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Buenos Aires – O ex-presidente da extinta URSS, Mikhail Gorbachev, Nobel da Paz de 1990, seria o alvo da mais recente estratégia do governo do presidente Néstor Kirchner para tentar resolver a denominada "Guerra da Celulose", o conflito diplomático que possui há um ano e meio com o Uruguai, cujo pivô é a construção de uma fábrica de celulose no município de Fray Bentos, sobre o Rio Uruguai, que divide os dois países.

Segundo publicou ontem o jornal Clarín, o governo Kirchner já entrou em contato com Gorbachev, que está se recuperando em Munique, Alemanha, de uma operação. Além disso, a secretária de Ambiente da Argentina, Romina Picolotti, reuniu-se há poucos dias com a ecologista queniana Wangari Maathai, Nobel da Paz de 2004, para integrar o dueto de Nóbeis que mediariam o conflito argentino-uruguaio.

O entrevero Argentina-Uruguai é o pior conflito entre os dois países desde 1955. Os dois governos estão em uma escalada de tensão diplomática crescente que está abalando o próprio Mercosul. Para complicar, no meio desse cenário delicado, por motivos políticos e econômicos de peso, os dois lados não aceitam retroceder.

Por um lado, Kirchner respalda os habitantes argentinos da área da fronteira e exige que a construção da fábrica seja suspensa. Os argentinos afirmam que ela causaria um "Chernobyl" ambiental e econômico.

Do outro lado da fronteira, o governo uruguaio rejeita categoricamente a exigência, alegando que a fábrica segue rígidos padrões ambientais europeus, e que portanto não poluirá. Além disso, o investimento da instalação da fábrica, pertencente à empresa finlandesa Botnia, representa US$ 1,2 bilhão. É o maior investimento privado da história do Uruguai. O presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, conseguiu o respaldo de todos os partidos da oposição, o empresariado e opinião pública na briga contra Kirchner.

Há três semanas, Kirchner pediu ao rei da Espanha, Juan Carlos, que fosse o "facilitador" do diálogo entre a Argentina e o Uruguai. Vázquez aceitou. O rei enviou um representante especial, Juan Antonio Yáñez, que foi recebido com frieza em Montevidéu. No Uruguai, deixaram claro que o diálogo será impossível enquanto continuarem os piquetes argentinos, realizados na cidade de Gualeguaychú, na ponte que liga os dois países.

As manifestações estão se transformando em um verdadeiro bloqueio econômico ao Uruguai. Entre janeiro e março passado, estes piquetes causaram perdas de mais de US$ 400 milhões à modesta economia uruguaia.

Para Kirchner, conseguir a suspensão da construção da fábrica consistiria em um grande trunfo eleitoral. O presidente, de olho na reeleição no ano que vem (ou no caso da candidatura de sua esposa, a senadora Cristina Fernández de Kirchner), necessita vencer a queda de braço com o Uruguai.

O cenário se agravará a partir de amanhã, quando os habitantes da cidade argentina de Colón prometem realizar "piquetes-surpresa" na ponte que a liga com a uruguaia Paysandú. Desta forma, ficarão bloqueadas duas das três pontes que ligam os dois países.

Os manifestantes argentinos também prometem realizar no dia 12 de dezembro, no centro da capital do país, uma manifestação para conseguir o respaldo de todo o país na ofensiva antiuruguaia.

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