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Um problema crítico e inevitável, para o qual o governo brasileiro não está minimamente preparado. É assim que especialistas classificam o aumento do nível dos oceanos, uma das conseqüências do aquecimento global. O Brasil, que tem muitas de suas principais cidades à beira-mar, precisa tomar com urgência medidas para minimizar os possíveis prejuízos, alertam eles.

Para o oceanógrafo David Zee, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), pesquisas divulgadas recentemente comprovam e até agravam as previsões mais pessimistas sobre a elevação do nível oceânico, que seria de cerca de um metro daqui a cem anos no pior cenário. De acordo com estes estudos, a emissão de gases do efeito estufa alcançou níveis recordes em 2004 e a Groenlândia está derretendo duas vezes mais rápido do que há dez anos.

- Já não é possível evitar este problema. Se todos os países parassem hoje de emitir gás carbônico na atmosfera, o mar continuaria subindo por várias décadas. Mudar o clima é como desviar um transatlântico. Uma emissão hoje vai causar um aumento de temperatura daqui a 40 ou 50 anos - afirmou ao GLOBO ONLINE o geofísico Luiz Gylvan, do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Cientistas de todo o mundo acreditam que o aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, como o gás carbônico, é a principal causa da elevação das temperaturas terrestres e, conseqüentemente, dos níveis mais altos dos oceanos. Este fenômeno ocorre devido ao derretimento das geleiras e da expansão termal da água do mar.

Pesquisas incipientes no Brasil

David Zee ressaltou que o Brasil deve estudar previsões sobre o comportamento da orla litorânea com a elevação do nível do mar e alternativas de deslocamento de obras e populações costeiras:

- Para o efeito estufa diminuir, é necessária a colaboração de todos os países. Esta é uma possibilidade diminuta. O Brasil precisa fazer estudos de prevenção e simulações de cenários para intervenções localizadas, em função das características de cada cidade. Rio e Olinda, por exemplo, necessitam de planos para a preservação do patrimônio histórico.

Gylvan e Zee concordam que as pesquisas brasileiras nesta área ainda são incipientes. Para o oceanógrafo, o assunto só será prioritário para o governo quando houver uma catástrofe de visibilidade.

- O que temos são iniciativas voluntárias de alguns pesquisadores. Não tem apoio por parte do governo. Não existe sequer uma meta ou um propósito - criticou Zee.

Entre as ameaças que o Brasil enfrenta, estão o risco de contaminação dos lençóis freáticos pela água do mar, a diminuição da capacidade de escoamento dos rios e a destruição de construções na orla devido a ressacas.

O Ministério da Ciência e Tecnologia não respondeu ao GLOBO ONLINE sobre as ações do governo para lidar com o problema.

- Os efeitos do aquecimento global ocorrem gradativamente, sem que as pessoas percebam. Mas o Brasil vai sentir as conseqüências, como o aumento do nível dos oceanos. Se continuar assim, é inexorável - disse Zee.

- Teremos de aprender a viver num planeta mais quente - completou Gylvan.

Segundo David Zee, a falta de atenção aos efeitos do aquecimento global sobre os oceanos custa caro. Ele dá como exemplo a maneira desastrosa como o governo Bush administrou a crise do furacão Katrina, que destruiu a costa dos Estados Unidos no Golfo do México:

- Depois do Katrina, garanto que as autoridades dos EUA estão revendo as prioridades. O governo americano está colhendo os frutos da irresponsabilidade, inclusive o ônus político. Bush foi para a berlinda depois que se revelou que ele sabia do problema com antecedência e não deu a devida importância.

Um novo estudo revela que o aumento das temperaturas dos mares é a principal causa para a formação de furacões mais fortes.

Os especialistas alertam ainda que reduzir a emissão de gases do efeito estufa é a única forma de reverter o aquecimento global.

- Precisamos evitar que o clima mude tanto. O único modo é limitando as emissões - declarou Gylvan.

De acordo com Zee, os países devem realizar estudos mais expressivos sobre energias alternativas, criando instrumentos para que a população efetivamente as utilize.

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