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Vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, e o presidente do país, Alberto Fernández, em ato popular, em dezembro de 2021, em Buenos Aires.
Vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, e o presidente do país, Alberto Fernández, em ato popular, em dezembro de 2021, em Buenos Aires.| Foto: EFE/ Juan Ignacio Roncoroni

Diante da crise econômica, energética e alimentar reforçada pela guerra na Ucrânia, o mundo precisa de mais combustível e alimento. Uma oportunidade sem precedentes para a Argentina, que tem a segunda maior reserva de óleo e gás de xisto e que é destaque na produção de milho, trigo e fertilizantes.  Seria o cenário ideal para o fortalecimento da economia argentina, não fosse o kirchnerismo.

O advogado e professor da Universidade de Buenos Aires Flavio Gonzalez explicou como o país vizinho deve perder, mais uma vez, uma oportunidade para se desenvolver. “As condições são muito favoráveis para as exportações, como talvez o país nunca tenha tido na história. O problema é que, com o governo kirchnerista, é muito difícil aproveitar esse cenário”, apontou.

A influência da vice-presidente do país, Cristina Kirchner, no rumo do setor econômico da Argentina ficou evidente mais uma vez com a posse da nova ministra da Economia, Silvina Batakis. Ela entrou no lugar de Martín Guzmán, que foi fortemente criticado pela vice-presidente. A nomeação de Batakis foi tratada como uma vitória do grupo político de Kirchner.  

Para Gonzalez, apesar dos problemas econômicos que assombram hoje o mundo e o país, como a inflação, os problemas políticos da Argentina é que fazem com que o país “não encontre soluções”. E, segundo ele, essa questão tem raiz no kirchnerismo.  

“O problema político é mais grave que o econômico e o presidente Alberto Fernández não tem poder. Quem tem poder é a vice-presidente", reforça Gonzalez, apontando para o fato de que essa inversão na hierarquia é uma “anomalia”.  

Em entrevista à Gazeta do Povo, o economista listou os obstáculos econômicos que são ignorados pelas prioridades kirchneristas: déficit fiscal; legislação trabalhista anacrônica; programas sociais que perpetuam a pobreza; impostos e legislação econômica que não permitem um ambiente amigável para as empresas e investimento estrangeiro; emissão monetária descontrolada, inflação e desvalorização do peso (resultado da falta de credibilidade das políticas argentinas).

Falta de credibilidade impede investimento estrangeiro 

Na semana passada, o embaixador dos Estados Unidos na Argentina, Marc Stanley, disse ao Senado que as empresas americanas têm grande vontade de investir no país latino-americano, mas que não o fazem “pelo risco que correm pelas restrições ao acesso ao capital impostas pelo governo”. 

Stanley reforçou que o país precisa deixar para trás a antiga forma de se relacionar com os Estados Unidos. E apontou para a onda de possibilidades estrangeiras diante da necessidade global de alimentos e combustível, alertando para o fato de que a Argentina não está sabendo aproveitar as oportunidades.  

“Não acredito que queiram esperar até 2023 para surfar esta onda”, concluiu o diplomata, que destacou a importância do próximo encontro entre o presidente argentino e seu homólogo americano, Joe Biden, para transformar a diplomacia entre os países.

Inflação no país e tributação para empresas 

A guerra na Ucrânia reforçou um problema que a Argentina já sofre há dez anos. Os argentinos convivem com a alta inflação, que deverá ser de mais de 72% no acumulado de 2022, segundo previsões do Banco Central. A inflação de 29,3% acumulada de janeiro a maio representou o maior patamar para os cinco primeiros meses do ano desde 1991 na Argentina.  

A solução proposta pelo presidente argentino, Alberto Fernández, foi enviada ao Parlamento em junho. É o projeto de lei que deve criar uma tributação para a “receita inesperada” obtida pelas grandes empresas, como forma de compensar os aumentos acentuados dos preços internacionais. 

Segundo ele, o projeto de nova tributação serve, também, para cumprir com o acordo de refinanciamento da dívida de US$ 45 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). 

A novidade, claro, não foi bem recebida pelo empresariado argentino. O presidente da Associação Empresarial Argentina (AEA), Jaime Campos, discursou no começo de junho, em um evento de celebração dos 20 anos da entidade, declarando que a nova tributação é um retrocesso. “Temos mais de 160 impostos no nosso país. E, para voltar a crescer e gerar emprego, é preciso reduzir impostos”, reforçou.

Desvalorização da moeda e dívida com o FMI 

O preço do dólar no mercado informal tem batido recordes na Argentina, e o país enfrenta o desafio de aumentar as suas reservas líquidas em US$ 5,8 bilhões neste ano, compromisso assumido no acordo selado em março com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nas mesmas negociações, ficou acertado o financiamento estendido à Argentina de US$ 45 bilhões.  

A bancada kirchnerista, nas diferentes instâncias políticas, colocou-se contra o acordo com o FMI, negociado por Martín Guzmán, agora ex-ministro da Economia, é que poderia ser uma das soluções para os problemas econômicos do país. O kirchnerismo historicamente não coloca a dívida pública como prioridade, o que dificulta para o país recuperar a credibilidade internacional.  

“Não creio que o governo possa cumprir as metas com qualquer ministro da Economia, porque não está no DNA kirchnerista combater o déficit fiscal”, reforça o economista Flavio Gonzalez. “O problema político praticamente paralisa o governo. O kirchnerismo é um problema para as soluções do país”, conclui.

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