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Nova Iorque – Mulheres por cima. O malicioso slogan feminista nunca esteve tão em voga na centenária Universidade de Harvard. Drew Gilpin Faust fez duplamente história ao se eleger presidente da entidade: tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo e leva para a direção uma proposta radicalmente oposta à de seu antecessor, o polêmico Lawrence Summers, famoso por declarar que as mulheres tinham pouco talento para as ciências exatas.

Aos 56 anos, a senhora Faust, historiadora formada na Bryn Mawr College, com doutorado em civilização americana pela Universidade da Pensilvânia, faz história ao romper com a tradição. Cabelos curtos, óculos de armação quase invisível, brincos discretos, sempre com tailleur de cores sóbrias, entre o cinza, o marinho e o negro, ela tem fama de ser durona, mas desarma seus adversários com voz suave, memória de arquivista e sorriso levemente irônico. "Ela é uma historiadora com os olhos no futuro", diz Susan Graham, presidente da comissão de orientadores de Harvard.

"Como orientadora, ela tem talento para estabelecer objetivos ambiciosos e conceber tarefas multidisciplinares. Como professora, é conhecida como alguém que realmente se importa com o desenvolvimento dos estudantes, criando um ambiente de desafio intelectual muito importante para que Harvard produza tantos trabalhos de qualidade", diz Sidney Verba, diretor da Biblioteca de Harvard.

"Ela é uma acadêmica eminente, tem uma boa experiência administrativa e é uma pessoa maravilhosa. É a liderança que Harvard precisa para encarar os anos que tem pela frente", comenta Verba.

Outro que se derrete em elogios é James Houghton, membro da comissão que a elegeu: "Ela consegue ser ao mesmo tempo decidida e prestativa, tem a mente aberta e dura, é eloqüente e afirmativa, pesquisa a tradição, mas aposta na inovação. Mas Drew trafega em campo minado. É feminista feroz, defensora ardente dos estudos femininos, numa universidade com longa tradição de ensino masculino".

Sua assistente, Rebecca Walker, é conhecida pelo programa "I spy sexism" (eu espiono o sexismo), que incentiva estudantes a denunciar qualquer tentativa de denegrir mulheres entre professores e alunos.

Depois das declarações infelizes de Summers, liderou uma força tarefa feminina e conseguiu US$ 50 milhões do orçamento de Harvard para "incentivar a diversidade no campus". Com esta montanha de dinheiro, ela criou uma inspetoria da diversidade, cargo ocupado por Evelyn Harmmonds, do Departamento de Estudos Afro-americanos, pronta a verificar cotas de mulheres, negros e homossexuais em cada departamento.

Mas que ninguém imagine uma amarga solteirona. A senhora Faust tem uma típica família de classe média alta. Casada com Charles Rosenberg, historiador de ciências dedicado à área de medicina, tem uma filha graduada com louvor em Harvard e uma enteada especialista em literatura caribenha. Sua especialidade como historiadora? A guerra civil americana. Seu livro mais famoso trata do papel das mulheres durante o conflito. Este, aliás, é um de seus temas preferidos: debater se a guerra é mesmo um campo exclusivamente masculino.

Guerras à parte, no dia da eleição, fez um discurso conciliador. "Para que Harvard tenha futuro, precisamos achar novos meios de trabalhar juntos. Estamos numa universidade em que cada um se imagina de um lado do rio", avaliou Drew Faust ao aceitar o cargo.

O processo de escolha levou um ano e incluiu a criação de uma comissão, definida a partir de dois grupos de trabalho entre os professores, para analisar mais de 2.300 questionários distribuídos no campus, com perguntas sobre mais de 750 candidatos, de dentro e de fora da universidade.

A historiadora é popular também entre os alunos, garante Paul Finnegan, presidente do diretório estudantil: "O comitê fez muitas pesquisas entre os alunos, e o nome dela sempre aparecia. Acho a escolha excelente e quero puxar aplausos para ela numa das próximas assembléias de estudantes. A popularidade entre alunos mal disfarça a divisão entre as faculdades".

Admissão de mulheres

Fundada em 1646, Harvard teve cerca de 300 anos de história como "um celeiro da masculinidade". Oberlin seria a primeira faculdade americana a admitir mulheres, em 1837. O famoso Vassar College foi fundado em 1865 para ser exclusivo delas. Cornell aceitaria mulheres em 1872.

A solução de Harvard veio em 1879, com um adendo à universidade conhecido como Annex: nele, as alunas teriam aulas com professores de Harvard, todos homens, estariam separadas dos alunos e receberiam um diploma de segunda classe, sem o selo da entidade. A tutela era o caminho encontrado entre duas alternativas rejeitadas: a da educação comum para ambos os sexos e a da recusa total em aceitar mulheres dispostas a pagar caro por seus estudos.

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