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Na noite da última quinta-feira, a Catedral de Santiago foi invadida por manifestantes pró-aborto que quebraram bancos e picharam o altar com frases contra o governo, revoltados com recentes declarações do presidente conservador Sebastián Piñera. Há menos de um mês, num caso de grande exposição midiática, Piñera defendeu a manutenção da gravidez de uma menina de 11 anos que havia sido estuprada, causando repúdio na esquerda e em boa parte da sociedade.

Após o ataque à igreja, ele reiterou seu apoio à decisão: "Temos um firme compromisso com a proteção à vida daquele que está por nascer".

O aborto é apenas um dos temas delicados que a direita chilena enfrenta a menos de quatro meses das próximas eleições presidenciais.

Dividida, sem consenso em questões institucionais e sociais, com um candidato que desistiu por depressão (Pablo Longueira) e com a popularidade do atual presidente despencando para menos de 30%, a direita do Chile busca uma renovação política.

Depois de muitas negociações, as duas principais forças direitistas, a UDI (União Democrática Independente) e a RN (Renovação Nacional), decidiram apoiar a economista Evelyn Matthei, também conhecida como "dama de ferro" chilena, por sua atitude rígida e fortes decisões.

Matthei terá o grande desafio de enfrentar a favorita ex-presidente Michelle Bachelet, da centro-esquerdista Concertação. É uma rara disputa entre mulheres pelo cargo mais importante do país -em 2007, na Argentina, Cristina Kirchner venceu Elisa Carrió, segunda colocada.

"A candidatura de Matthei, uma política muito conhecida, de opiniões fortes, é uma forma de tentar algum consenso na ala conservadora. É difícil, porque a principal bandeira, a economia, não está funcionando", diz Fernando Garcia-Naddaf, da Universidade Diego Portales.

"O Chile tem hoje boa taxa de crescimento, de 4%, desemprego em baixa e se fortalece como polo de atração de negócios estrangeiros. Mas isso não tem bastado para o chileno médio", diz o analista político Guillermo Hollzman.

Ambos acreditam que, desde as revoltas estudantis de 2011, a sociedade tenha despertado para temas como distribuição de renda, acesso à educação e reforma política, que se tornaram mais importantes que a economia.

Matthei e Bachelet dividem um passado comum: os anos de implantação da ditadura militar (1973-1990), que acompanharam de lugares próximos, mas opostos.

O pai de Matthei foi chefe da Força Aérea chilena e um dos membros da primeira junta a governar o país no regime de exceção. Já o de Bachelet, também general, permaneceu fiel ao ex-presidente derrubado Salvador Allende, e, por isso, foi preso e torturado, morrendo na prisão. "A ditadura certamente será um tema na campanha, acaba de entrar na pauta. E há muito a se fazer para chegarmos a um ponto de dizer que superamos isso como sociedade", diz Hollzman.

Congresso

Os analistas concordam, porém, que a estratégia da direita é menos a de ganhar a eleição, neste momento, e mais a de tentar obter mais cadeiras no Congresso.

"A RN não queria Matthei, que é um nome da UDI. Preferia escolher outro candidato. Mas eles sabem que se os dois partidos entram divididos, a esquerda tomará mais assentos", diz García-Naddaf.

Bachelet, que obteve mais de 70% dos votos nas primárias do mês passado, é franca favorita para ganhar a eleição.

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