Estádio lotado em Copenhague, na semana passada, antes de jogo da seleção local contra Israel pelas Eliminatórias da Copa| Foto: EFE/EPA/Mads Claus Rasmussen
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Na sexta-feira (10), a Dinamarca se tornou o primeiro país da União Europeia a acabar com as principais restrições para evitar a propagação da Covid-19. Com o fim da obrigatoriedade da apresentação do passe anticovid em casas noturnas (um comprovante digital de vacinação), o país escandinavo finalizou um processo que nas semanas anteriores já havia incluído a não exigência do passe em outros tipos de estabelecimentos, o fim da obrigatoriedade de máscaras no transporte público e do limite de participantes em reuniões públicas, entre outras flexibilizações.

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A média móvel de novos casos na Dinamarca está abaixo de 500 por dia e a de mortes está em três; 74% da população já completou a vacinação contra a Covid-19. Embora o governo tenha enfatizado que as restrições mais rígidas podem ser retomadas caso os números de infecções e mortes sofram altas significativas, a vida no país já é praticamente de normalidade pré-pandemia, inclusive com jogos de futebol e shows com dezenas de milhares de pessoas sem máscaras na plateia.

“Isso só pôde ser feito porque percorremos um longo caminho com o avanço da vacinação, temos um grande controle epidemiológico e toda a população dinamarquesa fez um enorme esforço para chegarmos aqui”, declarou o ministro da Saúde, Magnus Heunicke.

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De acordo com um estudo em que mais de 400 mil pessoas na Dinamarca e em outros sete países (Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Suécia, Itália, França e Hungria) foram entrevistadas ao longo da pandemia, a população do país nórdico apresentou níveis de confiança na vacina superiores aos dos outros pesquisados.

Nos vários momentos do estudo, a porcentagem de entrevistados que disseram que aceitariam se vacinar se convocados pelas autoridades de saúde ficou quase sempre acima de 80%, enquanto no Reino Unido, segundo colocado, o patamar sempre esteve abaixo dessa faixa – nos Estados Unidos, na Hungria e na França, o índice oscilou abaixo dos 50%.

Segundo os pesquisadores, colaboraram para essa confiança uma comunicação transparente do governo, mesmo quando a mensagem era desagradável, como nos momentos de lockdown, e o incentivo para que não houvesse polarização e caça às bruxas sobre o tema.

“O governo dinamarquês tratou o distanciamento social como um projeto ‘moral’, que ganhou grande apoio popular. Um projeto moral pode dar errado, pode levar à culpabilização e a conflitos. Houve discussões nesse nível na Dinamarca, mas em geral a culpabilização no país é relativamente pequena. A maioria das pessoas simplesmente seguiu a orientação das autoridades e não tomou para si a responsabilidade de policiar os outros”, afirmou Michael Bang Petersen, professor de ciência política na Universidade de Aarhus, consultor do governo da Dinamarca e coordenador da pesquisa.

“O apoio diminui ao longo do tempo, e a velocidade disso depende da polarização. Mas a polarização foi evitada porque a oposição dinamarquesa priorizou o controle epidemiológico ao invés de ganhos eleitorais”, acrescentou o professor, que acredita que esses elementos devem manter o país em situação mais calma em relação a outros europeus mesmo que restrições rígidas se tornem necessárias novamente: “Mesmo com uma terceira onda, a confiança mútua deverá ser alta o suficiente para passarmos por isso”.

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