A Cruz Vermelha e o regime sírio prosseguiram neste sábado (25) com negociações para a retirada dos feridos da cidade de Homs, entre eles jornalistas estrangeiros, na véspera do referendo sobre a nova Constituição, que prevê o fim da presença única do partido do presidente Bashar al Assad.
O processo de evacuação, coordenado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), não evitou a reiniciada dos bombardeios do Exército contra Homs e povoações vizinhas, o que causou a morte de mais de trinta pessoas, segundo os grupos opositores.
"Continuamos em contato com as autoridades e também com a oposição para repetir a operação de ontem à noite para retirar o maior número possível de feridos e doentes de Baba Amro e outras zonas de Homs", explicou à Agência Efe o porta-voz na Síria do CICV, Saleh Dabakeh.
Membros do Crescente Vermelho (a Cruz Vermelha nos países árabes) entraram nesta sexta-feira no castigado bairro, segundo Dabakeh, que acrescentou que os voluntários evacuaram numa ambulância sete feridos sírios que precisavam de "atendimento médico urgente", além de vinte mulheres e crianças doentes.
Os repórteres feridos, a francesa Edith Bouvier e o britânico Paul Conroy, continuam em Baba Amro, assim como os corpos dos dois jornalistas mortos quarta-feira durante um bombardeio, a jornalista americana Marie Colvin e o fotógrafo francês Rémi Ochlik.
O porta-voz do CICV assegurou que a instituição está em contato com "todos que necessitam ajuda, entre eles os jornalistas", mas não especificou quando poderão retirar os dois feridos e os corpos.
No início desta semana, o CICV anunciou que mantinha contato com o regime de Assad e os opositores para conseguir uma cessar-fogo e com isso levar ajuda humanitária às povoações mais afetadas pelo conflito na Síria, especialmente em Homs.
A cidade é alvo de uma ofensiva militar há mais de vinte dias, mas outros enclaves dos opositores também sofreram bombardeios hoje, entre eles a província de Hama, onde 19 pessoas morreram.
O restante das vítimas, segundo os opositores Comitês de Coordenação Local (CCL), perdeu a vida nas regiões de Idlib, Aleppo e Deraa, onde cinco pessoas morreram.
O aumento da violência coincide com a realização amanhã do plebiscito sobre a nova Carta Magna, para o qual mais de 14 milhões de eleitores estão aptos a votar. O plebiscito será boicotado pela oposição.
A realização da votação é questionada devido à insegurança e o derramamento de sangue que vive o país há um ano, tempo no qual, segundo os opositores, já morreram mais de 8.500 pessoas.
A redação de uma nova Constituição era uma das principais exigências no início das revoltas populares iniciadas em março de 2011 contra o regime sírio, mas a dura repressão contra os rebeldes levou os opositores a pedirem a renúncia de Assad.
Para os CCL, o plebiscito é uma tática de Damasco para "encobrir seus massacres" e uma Constituição não pode ser elaborada a menos que "todas as forças políticas e grupos sociais participem de sua redação por meio de uma comissão eleita".
A minuta da futura Constituição, criada por uma comissão designada por Assad, acaba com o monopólio do partido governante Al-Baath, que dirige a Síria desde 1963, abre as portas ao multipartidarismo e determina um mandato de sete anos com direito a uma reeleição para o presidente.
Segundo o texto, a Síria é um "Estado democrático e civil" no qual se respeitam "todas as religiões", mas a principal fonte da legislação é a jurisprudência muçulmana.
A comunidade cristã síria, que representa 10% da população do país, não gostou desse artigo, assim como os muçulmanos seculares, embora nenhum destes grupos anunciou um boicote ao referendo.
O sacerdote maronita (cristão ortodoxo) Toni Dora disse à Efe que esse artigo é uma "punhalada pelas costas" em todos os cristãos, que desta forma ficam se tornam cidadãos inferiores.
A figura do presidente na nova Carta Magna também levanta polêmica, já que como o texto somente seria aplicado após o fim do mandato de Assad, em 2014, o atual presidente poderia tentar a reeleição e permanecer no poder até 2028.
Além disso, o texto proíbe a participação de candidatos que não tenham vivido na Síria durante os últimos dez anos, o que deixa de fora do jogo político os principais líderes da oposição no exílio.
Quem são os jovens expoentes da direita que devem se fortalecer nos próximos anos
Frases da Semana: “Kamala ganhando as eleições é mais seguro para fortalecer a democracia”
Iraque pode permitir que homens se casem com meninas de nove anos
TV estatal russa exibe fotos de Melania Trump nua em horário nobre