O presidente do BC, Martín Redrado| Foto: Juan Mabromata/AFP

O conflito institucional desencadeado pelo governo da Ar­­gentina ao demitir o presidente do Banco Central por decreto prejudica a imagem do país no exterior e fortalece a oposição, afirmam analistas consultados pela reportagem.

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O episódio – provocado pela recusa do presidente do BC em transferir reservas do banco para pagar dívida do governo – abre ainda novas frentes de confronto para o casal presidencial Cristina e Néstor Kirch­­ner e evidencia o traço distintivo da gestão: redobrar a aposta diante de adversidades.

Após perder as eleições legislativas de junho de 2009, mesmo adiantando o pleito em quatro meses e escalando força total à disputa, o governo reconstruiu o poder. Antes da posse, em de­­zembro, do Congresso de maioria opositora, comprou briga com meios de comunicação ao aprovar uma nova lei de mídia e deteriorou a relação com a oposição com mudanças nas regras eleitorais.

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"É um estilo típico de Cristina e de Néstor, seu companheiro de gestão: diante de fracassos não recuam, mas avançam redobrando a aposta’’, diz a analista Graciela Romer.

Mas ao demitir o presidente do BC Martín Redrado – decisão revertida ontem pela Justiça –, o governo, diz Romer, perde terreno na busca por voltar ao mercado global de crédito, do qual se afastou desde o calote da dívida de 2001. "É um paradoxo: o go­­verno tenta mostrar que honra compromissos ao buscar fundos do BC para pagar dívida, mas o faz a partir de um desrespeito ins­­titucional’’, afirma a analista.

Romer vê ainda tentativa dos Kirchner, ao criar um fundo com reservas do BC para quitar dívida, de evitar buracos no Orça­­mento e manter a política de gastos públicos elevados que sustentou os anos de crescimento econômico e nutre fidelidades políticas. Os gastos do governo cresceram 30% em 2009 em relação a 2008.