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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, indo para reunião de partido no Parlamento de Israel, Jerusalém, 29 de maio
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, indo para reunião de partido no Parlamento de Israel, Jerusalém, 29 de maio| Foto: Menahem KAHANA / AFP

Em um acontecimento inédito, Israel terá eleições pela segunda vez em menos de seis meses, porque o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não conseguiu formar um governo de coalizão. Todos os seus prazos expiraram – o último nesta quarta-feira (29), à meia-noite (18h no horário de Brasília) – sem que um acordo para formar o governo fosse fechado.

Em vez de dar a outra pessoa a chance de tentar formar um governo, ele aprovou a legislação para dissolver o parlamento e desencadear uma nova eleição.

Durante todo o dia, os parlamentares – que tomaram posse há apenas um mês, em 30 de abril – discutiram a dissolução do Parlamento e a convocação imediata de novas eleições em 17 de setembro.

Em meio aos debates e à intensa movimentação de bastidores, Netanyahu tentava todos os movimentos possíveis para desatar o imbróglio político que levou a um dos momentos de maior incerteza e nervosismo político da história de Israel.

No final das contas, a dissolução foi aprovada após três votações-relâmpago, e Israel irá às urnas pela segunda vez em menos de seis meses.

Nas eleições parlamentares de 9 de abril, o Likud de Netanyahu havia conquistado 35 dos 120 assentos do Knesset (o Parlamento de Israel). No poder há dez anos, Netanyahu parecia estar com a faca e o queijo na mão depois das eleições, mas se deparou com outro peso pesado da política israelense, o ex-ministro da Defesa e ex-chanceler Avigdor Lieberman, líder de um partido que conseguiu apenas cinco cadeiras no Parlamento, mas que se tornou o fiel da balança para a formação do novo governo.

Sem o partido de Lieberman, o Israel Nossa Casa, Netanyahu não tem o mínimo de 61 cadeiras necessárias para criar a próxima coalizão de direita desejada pelo premiê.

Entenda a situação

Embora o conflito entre Israel e Palestina seja frequentemente descrito como a disputa que molda Israel, as tensões entre israelenses judeus religiosos e seculares (ou menos religiosos) são outro fator importante que define o Estado judeu moderno.

Então, o que está acontecendo lá?

O setor ultra-ortodoxo de Israel é forte e crescente

O serviço militar é obrigatório para israelenses judeus de 18 anos. (Os cidadãos árabes e palestinos de Israel, que compõem 20% da população, estão isentos.) Em 1949, o fundador do Estado de Israel, David Ben Gurion, instituiu uma isenção do serviço militar para os judeus ultra-ortodoxos, que acreditam que são comandados para apenas estudar textos judaicos e separar-se da sociedade moderna.

Nos dias de hoje, em vez de serem assimilados à sociedade secular como Ben Gurion havia previsto, os ultra-ortodoxos agora representam 10% dos quase 9 milhões de habitantes de Israel. Com famílias tradicionalmente grandes, o grupo também chamado de Haredim está entre a população que mais cresce em Israel. Os partidos políticos ultra-ortodoxos se tornaram tão importantes que podem definir se uma coalizão será bem sucedida ou não, e estão se tornando cada vez mais poderosos, tendo conquistado 16 dos 120 assentos do Parlamento nas eleições de abril em Israel.

Esses partidos se aliarão com quem melhor proteger seus interesses, inclusive fornecendo subsídios do governo para os membros que apenas estudam. Os israelenses que não são haredi estão frustrados com o fato de os ultra-ortodoxos terem benefícios mesmo sem participar de um pilar da sociedade judaica de Israel: o serviço militar.

A batalha pelo recrutamento

Em setembro de 2017, a Suprema Corte de Israel derrubou partes de uma lei de recrutamento de 2015 que isentava do serviço militar os estudantes judeus seminaristas, dizendo que a medida era discriminatória e inconstitucional. A corte ordenou que o governo encontrasse uma nova estrutura jurídica que oferecesse tratamento igualitário para todos os cidadãos judeus. Os Haredim foram às ruas para protestar. Mais tarde, a Suprema Corte concedeu uma prorrogação do prazo para a aprovação de nova legislação.

Em dezembro de 2018, Netanyahu, enfrentando um provável indiciamento em três casos de corrupção, pediu eleições antecipadas, supostamente por causa de desentendimentos sobre um projeto de lei de recrutamento dos Haredim antes do novo prazo. (Seus oponentes dizem que a decisão de convocar eleições foi um movimento calculado para ser reeleito antes de ser indiciado.)

Netanyahu foi reeleito em abril, mas não conseguiu formar uma coalizão com pelo menos 61 dos 120 assentos para garantir seu lugar como primeiro-ministro.

Na semana passada, Avigdor Liberman, o líder secular convicto do partido Yisrael Beiteynu (Israel Nossa Casa) se recusou a se juntar à coalizão de Netanyahu, a menos que o primeiro-ministro assegurasse que a versão de Liberman para o projeto de lei sobre os Haredim fosse aprovado - então os partidos ultra-ortodoxos, também parte da coalizão de Netanyahu, se opuseram. Um verdadeiro jogo para ver quem desistiria primeiro.

O projeto de lei que Liberman está defendendo estabelece metas mínimas anuais para recrutar homens ultra-ortodoxos. Também impõe sanções financeiras aos seminários se as cotas não forem cumpridas. De maneira geral, no entanto, o projeto de lei formaliza isenções para a maioria dos estudantes ultra-ortodoxos. (O partido de Liberman é popular entre os israelenses, particularmente os israelenses russos, que apoiam políticas de direita, mas se opõem à supervisão religiosa da vida cotidiana, como o fechamento de lojas no sábado judaico.)

O partido Judaísmo Unido da Torá, apoiado por outros partidos ultra-ortodoxos, exigiu isenções para qualquer homem religioso que deseje estudar em vez de servir nas forças armadas. Eles não querem cotas.

O partido Likud de Netanyahu ofereceu a Liberman um meio-termo: a opção de aprovar o projeto sem as cotas e defini-las depois - o que foi rejeitado por Liberman, que viu isso como uma maneira de enfraquecer a legislação e torná-la sem sentido.

O futuro de Israel e seus militares

Especialistas israelenses haviam especulado que Liberman, que costumava ser próximo de Netanyahu, poderia estar tentando derrubar o primeiro-ministro, de quem ele agora é opositor.

Liberman negou que essa seja sua intenção - e enfatizou que a batalha pelo projeto de lei dos Haredim é simbólica sobre até que ponto a lei judaica deve ditar a política e a vida cotidiana em Israel.

O serviço militar é visto como um dever vital e fonte de coesão nacional para os judeus israelenses. Nos últimos anos, no entanto, os militares também tiveram dificuldades em manter as pessoas motivadas a entrar e permanecer nas forças armadas; com crescentes taxas de evasão, em 2015 os militares diminuíram o tempo de serviço obrigatório. A integração dos judeus ultra-ortodoxos - que seguem regras rígidas sobre alimentos e interações entre homens e mulheres - também apresenta mais complicações para a integração.

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