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Cartaz da Sinovac é visto nono Aeroporto Internacional de Guarulhos em Guarulhos, onde doses da CoronaVac vindas da China foram descarregadas, em 19 de novembro de 2020| Foto: AFP

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) anunciou que a imunização contra o novo coronavírus no estado, com a vacina CoronaVac, da chinesa Sinovac Biotech, deve ser iniciada em janeiro. Doria considerou essa vacina a mais segura que o país já testou. A Sinovac ainda não divulgou, ela própria, dados sobre a eficácia do imunizante.

Além do Brasil, Indonésia e Turquia planejam usar o imunizante. Na China, ela ainda não foi registrada oficialmente, mas está sendo aplicada em uso emergencial. A notícia do início da imunização no Brasil, onde mais de 178 mil pessoas, até o momento, faleceram em decorrência da doença, encheu a população de esperança. O que muitos não sabem, contudo, é que na China a Sinovac tem um passado de suborno e corrupção.

A Sinovac Biotech foi a primeira farmacêutica a dar início aos testes clínicos de uma vacina contra a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2003. Foi, ainda, a primeira empresa a disponibilizar no mercado uma vacina contra o H1N1, o vírus da gripe suína, em 2009. O que registros judiciais apontam, entretanto, é que o CEO e fundador da companhia, Yin Weidong, estava subornando a agência reguladora de medicamentos da China para a aprovação de vacinas naquela época, indica matéria do Washington Post.

Em 2016, à Justiça, Weidong confessou que entre 2002 e 2011 pagou mais de US$ 83 mil em subornos a Yin Hongzhang e sua esposa. Hongzhang é ex-vice-diretor do centro de testes de drogas e medicamentos da China Food and Drug Administration, o equivalente chinês da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os fatos foram confirmados por Hongzhang. Segundo ele, Weidong, CEO da Sinovac, pagou-lhe subornos por nove anos. O objetivo do executivo era conseguir a aprovação para as vacinas da farmacêutica contra a Sars, gripe aviária, febre aftosa, influenza A e hepatite A.

Hongzhang afirmou ter, então, ajudado a “acelerar o processo de aprovação” para os imunizantes da empresa. Ele acabou condenado, em 2017, a 10 anos de prisão por ter aceitado os subornos da companhia, além de sete outras empresas que não são citadas pelo Washington Post. O fundador da Sinovac, Yin Weidong, por outro lado, não recebeu sequer uma acusação. Ele permanece à frente da empresa até hoje, e tem supervisionado a campanha da farmacêutica quanto às vacinas do novo coronavírus.

Ao menos outros 20 funcionários do governo chinês, bem como administradores de hospitais e clínicas de cinco províncias do país, disseram à Justiça ter aceitado subornos de funcionários da Sinovac Biotech entre os anos de 2008 e 2016. Funcionários do “baixo clero” de diversas instituições de saúde disseram o mesmo, mas nesse caso os subornos teriam ocorrido entre os anos de 2015 e 2018.

O outro lado

Em 2017, a Sinovac alegou ter iniciado uma investigação interna a fim de apurar os casos de suborno. Até hoje, porém, nenhum resultado foi divulgado pela farmacêutica. Em abril, a empresa pontuou o seguinte sobre seu CEO em relatório:

“[Yin Weidong] não foi acusado de nenhum crime ou conduta imprópria e cooperou como testemunha com a procuradoria. Pelo o que sabemos, as autoridades chinesas não iniciaram nenhum processo legal ou inquérito do governo contra o senhor Yin”.

Pelo documento, a empresa também informou que mantém rígidas políticas que visam o combate à corrupção na companhia, mas que elas podem “não ser totalmente eficazes”.

É importante ressaltar que não há indícios de corrupção por parte da Sinovac Biotech em relação à CoronaVac, bem como não existe evidência de que os imunizantes envolvidos em casos anteriores de suborno apresentaram defeitos ou não foram eficazes. Não se pode negar, contudo, que o passado manchado da empresa coloca sua credibilidade em xeque.

“O fato de a empresa ter um histórico de suborno lança uma longa sombra de dúvida sobre suas alegações de dados não publicados e não revisados ​​por pares sobre sua vacina. Mesmo em uma pandemia, uma empresa com um histórico moralmente duvidoso deve ser tratada com grande cautela em relação às suas reivindicações”, afirmou ao Washington Post Arthur Caplan, diretor da divisão de ética médica do Centro Médico Langone, da Universidade de Nova York.

Também é importante frisar que no Brasil os testes clínicos da CoronaVac foram conduzidos por uma instituição séria, o Instituto Butantan. O relatório final, com os resultados da terceira e última fase de testes, deve ser enviado para análise da Anvisa ainda em dezembro.

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