• Carregando...
 | KENA BETANCUR/AFP
| Foto: KENA BETANCUR/AFP

O massacre na boate Pulse, em Orlando, deve expor ainda mais as divergências entre republicanos e democratas e virar mote de campanha eleitoral, acreditam especialistas consultados pela Gazeta do Povo. Em ambos os partidos, contudo, estarão em debate assuntos muito arraigados na cultura dos Estados Unidos, como o direito ao porte de armas e a relação com estrangeiros.

Donald Trump, potencial candidato republicano, usou o episódio para reforçar a repulsa aos muçulmanos e aos imigrantes – apesar de o atirador Omar Mateen ter nascido nos Estados Unidos, os pais dele são afegãos. Já a pré-candidata republicana Hillary Clinton aproveitou a oportunidade para falar sobre a necessidade de controlar o acesso a rifles de assalto, como os usados pelo atirador e capazes de matar dezenas de pessoas numa única investida.

INFOGRÁFICO: Relembre outros tiroteios nos EUA

Quem eram as vítimas do atentado em Orlando?

Leia a matéria completa

O professor Eduardo Saldanha, de Relações Internacionais da FAE, destaca que Trump escolheu como estratégia atacar a imigração muçulmana. Ele enfatiza que os republicanos são mais afeitos ao discurso bélico, da busca do combate ao terrorismo. Já Hillary, na opinião de Saldanha, falou pontualmente sobre o controle de armas, mas deixou o assunto para os democratas que já defenderam, no passado, claramente as suas posições, como é o caso de Obama, evitando assim uma exposição perigosa para a candidata.

O professor ainda salienta que, toda vez que há um tiroteio de grande repercussão, o presidente vai a público cobrar a restrição às armas. Apesar da opinião democrata sobre o assunto, o controle mais rigoroso não teria avançado por causa de lobbys entre os congressistas. “Ele usa esses momentos para tentar pressionar o Congresso”, comenta.

Para Vanessa Fontana, professora da Uninter e doutora da Ciência Política, o discurso republicano, que busca endurecer os processos migratórios e é mais intolerante, recria a panaceia do inimigo. “É alguém que precisa ser combatido. Mas ele não tem um rosto, pode ser qualquer um”, diz. Ela acredita que o atentado terá reflexos eleitorais e que os democratas tentarão rechaçar o que houve em Orlando, mas sem bater de frente com a indústria armamentícia.

Sobre o efeito potencial nas eleições norte-americanas, marcadas para novembro, os dois professores discordam. Enquanto Saldanha acredita que Trump, ao reforçar um discurso intolerante, mais perde do que ganha, Vanessa pondera que ele apela para o emocional, que pode gerar comoção e trazer eleitores.

Número de vítimas em junho já é o maior dos últimos três anos

O massacre na boate Pulse aumentou em 20% o número de mortos em atentados nos Estados Unidos em 2016. O ano já caminhava para ser o mais letal em tiroteios, com a maior média diária e mensal – com o atual mês, mesmo apenas ainda na metade, sendo o mais sangrento dos últimos 42 meses, com 72 assassinados até o momento. Até domingo (12), 285 pessoas foram mortas nesse tipo de ação violenta nos Estados Unidos neste ano. Em 2015, foram 469 mortos. O levantamento é da organização “Guns are cool” e inclui apenas situações que envolvem um atirador e mais de quatro vítimas desconhecidas do autor – ou seja, não é um tipo de violência personalizada. O grupo usa uma metodologia diferente do FBI, a policia federal dos EUA, que considera um fuzilamento em massa apenas casos em que morrem mais de quatro pessoas.

Constitucional

Nos Estados Unidos, o direito de portar armas é assegurado pela Segunda Emenda à Constituição Federal, aprovada em 1791. No entanto, os estados são autônomos para legislar sobre o assunto. No estado de Nova York, por exemplo, foi aprovada em janeiro de 2013 uma das leis mais rigorosas do país. As mudanças ocorreram após o massacre em uma escola na cidade de Newtown em dezembro de 2012, com 26 mortos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]