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Santiago – Milhares de fiéis seguidores fizeram fila desde a manhã de ontem para se despedir de Augusto Pinochet, enquanto a capital chilena retornava à normalidade depois de uma noite marcada pelos confrontos entre os simpatizantes do ex-ditador e os que celebraram sua morte.

As cerimônias fúnebres tiveram início às 10 da manhã (hora local), em um salão da Escola Militar. A primeira delas foi celebrada pelo cardeal arcebispo de Santiago, dom Francisco Javier Errázuriz, e entre os presentes estavam os cinco filho do ex-ditador e sua viúva, Lucía Hiriart. O cardeal se aproximou da viúva, que estava ao lado do marido até momentos antes de sua morte, no dia do aniversário de 84 anos dela, para oferecer suas condolências.

Fora do recinto militar, centenas de simpatizantes de Pinochet começaram a se concentrar desde o início da manhã à espera da abertura do velório ao público, o que ocorreu às 11 da manhã (horário local).

O caixão estava coberto com a bandeira do Chile, a capa e a espada do ex-chefe militar. Um vidro permitia que se visse o rosto de Pinochet, vestido em uniforme de gala.

Enquanto seguidores de Pinochet aguardavam para entrar na Escola Militar, um pequeno grupo de manifestantes passou a gritar "assassino, assassino".

Caos

A súbita morte do ex-chefe de Estado de 91 anos no domingo provocou maciças manifestações de alegria entre os opositores de Pinochet. Uma manifestação no centro do Chile descambou em incidentes reprimidos pela polícia. Os distúrbios continuaram até a madrugada nos subúrbios populares, onde grupos incendiaram barricadas e enfrentaram a polícia. Manifestações também ocorreram em outras partes do país, e o governo informou que 99 pessoas foram detidas, 52 delas em Santiago.

A presidente Michele Bachelet criticou os incidentes, em sua primeira manifestação desde a morte do ex-ditador. "Nas últimas horas vimos gestos de divisão que não nos agradam, mas sei que temos, como país e como sociedade, a fortaleza ética para promover uma reconciliação", disse ela num ato na sede do governo.

Mas a presidente socialista, que perdeu o pai torturado pelo ditadura Pinochet e ela mesmo foi, junto com a mãe, presa e depois exilada durante o regime militar, frisou que "o Chile não pode esquecer". "Só assim teremos uma visão construtiva de nosso futuro, garantindo o respeito aos direitos fundamentais de todas e todos os chilenos".

Seu governo se negou a decretar luto nacional e oferecer honras de chefe de Estado a Pinochet, que liderou uma ditadura de 1973 a 1990.

Bachelet também não comparecerá à cerimônia de cremação, marcada para hoje. Caberá à ministra da Defesa, Vivianna Blanlot, representar o governo.

A oposição de direita, que foi fustigada por partidários e familiares de Pinochet por se afastar do ex-ditador depois que ele foi processado por violações dos direitos humanos e enriquecimento ilícito, criticou o governo por não oferecer a ele honras de chefe de Estado.

Mas Marco Antonio Pinochet, filho caçula do ex-ditador, disse esperar que "por respeito à família o governo não participasse das exéquias". "Não quero atos hipócritas", afirmou.

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