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Paris (AE) – A democracia israelense demonstra mais uma vez suas virtudes. O afastamento do "herói" Sharon não afetou seu funcionamento. Todas as engrenagens continuam intactas e girando. Umprimeiro-ministro interino continua tocando os assuntos do governo. Trata-se de Ehud Olmert, antigo braço direito de Sharon, e que o substituirá também à frente do novo partido político, Kadima, criado por Sharon para guinar para o centro seus antigos amigos do Likud, este doravante dirigido pelo "falcão" Benjamin Netanyahu.

Perfeito, só que persistem as incertezas, pois não se sabe quais eram as intenções exatas de Sharon. Ele pretendia concluir o processo de paz ou, ao contrário, aproveitar a retirada de Gaza para endurecer a ocupação da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental? Tampouco se conhecem as intenções de Ehud Olmert, o novo homem forte de Israel.

Uma coisa certa é que Olmert não tem nada do carisma de Sharon. Personagem terno, que só foi militar de escritório, mais funcionário que guerreiro. Isso não quer dizer um homem fraco. Como prefeito de Jerusalém durante seis anos, ele controlou com mão de ferro a pequena população nacionalista da Cidade Santa. Trata-se de um homem seguro de si, intratável, grande manipulador, se necessário demagogo, hábil na polêmica e, às vezes, uma língua ferina.

O grande mistério está em suas intenções. Até aqui ele era uma figura essencial do Likud, em que integrava a ala dos falcões. Seus adversários o censuravam, aliás, por "só acreditar na força." Em todo caso, nada nos primeiros atos de Ehud Olmert sugere uma nova "virada de casaca" e um retorno do ao ninho dos falcões.

Quem é Olmert hoje? A julgar por suas últimas declarações, ele aceita a divisão de Jerusalém, onde renunciaria aos bairros periféricos de Jerusalém Oriental habitados por palestinos. Quanto às "colônias", esse antigo defensor hoje se declara pronto a ordenar novas "retiradas da Cisjordânia".

Resta uma última questão: admitindo-se que a mudança de falcão para pomba seja sincera e durável, Olmert terá envergadura suficientemente para impor novas concessões, quando até mesmo Sharon, com toda sua aura, teve dificuldades para impor a retirada de Gaza?

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