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Veja como está a intenção de votos na Argentina segundo pesquisa |
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Projeto

Para apoiadores, Kirchner restaura fé na política

O governo dos Kirchner – primeiro, Néstor, e agora, Cristina – contrasta muito com os de seus antecessores, que não tiveram a capacidade de atender aos desafios sociais e econômicos, disse Leandro Lopina, ativista de 29 anos. Mas os Kirchner também conseguiram recrutar e promover seus seguidores, o que ajudou a restaurar sua fé na política.

"Este é o primeiro projeto político que abriu as portas aos jovens e não apenas deu a eles um canto para fazer coisas inúteis, mas realmente os incluiu no centro da ação política", disse Lopina. "Eu acredito que os jovens são a garantia de que isso pode continuar e melhorar, porque, obviamente, há questões pendentes."

Os partidários mais leais a Cristina pertencem a um movimento chamado La Cámpora, em homenagem ao presidente Hector José Cámpora (1909-1980), que foi eleito em março de 1973 como delegado pessoal do ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974) com o objetivo de encerrar os 18 anos de proibição das atividades peronistas, impostos pela junta militar, e abrir caminho para um breve retorno de Perón ao poder.

O filho de Cristina, Máximo Kirchner, fundou a La Cámpora e ela tem dependido do grupo mais do que nunca, desde a morte de seu marido, para conseguir apoio em aparições de campanha e iniciar a disputa contra a velha guarda do peronismo.

"Cristina se cerca da La Cámpora porque não confia em ninguém – nem nos políticos, nem em seus próprios ministros. É por isso que seu filho deu a ela sua ‘guarda pretoriana’ que ela acredita seja sua proteção", disse o analista político Jorge Giacobbe, cuja empresa de pesquisas, assim como outras, prevê que ela vá ganhar no primeiro turno.

Sucessão

A importância dos partidários

Analistas acreditam que os jovens partidários de Cristina Kirchner podem ter um papel importante nos próximos 20 anos.

"Após as eleições, a luta pela sucessão começa dentro do peronismo", disse Mariel Fornoni, que trabalha para a empresa de consultoria Management & Fit. "Novas disputas internas vão surgir. O desafio da política é como manter-se no poder. É por isso que ela [Cristina] valoriza tanto a lealdade."

Os próprios Kirchner eram jovens ativistas políticos quando estavam na universidade de La Plata. Sua causa era a juventude peronista e alguns de seus companheiros estiveram diretamente envolvidos na resistência armada contra a junta de 1960.

  • Apoiadores de Cristina Kirchner gritam slogans de campanha durante o comício que encerrou sua campanha, em Buenos Aires
  • Cristina tem chances de vencer a eleição no primeiro turno

Uma multidão de jovens avança decidida pela avenida debaixo de uma garoa constante agitando bandeiras, batendo tambores, soltando fogos de artifício e distribuindo panfletos. Não estão "in­­dignados" como muitos de sua ge­­ração na Espanha, Itália, Esta­­dos Unidos ou outros lugares on­­de grupos protestam contra o mer­­cado financeiro e os go­­vernos. Esses jovens argentinos gostam do atual governo e querem que ele se torne ainda mais poderoso.

A presidente Cristina Fernán­­dez de Kirchner deve vencer com facilidade as eleições deste domingo. Pesquisas de opinião indicam que ela pode ser reeleita já no primeiro turno, consolidando o apoio que tem no Congresso contra a dividida oposição.

A chave para a sua vitória na disputa é uma geração que não tinha sequer nascido durante a sangrenta ditadura (1976-1983), cujo legado delineou quase todos os aspectos da visão política de Cristina.

Ela conquistou essa nova geração ao encorajá-la a tentar mudar o mundo, como os ativistas de sua geração pensaram que poderiam fazer antes do último golpe militar na Argentina silenciá-los e da­­rem início a um banho de sangue que matou, segundo dados oficiais, 13 mil pessoas e provocou um retrocesso na democracia do país.

"O mundo todo está assombrado na Argentina com a incorporação dos jovens à política", disse a presidente. "Não devem se surpreender de forma alguma, porque quando renasce a utopia é lá que os jovens estão."

Pesquisas eleitorais mostram que o apoio mais forte a Cristina, de 58 anos, está em dois grupos. Um deles é formado por pessoas como Cristina, que tinham 20 e poucos anos em 1976 e viram co­­mo um conflito armado abriu ca­­minho para um estado patrocinado pelo terror. Do outro fazem par­­te pessoas que tinham essa mesma idade durante o golpe seguinte à sociedade argentina, a crise financeira de 2001, que quase destruiu a economia do país.

Manter esses eventos frescos na memória tem sido essencial para o modelo de governo que ela e seu marido, Néstor Kirchner, iniciaram quando ele foi eleito pela primeira vez em 2003. Ela invoca esses capítulos sombrios da história do país em quase todos os seus discursos de campanha, convocando velhos inimigos, apresentando-os como novas ameaças enquanto apaixonadamente promete que seu governo vai proteger o país contra eles.

Kirchner também fez isso, an­­tes de morrer repentinamente de ataque cardíaco em outubro.

"Com o colapso de 2001, a men­­sagem de nossa geração é que temos de nos sacrificar", disse Se­­bastian Zabalia, 30 anos, formado em marketing, cujo grupo Mili­­tancia Kreativa reúne artistas que apoiam a presidente. "Quando nós começamos a entrar no mercado de trabalho nos dizem: ‘to­­dos os sonhos que vocês têm vão acabar Não sonhem mais.’ dois anos mais tarde, um cara aparece e nos diz: ‘Eu vim propor um so­­nho a vocês.’ E ele não para por aí. É inevitável que você se envolva neste projeto."

A Argentina tem registrado seu período mais longo de governos democráticos desde que uma série de golpes de estado teve início em 1930, além de um dos períodos de maior crescimento econômico.

Com grandes gastos para encorajar o consumo e manter o crescimento econômico em cerca de 8% ao ano, o governo de Cristina diz que reduziu o desemprego de 20% em 2003 para 7% nos dias atuais, e a pobreza de 54% para 8% neste ano.

Os Kirchner encorajaram os sindicatos e empresas a negociarem salários mais altos, implementaram a ajuda financeira para crianças de baixa renda, elevaram as aposentadorias e destinaram milhões em subsídios para manter os transportes e serviços públicos acessíveis.

Segundo blogueira, Kirchner retirou a Argentina do buraco

Muitos jovens argentinos foram diretamente afetados pelos problemas econômicos de 2001, quando milhares de pessoas fo­­ram para as ruas protestar com a desvalorização cambial e a ina­­dimplência, que provocaram um desemprego crescente.

Uma jovem que usa o apelido de "La Pipi" em seu popular blog pró-governo, disse que apoia Cristina porque os Kirchner resgataram o país do colapso econômico.

Ela se recusou a fornecer sua identidade porque trabalha numa grande companhia e teme se demitida por usar o Twitter e seu blog para desafiar a oposição.

"Eu vivo num bairro de casas pobres e muitas pequenas fábricas", diz a jovem de 36 anos explicando como recrutou ou­­tros blogueiros numa feira de ciências.

"E eu vi pessoas baixarem suas janelas e as ruas ficarem cheias de jovens se drogando por causa da crise de 2001. Mais tarde, eu vi as pessoas abrindo suas janelas de novo e seus filhos já não estão mais lá, mas agora trabalham nas fábricas".

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