Apoiadora do ex-presidente Mursi aparece diante de soldados no subúrbio do Cairo: violência complica o processo de transição| Foto: Amr Abdallah Dalsh/Reuters
Mulher chora segurando cartaz com a imagem de Mursi

Os confrontos entre soldados e policiais egípcios com islamitas, que protestavam contra a deposição do presidente Mohamed Mursi, deixaram ontem pelo menos 54 mortos, sendo 51 manifestantes e três integrantes das forças de segurança. O braço político da Irmandade Muçulmana convocou um rebelião contra o Exército, intensificando ainda mais a crise.

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O número de mortos no confronto, ocorrido do lado de fora da sede da Guarda Republicana, no Cairo, é o maior em um único incidente desde que grandes manifestações levaram à queda do governo de Mursi.

Antes mesmo da contagem dos corpos, havia relatos conflitantes sobre como a violência teve início. Manifestante pró-Mursi disseram que as tropas atacaram seu acampamento sem terem sido provocadas, pouco depois de terem realizado orações durante a madrugada. Já os militares dizem que foram atacados, primeiro por homens armados, que mataram um oficial do Exército e dois policiais, e depois com pedras e coquetéis molotov.

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Os confrontos duraram três horas. Manifestantes jogavam pedras e coquetéis molotov dos telhados. Ambulatórios médicos próximos, dirigidos por partidários da Irmandade, ficaram cheios de manifestantes feridos. Mais de 400 pessoas ficaram feridas.

A violência deve intensificar os conflitos entre a Irmandade Muçulmana, de Mursi, que acusa os militares de terem dado um golpe militar contra a democracia. Já seus opositores afirmam que Mursi desperdiçou sua vitória de 2012 e estava destruindo a democracia ao aumentar a presença da Irmandade no Estado.

O principal clérigo muçulmano do país, xeque Ahmed el-Tayeb, que apoiou a queda de Mursi, advertiu sobre a possibilidade uma "guerra civil" e disse que irá se isolar até que a violência termine, uma demonstração rara e dramática de protesto dirigido aos dois lados. Ele exige o imediato estabelecimento de um processo de reconciliação, que inclui a libertação de prisioneiros que fazem parte da Irmandade.

Ahmed el-Tayeb, chefe da Mesquita de Al-Azhar, disse que não "tinha escolha" a não ser se isolar em sua casa "até que todos assumam suas responsabilidades para encerrar o derramamento de sangue em vez de levar o país para uma guerra civil".