O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, que fugiu para a Argentina em 2019.| Foto: AFP
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No próximo domingo (18), os eleitores bolivianos vão às urnas para escolher o presidente do país. Inicialmente, a votação tinha sido marcada pelo Tribunal Superior Eleitoral do país para maio, mas foi adiada em razão da pandemia do novo coronavírus – primeiro, para 6 de setembro; depois, para o dia 18 de outubro. Até o momento, o país registrou cerca de 140 mil casos da doença e 8,5 mil mortes causadas pela Covid-19.

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Esse será o segundo pleito presidencial em um ano na Bolívia. É que os resultados das eleições gerais de outubro de 2019 foram contestados, dando início a uma crise política no país e culminando na renúncia de Evo Morales, que fora eleito para mais um mandato à frente do Executivo boliviano. Em dezembro do mesmo ano, logo após Alberto Fernández tomar posse como presidente da Argentina, Morales chegou ao país para se refugiar e lá ainda permanece.

Mesmo longe de sua terra natal, contudo, o “fantasma” de Evo continua rondando a Bolívia e, por mais que ele não seja candidato, as eleições do próximo domingo podem marcar, ainda que indiretamente, sua volta ao poder. Isso porque Luis Arce, afilhado político de Morales, que concorre pelo Movimento para o Socialismo (MAS), legenda do ex-presidente, lidera as intenções de voto no país.

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Levantamento que veio à público na semana passada mostrou Arce com 41,2% das intenções de voto, enquanto Carlos Mesa, que já esteve à frente do Executivo boliviano entre outubro de 2003 e março de 2005, tem 33,5%. A pesquisa foi divulgada pela Unitel, principal emissora de televisão da Bolívia. Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa conquistar mais de 40% dos votos e superar o segundo colocado em, no mínimo, 10 pontos percentuais.

Morales não faz questão nenhuma de esconder que quer voltar ao poder por meio do afilhado e continua se reunindo constantemente, de forma remota, com as lideranças de seu partido. Ainda no início do ano, escreveu em seu Twitter que “com a força e a unidade do povo, derrotaremos os golpistas. Voltaremos e venceremos!”. Na mesma época, em ato realizado na argentina para comemorar os 14 anos de sua primeira posse e promover o MAS, o ex-presidente disse que a volta do partido ao poder era “questão de tempo”.

Oposição unida nas eleições da Bolívia para combater volta do socialismo

A oposição da Bolívia, contudo, está unida para não deixar o MAS chegar ao poder. Uma das tentativas se deu pela via judicial. Recentemente, Arce divulgou uma pesquisa de intenção de votos feita pelo próprio partido, o que é proibido pela legislação boliviana. A Justiça rejeitou, contudo, um pedido de inabilitação do MAS nessas eleições e garantiu a legenda no pleito. A ação havia sido protocolada pela senadora Carmen Eva Gonzales, ligada à direita do país.

O que também ocorreu foi a desistência de dois candidatos com o objetivo de evitar uma divisão mais intensa por parte dos eleitores que se opõem ao MAS. No dia 17 de setembro, a um mês do pleito, a presidente interina do país, Jeanine Añez, renunciou à sua candidatura. No anúncio, ela deixou bem claro qual era o seu objetivo: “não é um sacrifício, é uma honra; renuncio para que o voto democrático não se divida e o MAS acabe ganhando”.

Añez pediu, também, para que o povo se una a fim de “salvar a democracia”. Ela é presidente interina da Bolívia desde 12 de novembro de 2019, quando, então segunda-vice-presidente do Senado do país, declarou-se presidente em uma sessão legislativa sem quórum e sem a presença de representantes do MAS.

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No último domingo (11) foi a vez de Jorge “Tuto” Quiroga, que também já foi presidente do país (2001-2002), desistir da eleição. Assim como Añez, disse que a decisão foi tomada para diminuir as chances do MAS reconquistar o poder. Quiroga é ferrenho crítico de Evo Morales, a quem já acusou diversas vezes de corrupção.

“Não tenho possibilidade de chegar à Presidência, por isso declino de minha candidatura. Tenho na alma profunda e enorme angústia. Tenho diferenças com outros candidatos, mas espero que atuem para derrotar o MAS”, afirmou.

Apesar disso, nenhum dos ex-candidatos declarou apoio a Carlos Mesa, que é quem tem mais chances, segundo as pesquisas, de derrotar Arce, “afilhado” de Evo Morales. Enquanto Quiroga e Jeanine Añez se identificam com a direita, Mesa é considerado um político de centro e já atuou, inclusive, junto ao governo de Morales em outras ocasiões.