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Cubanos celebram libertação de prisioneiros cubanos, em acordo que precedeu o restabelecimento das relações | Reuters
Cubanos celebram libertação de prisioneiros cubanos, em acordo que precedeu o restabelecimento das relações| Foto: Reuters

Os cubanos aplaudiram o surpreendente anúncio feito na quarta-feira (17) de que seu país vai retomar as relações com os Estados Unidos, na esperança de que em breve os dois países mantenham relações comerciais, embora o embargo de 53 anos ainda não tenha sido levantado.

"Isso representa a perspectiva de um futuro melhor para nós", disse Milagros Diaz, de 34 anos. "Nós realmente precisamos de algo como isso porque a situação tem sido ruim e as pessoas estão desencorajadas", diz.

Os sinos tocaram em celebração ao anúncio e professores interromperam as aulas aos meio-dia, enquanto o presidente Raúl Castro declarava ao país que Cuba vai renovar suas relações com Washington após mais de meio século de hostilidades.

Usando seu uniforme militar com uma insígnia de cinco estrelas, o líder de 83 anos disse que os dois países trabalharão para resolver suas diferenças "sem renunciar a qualquer um de nossos princípios".

Moradores de Havana se reuniram ao redor de televisores nas casas, escolas e empresas para ouvir o histórico anúncio nacional, feito ao mesmo tempo em que o presidente norte-americano Barack Obama fazia um discurso em Washington.

"Para o povo cubano, acho que é como uma injeção de oxigênio, um desejo que se torna realidade porque, com isso, superamos nossas diferenças", declarou Carlos Gonzalez, especialista em tecnologia da informação, de 32 anos. "É um avanço que vai abrir o caminho para um futuro melhor para os dois países."

Fidel e Raúl Castro lideraram a revolução de 1959 que derrubou a ditadura de Fulgencio Batista. Inicialmente, os Estados Unidos reconheceram o novo governo, mas encerraram as relações em 1961, depois de Cuba ter adotado um governo de esquerda e nacionalizado empresas norte-americanas.

Quando Cuba se aproximou da União Soviética, os Estados Unidos impuseram o embargo comercial em 1962. Desde o colapso da União Soviética, em 1991, os cubanos enfrentam escassez de vários produtos como petróleo, alimentos e bens de consumo, o que força o país a aplicar racionamentos que vão de feijão a leite em pó.

O governo cubano responsabiliza o embargo pela maioria de seus problemas econômicos. Já Washington tradicionalmente afirma que as polícias econômicas comunistas de Cuba provocam as dificuldades.

Em seu discurso, Raúl Castro pediu a Washington que encerre o embargo comercial que, segundo ele, "provocou enormes danos humanos e econômicos".

Ramon Roman, de 62 anos, disse esperar que Cuba receba mais turistas. "Seria uma enorme injeção econômica, tanto em termos de dinheiro quanto de novas energias e seria um estímulo para as pessoas que precisam disso", afirmou.

Victoria Serrano, que trabalha num laboratório, diz esperar um grande fluxo de bens, porque a vida em Cuba tem sido "realmente muito difícil". "Em particular", disse ela, "eu espero ver uma melhora na alimentação, que haja comércio com os Estados Unidos, que estão tão próximos. Atualmente, até mesmo uma cebola se tornou um luxo."

Guillermo Delgado, aposentado de 72 anos, saudou o anúncio como "uma vitória para Cuba, porque foi conquistado sem a concessão de princípios básicos".

Para Yoani Sánchez, conhecida blogueira cubana que faz críticas ao governo, o anúncio teve um preço. Raúl Castro, disse ela, pode agora reivindicar o êxito da negociação, além de ter usado o norte-americano Alan Gross, que estava preso em Cuba, como "moeda de troca" para a libertação de três cubanos detidos como espiões nos Estados Unidos.

"Desta forma, o regime de Castro conseguiu fazer as coisas do seu jeito", escreveu ela em seu blog. "Conseguiu trocar um homem pacífico, que embarcou na aventura humanitária de fornecer internet para um grupo de cubanos (Gross), por agentes de inteligência, que causaram grandes danos e tristeza com suas ações".

Alguns dissidentes expressaram seu descontentamento por não terem sido consultados pelos Estados Unidos a respeito da medida histórica. Guillermo Fariñas considerou a ação uma "traição" de Obama, que, disse ele, havia prometido que eles seriam consultados. Outro ativista, Antonio Rodiles, afirmou que a medida "envia uma mensagem ruim".

Outros foram mais cautelosos e disseram que vão esperar para ver o que tudo isso significa. "Não é suficiente, já que não levanta o bloqueio", declarou Pedro Dura, de 28 anos. "Vamos ver se é verdade, se não é como tudo por aqui: um passo adiante e três para trás. Por enquanto, não acho que haverá qualquer melhoria imediata depois de vivermos como estamos há 50 anos."

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