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Osama bin Laden está morto. Saddam Hussein e Abu Musab al-Zaqawi também, além de outros inúmeros membros do Al Qaeda. Khalid Shaikh Mohammed aguarda seu tribunal militar. George W. Bush está em casa, em seu rancho, Dick Cheney está fazendo a divulgação de seu livro.

Mas, na semana dos 10 anos após a queda das torres gêmeas, ainda estamos vivendo na era do 11 de Setembro. Os nomes e rostos são outros, a Casa Branca trocou de mãos, e o país voltou seu olhar de nossas guerras distantes para a crise econômica doméstica. Mas a política internacional americana ainda se define pelas escolhas que nossos líderes tomaram quando o alvo do ataque ainda fumegava. Nossa abordagem do mundo foi fundamentalmente alterada pelo 11 de Setembro, e nada desde então pôde desfazer isso.

Parte dessa transformação foi tática: a troca da abordagem de justiça criminal ao contraterrorismo, enfatizando investigações, prisões e processos de sucesso, para uma abordagem bélica enfatizando detenções, interrogações e assassinatos. A outra parte foi estratégica: a decisão de que a segurança nacional da América dependia da promoção da democracia pelo mundo muçulmano – via forças armadas, se necessário – em vez da aceitação do tipo de estabilidade que os vários ditadores prometiam fornecer.

Tomadas juntas, essas duas mudanças nos renderam as políticas mais polêmicas da administração Bush, de Guantánamo e a "rendição extraordinária" à invasão do Iraque e o esforço de reconstrução nacional que se seguiu. Algumas dessas políticas foram postas em desuso no segundo mandato Bush (a tortura por afogamento simulado desapareceu do repertório das interrogações, e não nos envolvemos em maiores guerras), mas a transformação geral persistiu.

Ela persistiu mesmo sob Barack Obama, apesar de suas promessas de campanha. Ainda estamos em guerra contra grupos terroristas. O primeiro mandato de Obama tem apresentado um esforço expandido de reconstrução no Afeganistão, uma operação de mudança de regime na Líbia, uma presença militar possivelmente permanente no Iraque – e a adoção gradual, entre o fermento da Primavera Árabe, da retórica ideológica de Bush também.

A questão é se essa continuidade é uma prova de sucesso ou um exemplo de um enviesamento conservador ao qual todos os governos estão suscetíveis. Aqui vale a pena perguntar uma versão da famosa pergunta de Ronald Reagan: Estamos melhores agora do que estávamos 10 anos atrás?

Os motivos para se responder sim são mais fortes no lado do contraterrorismo, onde nossa guerra às escondidas claramente diminuiu a capacidade de nossos inimigos de nos fazerem mal em modos como nossos esforços pré-11 de Setembro nunca foram capazes de fazê-lo.

Há custos morais significativos a uma política que depende de assassinatos de rotina e detenções sem julgamento. Mas 10 anos sem um único ataque, a morte de Osama bin Laden e a constante degradação do Al Qaeda e seus afiliados não são conquistas para se jogar fora. No lado estratégico, no entanto, é extremamente difícil defender que a posição geopolítica da América esteja mais forte hoje do que há 10 anos.

Nossa extraordinária predominância pós-Guerra Fria não poderia durar para sempre. Mas nossas tentativas pós-11 de Setembro de transformar o mundo muçulmano custaram trilhões de dólares e milhares de vidas, e nos renderam – bem, o quê? Um Iraque liberado que está mais na esfera de influência do Irã do que em nossa, uma guerra afegã em que as perdas americanas continuam subindo, uma Primavera Árabe que ameaça circundar Israel com inimigos, um Oriente Médio onde míngua nossa lista de aliados confiáveis...

Após 10 anos de conflito, não estamos mais exatamente no território do curto prazo. E apontar as coisas que poderiam ter sido piores não muda o fato de que nossa grande estratégia pós-11 de setembro está associada à constante erosão da posição americana no mundo.

Nesse contexto, o fato de que o presidente Obama manteve os Estados Unidos embrenhados em ocupações e intervenções pelo mundo muçulmano não é prova de que nossa estratégia esteja funcionando. É um sinal de que ele não sabe como nos tirar de lá.

Tradução: Adriano Scandolara

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