A presidente argentina, Cristina Kirchner, com sua reeleição assegurada no domingo, é uma advogada de 58 anos com personalidade complexa, ao mesmo tempo frágil e autoritária, sedutora e taxativa, elegante e cerebral.

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"Cristina tem uma dose de racionalidade. Ela é mais analítica", disse em entrevista à AFP Alberto Fernández, chefe de gabinete dos Kirchner entre 2003 e 2008. Seu marido e antecessor, Néstor Kirchner (2003-2007), "era muito mais intuitivo", diz.

Assim, onde Néstor Kirchner impunha suas decisões por seu próprio poder, Cristina precisa se justificar.

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Reconhecida por sua facilidade com a oratória, é capaz de falar durante longo tempo sem papéis, citando cifras para apoiar suas afirmações.

Essa facilidade, herdada de sua passagem pelo Congresso, dão a ela um ar de "professora de escola" que irrita bastante muitos argentinos.

Sempre de salto alto, unhas compridas, com cabelos longos sobre os ombros, Cristina já teve quedas de pressão que a obrigaram a suspender suas atividades, inclusive viagens ao exterior.

Solitária, também se distancia de seus colaboradores. "Cristina não te deixa margem para uma relação mais íntima. Ela é estadista e impõe distância", diz à AFP um funcionário da Casa Rosada que não quis se identificar.

Alguns reprovam na presidente seu gosto por marcas de luxo, como Louis Vuitton ou Hermès. Na televisão, um comediante a imitou: "até a Victoria... Secret!".

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"Sempre foi muito elegante e sempre se maquiou muito", afirma Fernández, completando que "com Néstor podíamos esperar até uma hora para ir jantar, porque ela estava se arrumando". A obsessão pela aparência é na Argentina um traço típico da classe média à qual Cristina pertence.

Nascida em La Plata, cidade universitária a 60 km ao sul da capital, na província de Buenos Aires, aos 20 anos Cristina conheceu Néstor Kirchner, três anos mais velho, e se torna sua mulher seis meses depois.

Ambos militavam na Juventude Peronista antes de se refugiar na Patagônia durante a ditadura (1976-1983). Tiveram dois filhos, Máximo, 34 anos, e Florencia, 21.

Cristina Kirchner "é avassaladora", destaca Alberto Fernández, apesar de "às vezes se chocar com a realidade e se dar conta de que não pode continuar avassalando".

"Ela não escuta. Não há lugar para o diálogo", diz Hermes Binner, seu rival da Frente Ampla Progressista, que está em segundo nas pesquisas, mas cerca de 40 pontos atrás de Cristina.

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O grande conflito com os produtores agrícolas, em 2008, revela esse traço de seu caráter. Ela rejeitou até o final qualquer negociação, e perdeu mais de 20 pontos de popularidade. Seu vice-presidente, Julio Cobos, votou contra ela no Senado e passou à oposição.

O enriquecimento pessoal dos Kirchner desde sua chegada ao governo (+928% entre 2003 e 2010, segundo sua declaração oficial de patrimônio) incomoda cada vez mais.

Mas a morte de seu marido, após uma crise cardíaca em 27 de outubro passado, lhe permitirá mostrar uma imagem totalmente diferente: mais sensível que autoritária e menos frívola.

Quase um ano depois da morte, Cristina Kirchner mantém o luto, que se transforma em uma ótima arma política.

"À noite, é a mulher que chora por seu marido. De dia, é a presidente", resume Estela de Carlotto, titular das Avós da Praça de Maio.

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Quando Cristina Kirchner fala "dele" na televisão, com sua voz embargada, sabe que chega diretamente no coração dos argentinos.

Para ser mais competitiva, só divulgou sua candidatura no último minuto.

"Já fiz tudo o que podia fazer", disse em maio passado. No fim de junho, porém, acabou anunciando que tentaria a reeleição: "sempre soube qual era o meu dever".