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O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un e o presidente americano Donald Trump. A Coreia do Norte está operando pelo menos 13 bases não declaradas para esconder mísseis móveis, um estudo descobriu | KOREA SUMMIT PRESS POOL / AFP
O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un e o presidente americano Donald Trump. A Coreia do Norte está operando pelo menos 13 bases não declaradas para esconder mísseis móveis, um estudo descobriu| Foto: KOREA SUMMIT PRESS POOL / AFP

Um novo relatório identificou treze bases de operação de mísseis não declaradas na Coreia do Norte, enfraquecendo as alegações de Trump de que o seu contato com Pyongyang esteja fazendo progresso em conseguir que o regime de Kim Jong Un desista de seu programa nuclear. 

Para o relatório, um grupo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), de Washington, usou imagens de satélite e entrevistas com desertores e funcionários do governo norte-coreanos para identificar as 13 bases de mísseis. Eles dizem que há mais sete bases que permanecem ocultas. 

Acredita-se que as bases, que são pequenas e estão espalhadas pelo país, sejam instalações subterrâneas contendo lançadores móveis que podem ser rapidamente movidos para outros locais. Embora não tenham sido projetadas como locais de lançamento, as bases poderiam ser usadas para a instalação de mísseis móveis, o que tornaria extremamente mais difícil para outras nações rastrearem e pararem os mísseis antes que eles sejam disparados. 

“A natureza dispersa, o pequeno tamanho das bases operacionais e as táticas e doutrinas empregadas pelas unidades de mísseis balísticos oferecem as melhores chances de sobrevivência, dadas as tecnologias e capacidades do KPA”, segundo o relatório, usando um acrônimo para se referir ao Exército do Povo Coreano. 

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A existência dessas bases é evidência que a Coreia do Norte está trapaceando no acordo alcançado em junho, quando o presidente Donald Trump se reuniu com o líder norte-coreano Kim Jong Un em Cingapura? Analistas dizem que a resposta é não – embora façam ressalvas. 

“Kim não quebrou nenhuma promessa”, disse Jeffrey Lewis, especialista em não-proliferação do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais em Monterrey. “Em vez disso, ele está cumprindo uma delas – a de produzir armas nucleares em massa”. 

O presidente Donald Trump minimizou o relatório e considerou a cobertura da imprensa sobre as novas informações como “mais fake news”. 

“Nós sabemos completamente sobre os locais que estão sendo discutidos, nada de novo – e nada está acontecendo fora do normal”, disse o presidente tem um tweet. “Eu serei o primeiro a contar a vocês se as coisas forem mal!”, completou. 

 

Depois da cúpula em junho com o líder norte-coreano Kim Jong Un, Trump disse no Twitter que “não há mais uma ameaça nuclear da Coreia do Norte”. Em público, ele manteve em grande parte essa visão otimista das negociações. 

“Não estamos com pressa”, disse ele a repórteres na semana passada, quando perguntado sobre a perspectiva de uma segunda cúpula com Kim, acrescentando que “os mísseis pararam, os foguetes pararam”. 

O relatório do CSIS é a mais recente evidência de que, embora a Coreia do Norte tenha de fato interrompido seus testes com mísseis, está longe de desmantelar suas instalações de armas. De fato, esse número parece estar aumentando: relatórios de inteligência norte-americanos descobriram que a Coreia do Norte havia começado a produzir novos mísseis em uma fábrica, e o secretário de Estado americano Mike Pompeo reconheceu durante o depoimento no Senado que Pyongyang “continua produzindo material físsil”. 

Duyeon Kim, membro sênior do Centro para uma Nova Segurança Americana, disse que, embora esses acontecimentos violem as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, eles não violam o acordo de Kim com Trump. “A Coreia do Norte não quebrou nenhuma promessa com Trump porque não há acordo nuclear com Washington”, ela disse. 

“A Coreia do Norte nunca se ofereceu para abandonar suas armas nucleares”, disse Lewis, o especialista em não-proliferação. “O que a Coreia do Norte ofereceu é o começo de um processo que pode – pode – um dia levar a um resultado como esse”. 

O Departamento de Estado não disse se considerava a base como uma violação de qualquer acordo com os Estados Unidos. “O presidente Trump deixou claro que se Kim seguir seus compromissos – incluindo a completa desnuclearização e a eliminação de programas de mísseis balísticos – um futuro muito mais brilhante está à frente da Coreia do Norte e de seu povo”, disse um porta-voz em comunicado. 

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Houve vários sinais recentes de que os esforços diplomáticos entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte estavam estagnados. Uma reunião marcada para a semana passada entre Pompeo e o negociador nuclear de Pyongyang, Kim Yong Chol, foi adiada inesperadamente, poucos dias depois que a mídia estatal norte-coreana divulgou um comentário sugerindo que o teste de mísseis poderia ser retomado se não houvesse progresso nas negociações. 

Os analistas há muito acreditam que a Coreia do Norte tinha instalações não declaradas ou ocultas em seu programa de mísseis, o que tornou as questões relacionadas à verificação e inspeções uma parte importante das conversações entre os EUA e a Coreia do Norte. Pyongyang pode ter desejado que os locais dos mísseis fossem vistos, sugeriu David Maxwell, membro sênior da Fundação para a Defesa das Democracias, para manter a pressão nas negociações. 

Kim Sung-han, reitor da Faculdade de Estudos Internacionais da Universidade da Coreia e ex-vice-ministro para Relações Exteriores da Coreia do Sul, disse que o relatório mostrou a necessidade de uma “declaração verificável” das capacidades nucleares e de mísseis da Coreia do Norte como o próximo passo das negociações. 

No entanto, acrescentou, o relatório também pode fazer o atual impasse entre Washington e Pyongyang durar “mais do que o esperado”. 

Desnuclearização 

A Coreia do Norte melhorou dramaticamente sua tecnologia de mísseis com lançamentos de testes provocativos no ano passado. Especialistas no Ocidente concluíram que Pyongyang agora tem a capacidade de atingir a maior parte dos Estados Unidos, embora ainda não esteja claro se poderia produzir uma arma nuclear pequena o suficiente para caber em um míssil. 

Depois de um tenso ano em 2017, a diplomacia teve uma vitória no início deste ano. A Coreia do Norte anunciou que suspenderia seus testes de armas e desmantelou um local de testes nucleares e uma instalação de lançamento de satélites que teriam um papel no programa de mísseis balísticos do país. Quando Kim se reuniu com Trump em Cingapura durante o verão, os dois líderes concordaram em construir um “regime duradouro e estável de paz na península coreana” e “trabalhar para a completa desnuclearização” da península.

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