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La Paz (AE) – Quando deu posse a seus ministros, na segunda-feira, Evo Morales prometeu ao país muito trabalho. Ninguém pode dizer que ele não está cumprindo a promessa. Morales tem chegado às 5 horas ao Palácio Quemado, sede do governo, em La Paz. E fica até 21, 22 horas. O ritmo do presidente mudou os hábitos no palácio — novos turnos foram criados para a guarda presidencial e os funcionários estão chegando agora às 7h30, em vez de 9 horas.

Não contente, Morales pediu ao vice-presidente e aos presidentes da Câmara e do Senado, todos de seu partido, que fossem morar com ele na residência oficial de San Jorge, em um bairro nobre da capital boliviana. A Bolívia tem um presidente de 46 anos, saudável e "workaholic". A pergunta é: toda essa energia e dedicação levará a algum lugar.

Morales assume com uma vantagem sem precedentes na tumultuada história recente da Bolívia: foi guindado ao poder por uma votação de 54% que o elegeu no primeiro turno, sem necessidade de o Colégio Eleitoral referendá-lo. Seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), goza de maioria absoluta na Câmara e no Senado

A sombra recai sobre a qualidade de seu gabinete e sobre o conteúdo de suas propostas. É bem verdade que Morales não correu riscos ao nomear os responsáveis por duas áreas vitais: a economia e os combustíveis (que a sustentam). O novo ministro da Fazenda, Luis Arce, é funcionário de carreira do Banco Central e professor de economia na Universidade Católica Boliviana (UCB).

O novo ministro de Hidrocarbonetos (gás e petróleo), Andrés Soliz Rada, tem fortes pendores nacionalistas, e criticou no passado a atuação de empresas estrangeiras como a Petrobrás, mas é um conhecedor da área. Advogado de formação e jornalista, Soliz tem-se dedicado ao tema nos últimos anos. E o novo presidente da estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Jorge Alvarado, é engenheiro de petróleo. Ambos têm exercitado moderação e falado em negociar com as companhias os novos contratos de exploração do gás e a reestatização das duas refinarias, atualmente nas mãos da Petrobrás.

Alarme

No entanto, entre a maioria dos outros ministros há um despreparo alarmante. Sem curso superior, sem experiência em suas respectivas áreas, são predominantemente militantes sociais que se dedicaram, nos últimos anos, a promover bloqueios de estradas, que, em última análise, levaram à queda dos dois últimos presidentes e à ascensão de Morales ao poder. É natural que o presidente lhes seja grato, mas é difícil apostar nessas credenciais como garantia de sucesso gerencial.

E há, claro, a sensibilidade às pressões dos movimentos sociais, cujos líderes peregrinaram pelos gabinetes dos novos ministros, nessa primeira semana de trabalho.

Quando percorreu três continentes, entre eleição e posse, Morales viajava num avião emprestado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que ofereceu trocar petróleo por soja, inspirado no escambo do óleo por açúcar cubano.

Essa é a química do novo governo boliviano: de um lado, legitimidade, popularidade e um Parlamento dócil; de outro, velhos compromissos de militância e velhas alianças internacionais.

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