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Com novas manifestações marcadas para este sábado (22) na Venezuela, os protestos no país chegam a 22 dias. As manifestações começaram no dia 4 deste mês com estudantes protestando contra a insegurança nas universidades, após uma jovem ter sofrido tentativa de estupro e roubo no dia anterior na Universidade de Los Andes, San Cristóban, em Táchira.

Dois dias depois, centenas de estudantes se mobilizaram e um grupo atacou o governador do estado, José Vielma Cristóbal – cinco jovens foram detidos. Depois disso, começaram os protestos no estado vizinho, Mérida. No fim de semana (8 e 9), houve caminhadas em mais estado, culminando com a grande marcha, realizada no último dia 12, em que três pessoas morreram.

Até então, os movimentos não registravam atos de vandalismo em grande escala. No último dia 12, que houve confrontos entre simpatizantes do presidente Nicolás Maduro e opositores. Também foi o marco da ação de motoqueiros armados que dispararam contra os manifestantes e do uso de barricadas e bloqueios nas ruas, além do uso de coquetéis-molotovs por alguns manifestantes.

No decorrer dos dias, os protestos ganharam novos adeptos e as reivindicações também se ampliaram. Além da criminalidade, a população passou a protestar contra a alta da inflação, a escassez de bens de consumo básico, o mercado negro do dólar e os apagões energéticos. A detenção de jovens estudantes – a maioria já liberada – também aumentou a insatisfação e motivou novos protestos.

O governo de Nicolás Maduro atribuiu a culpa dos atos violentos e do vandalismo ao dirigente do partido Vontade Popular, Leopoldo López, que cumpre pena provisória de 45 dias, por ter sido considerado mentor intelectual da ação de grupos radicais nos protestos. Na terça-feira (18), dia em que López foi preso, uma manifestação convocada por ele levou milhares de venezuelanos às ruas, inicialmente em marchas pacíficas, mas, no fim do dia, houve novos atos de vandalismo, agressões a policiais e mais mortes. Ontem (21) foi confirmada a oitava morte.

A oposição e o governo falam em diálogo e paz, mas adotam discursos de confronto e acusações recíprocas. A insatisfação popular era crescente desde o ano passado e a polarização dava sinais de crescimento desde abril, quando Maduro foi eleito presidente, com pequena margem de diferença (1,5%) sobre o adversário Henrique Capriles, governador de Miranda.

O governo acusa a oposição de tentar um "golpe lento", valendo-se de grupos infiltrados nas manifestações para provocar o terror e fazer com que a opinião pública nacional e internacional voltem-se contra o governo e que, por pressão, ele seja derrotado, ou, o país sofra interferência externa. O presidente Maduro diz que os Estados Unidos patrocinam e apoiam a direita na tentativa de golpe.

Até o momento, os organismos multilaterais regionais – Comunidade dos Países Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) – manifestaram-se a favor do governo, pedindo respeito à democracia. Esses organismos pediram, porém, o diálogo e a conciliação entre as partes.

A oposição nega que tenha um plano conspiratório, mas pressiona o governo incentivando e participando do movimento da sociedade civil. Da prisão, Leopoldo López envia recados por intermédio da esposa, pedindo que o "movimento continue".

O cenário é de instabilidade e não é possível dizer quando o clima se tornará mais favorável. Um fator importante é que o governo consiga vencer a crise econômica. Com maioria na Assembleia Legislativa, Maduro tem poderes especiais para governar por decreto e adotar medidas extraordinárias para resolver o problema da inflação e da especulação financeira.

Desde o ano passado, Maduro vem adotando uma série de medidas como maior controle cambial, fixação de preços e de lucros em até 30%, por meio da aplicação da Lei de Preços Justos, e buscando apoio da Celac e do Mercosul para garantir o abastecimento de produtos essenciais.

Mesmo assim, a escassez continua em diversas regiões. As missões alimentícias – mercados estatais que vendem produtos subsidiados – têm dificuldade de suprir a demanda. E, nas redes privadas, a ausência de produtos básicos, como leite, carnes, arroz, farinha e papel higiênico, também é evidente.

O governo Maduro atribui essa situação à direita, no que ele chama de "guerra econômica", e até o momento, apesar dos investimentos e tentativas de solução, a crise se agrava. A oposição devolve as acusações e fala em corrupção e ineficiência da gestão.

Politicamente, o desafio é diminuir a polarização e buscar o consenso, ainda que a fragmentação social e política tenha sido alimentada nos últimos anos, entre chavistas, como o presidente Maduro, e não chavistas.

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