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Cubanos ficaram divididos: parentes de imigrantes comemoraram aproximação; dissidentes do regime comunista criticaram | Alejandro Ernesto/Efe
Cubanos ficaram divididos: parentes de imigrantes comemoraram aproximação; dissidentes do regime comunista criticaram| Foto: Alejandro Ernesto/Efe

Mudanças

Confira as principais medidas anunciadas ontem pelos Estados Unidos:

Folhapress

Diplomacia

Nos próximos meses, os EUA vão restabelecer uma embaixada em Havana e conduzir visitas entre a alta cúpula dos dois governos a fim de normalizar as relações diplomáticas.

Viagens

Serão autorizadas viagens de indivíduos americanos em diversas categorias, entre elas, visitas de família; negócios oficiais de governos estrangeiros; atividades jornalísticas; atividades educacionais; competições esportivas e projetos humanitários.

Comércio

O limite de valor para remessas enviadas a cidadãos cubanos subirá dos atuais US$ 500 para US$ 2 mil. Remessas para projetos humanitários e para o desenvolvimento do setor privado cubano não precisarão de uma licença específica, como ocorre hoje.

Os EUA irão liberar a exportação de bens para a construção civil, bens de uso para empreendedores do setor privado cubano e equipamentos de agricultura para pequenos produtores rurais da ilha.

Viajantes americanos licenciados poderão importar US$ 400 em produtos cubanos, mas produtos de tabaco e álcool não podem exceder US$ 100 desse valor.

Economia

Instituições americanas poderão abrir contas em instituições financeiras de Cuba para facilitar o processo de transações autorizadas entre os dois países.

Entidades controladas pelos EUA em 30 países receberão licença para oferecer serviços e estabelecer relações financeiras com indivíduos cubanos em 30 países.

Comunicação

Passa a ser autorizada a venda de dispositivos de comunicação, software, hardware e itens americanos para a atualização dos serviços de comunicação cubanos.

Fronteiras marítimas

Os EUA convidarão os governos de Cuba e México para rediscutir as fronteiras marítimas no Golfo do México, área em que os três países ainda não têm limites definidos.

Histórico

Em mais de 50 anos, Estados Unidos e Cuba viveram momentos diplomáticos turbulentos:

1959 - Com o trunfo da Revolução Cubana, Fidel Castro assume o poder no país.

1960 - Os EUA impõem embargo total sobre o comércio com Cuba.

1961 - Os governos norte-americano e cubano rompem as relações diplomáticas. Os EUA tentam, sem sucesso, invadir a ilha pela Baía dos Porcos. Castro proclama o caráter socialista-marxista da revolução.

1962 - O presidente John Kennedy ordena o embargo total de Cuba. No mesmo ano, acontece a crise dos mísseis: Kennedy anuncia a descoberta em Cuba de 42 mísseis nucleares russos. A União Soviética aceita retirar os mísseis e, em troca, o governo americano se compromete a não invadir Cuba.

1965 - Começa o chamado "êxodo de Camarioca", que permitiu a saída de mais de 100 mil pessoas de Cuba entre 1965 e 1973.

1966 - Os EUA aprovam a Lei de Ajuste Cubano, que legaliza automaticamente e oferece trabalho aos imigrantes cubanos.

1974 - Funcionários do governo americano começam a visitar Cuba.

1980 - Cerca de 130 mil pessoas deixam Cuba para entrar nos EUA. Washington amplia o embargo, controlando as comunicações.

1994 - Ocorre a crise dos balseiros, quando 37 mil cubanos se lançam ao mar para chegar nos EUA.

1996 - Presidente Bill Clinton promulga a lei Helms-Burton, que pune as empresas estrangeiras que negociarem em Cuba.

2000 - Elián González, menino que viajou em uma balsa de Cuba para Miami, desencadeia uma nova crise entre os dois países. Um tribunal americano nega o pedido para que o garoto tenha asilo político nos EUA.

2007 - O presidente George W. Bush cria um fundo de ajuda econômica para Cuba, mas com a condição de que se inicie um processo de transição democrática na ilha.

2008 - Com graves problemas de saúde, Fidel Castro deixa o governo e passa a presidência ao irmão Raúl.

2009 - O presidente Barack Obama retira as restrições a viagens de familiares e ao envio de remessas a Cuba.

2013 - Representantes dos dois países se reúnem para retomar o diálogo sobre imigração.

2014 - Washington e Havana anunciam a retomada das relações após 53 anos de ruptura.

Site

Leia as matérias da série Passagem para Cuba, do jornalista Célio Martins, em www.gazetadopovo.com.br/mundo/passagem-para-cuba

  • Preso em Cuba havia cinco anos, Alan Gross foi libertado ontem

Estados Unidos e Cuba deram um passo histórico ontem e decidiram restabelecer relações diplomáticas rompidas desde 1961 e adotar uma série de mudanças que ampliarão o comércio e o fluxo de pessoas entre os dois países. Nos próximo meses, os americanos devem abrir uma embaixada em Havana, colocando fim a um período de cinco décadas sem presença oficial na ilha.

Na terça-feira, os presidentes Barack Obama e Raúl Castro conversaram por telefone por quase uma hora, no primeiro contato do tipo entre líderes dos dois países desde a Revolução Cubana.

As negociações entre os dois países começaram em junho de 2013 e foram realizadas em uma sucessão de encontros no Vaticano e no Canadá. Segundo a Casa Branca, o papa Francisco teve papel crucial na reaproximação. Cuba foi o principal assunto discutido no encontro que o pontífice teve com Obama em maio. Pouco depois, o papa enviou carta aos presidentes dos dois países pedindo a normalização das relações.

Os anúncios de ontem não colocam fim ao embargo econômico dos EUA à Cuba, que só pode ser levantado por decisão do Congresso. Mas eles exploram todos os limites legais para ampliar os laços econômicos, diplomáticos e pessoais entre os países.

"O presidente Obama está convencido que o embargo não funcionou", disse um assessor da Casa Branca. Segundo ele, apesar de haver apoio nos dois partidos à normalização das relações com Cuba, ainda existe considerável oposição entre os parlamentares.

Na manhã de ontem, Havana libertou o americano Alan Gross, que estava preso havia cinco anos na ilha, eliminando o principal obstáculo à reaproximação com os EUA. O governo Raúl Castro também concordou em libertar um espião americano que estava preso havia 20 anos. Em troca, os EUA libertaram três espiões cubanos condenados em 2001.

Os EUA esperam que a mudança melhore sua relação com a América Latina, onde o embargo à Cuba é condenado de maneira unânime. Como parte da reaproximação, a Casa Branca anunciou que Obama participará da Cúpula das Américas, que será realizada no Panamá em abril e para a qual Cuba foi convidada pela primeira vez na história.

Os anúncios de ontem incluem a autorização no uso de cartões de crédito e débito americanos em Cuba, a ampliação das autorizações de viagens de residentes nos EUA à ilha, a ampliação no valor de remessas trimestrais à ilha e o aumento no valor de exportações e importações entre os dois países.

Entre as medidas mais importantes está o sinal verde para que empresas de telecomunicações americanas, incluindo de internet, operem em Cuba.

Opinião

Um passo para o fim do bloqueio

Célio Martins, , editor da Primeira Página da Gazeta do Povo

Com o anúncio da retirada de uma série de restrições no relacionamento dos Estados Unidos com Cuba, o presidente Barack Obama cumpre parte de suas promessas da campanha presidencial de 2008, quando foi eleito pela primeira vez. Mas ainda está longe de atender plenamente as expectativas da comunidade internacional, que pede o fim do bloqueio imposto à ilha durante mais de cinco décadas. Para derrubar o embargo econômico será preciso convencer a maioria do Congresso americano.

As sanções econômicas do governo dos EUA prejudicam não só americanos que pretendem negociar com Cuba. Em todo o mundo há consenso de que é preciso acabar com as restrições.

A ONU aprovou 21 vezes o fim do bloqueio, mas os congressistas americanos insistem na manutenção de uma prática que afeta vários países. Empresários, governos, movimentos sociais, líderes políticos, intelectuais, artistas e organizações não governamentais, como a Anistia Internacional, pressionam pela abertura.

O governo cubano calcula em mais de US$ 1,1 trilhão os danos causados à economia do país em 53 anos, considerando a depreciação do dólar frente ao valor do ouro. São cerca de dez anos de toda a produção de Cuba, que tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 113 bilhões.

O objetivo dos EUA, de aniquilar o regime com o bloqueio, não funcionou. Pelo contrário, as medidas provocaram ódio de muitos cubanos e ajudaram a reforçar o governo comunista. A sensação que todo cubano tem é de que muitas das mazelas do país são decorrentes do embargo.

Em parte, há um fundo de razão nessa percepção. Tudo fica mais caro para Cuba no comércio internacional. De equipamentos médicos a veículos e eletrodomésticos, qualquer produto fabricado por empresas americanas ou que tenha componentes dos EUA é embargado. Para se ter noção da abrangência das restrições, uma montadora americana instalada no Brasil, por exemplo, não pode exportar para a ilha carros produzidos em território brasileiro.

A construtora Odebrecht, uma das envolvidas no escândalo da Petrobras, foi impedida de participar de uma licitação pública na Flórida, avaliada em US$ 3,3 bilhões, por estar construindo o porto cubano de Mariel.

As restrições ainda mantidas, no entanto, não invalidam nem tiram importância das decisões de Obama. Viagens, atividades jornalísticas, de comunicação em geral, educacionais, pesquisas e projetos humanitários estão entre os benefícios para cubanos, americanos e cidadãos de outros países.

O anúncio de ontem torna mais próximo o sonho de uma América unida e abre caminho para a democracia plena no continente.

Célio Martins viajou a Cuba em 2013, quando produziu uma série de reportagens sobre a ilha.

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