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Os presidentes Cristina Kirchner (Argentina), Dilma Rousseff (Brasil) e José Mujica (Uruguai) – líderes do Mercosul – em Mendonza há duas semanas. Na ocasião foram decididas a suspensão do Paraguai e a entrada da Venezuela, o que mudou a estrutura político-econômica do bloco | Marcelo Aguilar/Efe
Os presidentes Cristina Kirchner (Argentina), Dilma Rousseff (Brasil) e José Mujica (Uruguai) – líderes do Mercosul – em Mendonza há duas semanas. Na ocasião foram decididas a suspensão do Paraguai e a entrada da Venezuela, o que mudou a estrutura político-econômica do bloco| Foto: Marcelo Aguilar/Efe

Bloco

Norte brasileiro terá benefícios comerciais com entrada de venezuelanos

A entrada da Venezuela no Mercosul deve integrar os extremos geográficos do continente sul-americano. Ou seja, o bloco vai deixar de ser exclusivo do Cone Sul. Segundo analistas, a ampliação pode trazer ganhos diplomáticos e comerciais para as regiões brasileiras que fazem fronteira com o país de Hugo Chávez.

Estados como Roraima e Amazonas, que estão na fronteira, serão os mais beneficiados. Alimentos produzidos no norte – e até no nordeste – brasileiro podem abastecer o mercado do país vizinho, aproveitando o recente livre comércio entre as nações.

"A indústria na Venezuela não é tão bem desenvolvida quanto à brasileira. Teremos mais possibilidade de aproveitar essa escassez de mercado com nossos produtos", afirma Álvaro Paes Lima, professor de economia internacional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Atrativos

Além de beneficiar os estados brasileiros, a entrada da Venezuela no Mercosul deixa o bloco com uma característica mais continental. A nova configuração pode ser um atrativo para trazer países para a união aduaneira, diz Luiz Augusto Faria, economista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

"O Mercosul tende a crescer e a adesão dos venezuelanos pode puxar outros membros. O Equador já manifestou vontade de entrar, assim como os países associados, que possuem uma posição amigável com o bloco."

Interatividade

Qual é o futuro dos países que integram o Mercosul após a suspensão do Paraguai e a entrada da Venezuela?

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As duas últimas semanas­­ consolidaram a maior crise­­ política da história do Mercosul. Decisões arbitrárias dos países membros, diferenças ideológicas e contradição nos discursos políticos colocam um grande ponto de interrogação no futuro do bloco. O que vai ocorrer a partir de agora?

A crise começou após a sus­­pensão de um dos funda­­dores da união aduaneira,­­ o Paraguai – penalizado­­ pe­­lo processo parlamentar­­ que tirou o ex-presidente Fer­­nan­­do Lugo do poder. O ato­­ acabou entendido por Bra­­sil, Ar­­gentina e Uruguai como­­ um­­ golpe de Estado. O afas­­ta­­mento foi selado em Men­­don­­za, no dia 29 de junho. Na mes­­ma ocasião, o Mercosul acolheu, pela primeira vez em mais de duas décadas, um novo membro – a Venezuela.

Em menos de um mês, a configuração político-geográfica do Cone Sul mudou. O bloco está maior, tem um país suspenso e vem apresentando divergências entre seus membros. A primeira manifestação veio do governo uruguaio, no início da semana pas­­sada, que alegou que a entrada do país de Chávez foi forçada pelos brasileiros. Depois, o Paraguai anunciou que não reconhece os venezuelanos como integrantes da zona de livre comércio.

Para os especialistas, o maior problema é o debate de questões políticas dentro da esfera do Mercosul. "[As decisões de Mendonza] permitem uma conotação política que desvirtua a função do bloco, essencialmente econômico", explica Eduardo Saldanha, professor de direito internacional da FAE Centro Universitário.

Para Saldanha, a suspensão dos paraguaios é um erro, pois mistura comércio e percepção política. Além disso, a entrada da Venezuela também soa como tendenciosa, pois fortalece a ideologia esquerdista do bloco.

"O Mercosul se tornou ideo­­lógico com a presença do­­ governo de Hugo Chávez. A Venezuela é vantajosa para os outros países, pois fortalece o aspecto econômico, mas é perigoso imaginar que outras nações podem se afastar do bloco por causa do novo membro", observa Carlos Magno Bittencourt, economista da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

A decisão de suspender o Paraguai e aceitar a Venezuela também pode soar como uma contradição, diz Bittencourt. "Chávez possui um governo, muitas vezes, autoritário e que faz restrições aos meios de comunicação. É uma dicotomia, para quem defendeu a suspensão paraguaia."

A legitimidade das ações tomadas em Mendonza, há quase duas semanas, se encontra nos acordos selados ao longo da trajetória do Mercosul. O Protocolo de Ushuaia (1998), por exemplo, preservava o compromisso democrático entre os membros – elemento colocado em jogo pelos parlamentares paraguaios.

"Desde o Tratado de Assun­­ção, assinado por democracias jovens como o Brasil e a Argentina [que tinham acabado de sair de governos militares], a questão democrática é importante para o bloco", defende Álvaro Paes Leme, professor de economia internacional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

De acordo com Leme, para resolver as divergências com o parlamento paraguaio, os líderes do Mercosul precisam esperar pelas eleições, em 2013. Já as declarações do Uruguai podem ser entendidas como ressentimentos de países pequenos, que se sentem marginalizados dentro das decisões intergovernamentais. Segundo o professor, o mesmo ocorre com nações menores na União Europeia.

Economia

No aspecto econômico, é­­ inegável que a entrada da Venezuela será vantajosa, ale­­ga Luiz Augusto Faria, eco­­nomista da Universidade Fe­­deral do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialmente para os paraguaios e uruguaios, que precisam do potencial ener­­gético encontrado no pe­­tróleo­­ venezuelano.

"O presidente Hugo Chávez pode rejeitar o modelo comercial dos Estados Unidos e da Europa, mas mantém um bom socialismo de mercado com a China e outros países emergentes", diz Faria.

Para que tudo fique bem, no entanto, a crise pre­­ci­­sa­­ pas­­sar.

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