O ditador Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela, 7 de agosto de 2019| Foto: Carlos Becerra / Bloomberg

Em março, quando o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó retornou a Caracas após uma excursão triunfante ao exterior, ganhando reconhecimento como líder legítimo no lugar do ditador Nicolás Maduro, o embaixador alemão - com alguns outros diplomatas - estava no aeroporto para recebê-lo em uma demonstração pública de apoio.

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Não demorou muito para que o regime de Maduro retirasse as credenciais do embaixador Daniel Kriener e o expulsasse do país. Kriener partiu para Berlim, com a política de seu governo intacta e com a cabeça erguida.

Mas em julho, em um sinal do fracasso do esforço liderado pelos EUA para derrubar Maduro, o enviado alemão estava de volta a Caracas e de volta a seus deveres anteriores: lidar com o governo de Maduro. Há duas semanas, ele se juntou a colegas europeus em uma reunião com o ministro das Relações Exteriores de Maduro, Jorge Arreaza. Arreaza também realizou reuniões oficiais na Espanha e em Portugal, dois países aliados de Guaidó.

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O pingue-pongue diplomático é um reflexo da realidade: Maduro continua no comando hoje tanto quanto sempre esteve, conduzindo os negócios da nação, apesar do reconhecimento de Guaidó por mais de 50 capitais.

As mudanças têm causado agitação. No início deste ano, diplomatas baseados em Caracas atualizaram as suas listas de contatos, substituindo os associados de Maduro pelos de Guaidó. Muitos adidos militares foram enviados para seus países para evitar lidar com os generais de Maduro. Um país europeu convidou apenas funcionários de Guaidó para a celebração do seu dia nacional. Para evitar um conflito, um país latino-americano cancelou sua celebração anual. Muitos dos diplomatas entrevistados para este artigo falaram sob a condição de que seu país permanecesse anônimo para evitar irritar os dois lados da disputa.

Tudo isso criou preocupações com a segurança, uma vez que os assessores de Guaidó estão sob constante ameaça de prisão. Também levantou questões mais mundanas, como a obtenção de placas de automóveis diplomáticos.

Há alguns meses, duas autoridades de um dos governos com a postura mais agressiva anti-Maduro não puderam enviar seus pertences de volta ao seu país de origem porque as autoridades se recusaram a carimbar as caixas no porto. Um funcionário da alfândega parecia ter prazer ao perguntar a eles: "Por que você não pede a Guaidó que cuide da sua mudança?". O governo dos oficiais enviou uma carta cordial solicitando a aprovação da alfândega, que por fim foi dada.

Reconhecimento simbólico

Um oficial da América Latina que não está autorizado a discutir o assunto publicamente disse que seu país cometeu um erro ao reconhecer Guaidó tão rapidamente. Agora, ele disse, os diplomatas precisam fazer "coisas malucas" que nunca aprenderam com os livros didáticos.

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O que está ficando claro é que o reconhecimento a Guaidó existirá em uma espécie de nível simbólico. Mas, apesar das evidências de que as duras sanções dos EUA à Venezuela estejam afetando Maduro e seus associados, os assuntos do cotidiano estão sendo conduzidos com o governo de Maduro.

A Espanha, por exemplo, abriga um colega de Guaidó, Leopoldo López, que mora residência oficial do país em Caracas há meses. Enquanto isso, as relações da Espanha com Maduro permanecem inalteradas em relação ao ano passado.

O primeiro-ministro de Curaçao, uma ilha do Caribe controlada pelo governo da Holanda, pró-Guaidó, recebeu recentemente Manuel Quevedo, chefe da gigante petrolífera Petróleos da Venezuela, controlada por Maduro. Eles discutiram a tentativa da PDVSA de renovar um acordo para operar uma refinaria na ilha.

E embora o Brasil tenha reconhecido plenamente a enviada de Guaidó como embaixadora, o país solicitou e obteve do governo Maduro a renovação das credenciais diplomáticas de algumas autoridades.

Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse que a Venezuela é um caso único no qual coexistem um governo constitucional legítimo e uma ditadura ilegítima. O ministério expressou a esperança de que ambos continuem a cumprir a Convenção de Viena, que garante imunidade e privilégios para diplomatas estrangeiros.

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Governo ilegítimo

Maduro está sob crescente pressão estrangeira desde que assumiu um segundo mandato no início de janeiro, após eleições amplamente condenadas como fraudulentas. As tensões aumentaram em 23 de janeiro, quando Guaidó, então líder da Assembleia Nacional, se declarou presidente. Ele e seus aliados prometeram restaurar o estado de direito a uma nação devastada pela hiperinflação, fome e corrupção desenfreada.

Os EUA reconheceram imediatamente Guaidó, e foram seguidos por dezenas de países em todos os continentes. Enquanto isso, os governos que apoiam Maduro também se veem com alternativas desagradáveis. Rússia e China, ambos apoiadores de Maduro, tiveram vários contatos com aliados de Guaidó.

Tudo isso mostra, de acordo com Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, os limites da pressão diplomática.

"Isso tudo foi uma aposta grande e arriscada", disse ele sobre a decisão de governos estrangeiros de substituir Maduro por Guaidó. "Os europeus, não importa o quanto eles neguem, já começaram esse processo de voltar aos trabalhos com Maduro. Os países da América Latina em algum momento terão que fazer o mesmo".