de países com governos críticos a Caracas que deu origem ao Grupo de Lima, que não reconhece a Assembleia Constituinte, e vetou a participação de Maduro na Cúpula das Américas, em abril.  

O encontro foi o mote da piada do número dois do chavismo, Diosdado Cabello. Ele começou seu programa no TV estatal com uma banda de merengue com uma música chamada "Yo no me iré" (Não vou embora, em espanhol).  

"Há outras pessoas que queríamos que fossem embora e agora não podem mais cantar essa música", afirmou entre risos Cabello, dizendo esperar "o despertar dos povos da América Latina" para as saídas de outros rivais.  

"Assim vão cair Santos [Juan Manuel, presidente da Colômbia], Macri [Mauricio, presidente da Argentina] e [Michel] Temer."  

Outra integrante da cúpula chavista, a presidente da Assembleia Constituinte, Delcy Rodríguez, disse que Kuczynski, a quem chamou de nefasto personagem, será jogado no lixão da história.  

"Começa a recomposição moral da América Latina com a renúncia do fiel representante ianque e aliado submisso de Donald Trump", disse Rodríguez, que era chanceler durante a crise diplomática entre Lima e Caracas em 2017.  

Em visita à Casa Branca, em fevereiro do ano passado, o peruano disse que ao presidente americano que os EUA não precisavam se preocupar muito com a América Latina, exceção feita à Venezuela.  

"[Os EUA] não investem muito tempo na América Latina porque é como um cachorro simpático que está dormindo no tapetinho e não causa nenhum problema [...] mas o caso da Venezuela é um grande problema."  

Dias depois, a então chanceler venezuelana respondeu: "O único cachorro simpático que existe é ele, que vive abanando o rabo para seus donos imperiais e pedindo a intervenção da Venezuela."  

Em agosto, logo após a instalação da Casa presidida por Rodríguez, Maduro expulsou o encarregado de negócios peruano em Caracas. Dias depois, Kuczynski retaliou determinando a saída do embaixador venezuelano.  

Enquanto isso, a estatal Agência Venezuelana de Notícias colocava em destaque os escândalos do peruano e o site do canal regional Telesur publicava os 'memes' sobre Kuczynski, sendo o primeiro uma referência às críticas feitas a Maduro.  

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