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Mulher passa em frente aos cartazes de Chávez e Capriles, em Caracas | Rodrigo Arangua/ AFP
Mulher passa em frente aos cartazes de Chávez e Capriles, em Caracas| Foto: Rodrigo Arangua/ AFP

Hugo Chávez tentará no domingo (7) a reeleição para aprofundar seu projeto socialista na Venezuela, tendo como adversário Henrique Capriles Radonski, primeiro opositor a conseguir colocar em xeque o poderoso e popular presidente em quase 14 anos de governo, após uma campanha agitada.

Aspirante a um quarto mandato, Chávez multiplicou seus comícios na reta final, percorrendo sete estados em quatro dias, a um ritmo similar ao mantido pelo ex-governador Capriles desde o início da campanha, há três meses, nos quais visitou mais de 300 localidades.

As últimas pesquisas apontavam, em sua maioria, o presidente na liderança, antes da proibição de suas divulgações, no último domingo, mas com uma margem inferior ou similar ao número de indecisos, deixando em aberto a possibilidade de uma vitória de Capriles, que capitalizou o descontentamento popular com o desgaste do chavismo.

Voltando com intensidade às ruas pela primeira vez desde que foi diagnosticado com um câncer, no ano passado, o presidente, de 58 anos, foi saudado nos últimos dias por multidões e do alto dos palanques pediu a vitória nas eleições de domingo, porque, segundo ele, o que está em jogo é "a pátria".

"O que vai ocorrer na Venezuela daqui a 100 anos dependerá do que acontecer no domingo. Por mais problemas que existam, no dia 7 de outubro estamos jogando pela vida da pátria", advertiu Chávez, que se considera protagonista de uma revolução socialista emancipadora do poder das elites burguesas. Mas ele admitiu ao mesmo tempo ter cometido erros e prometeu atender aos problemas diários das pessoas, precisamente o flanco por onde foi atacado sem trégua por Capriles, que o acusa de estar muito ocupado com sua revolução e de ter se esquecido dos desafios reais, como a insegurança ou os serviços públicos.

"Eu me Comprometo a ser um presidente melhor", disse e repetiu nesta semana Chávez, um líder que maneja pessoalmente o poder do Estado e que estabeleceu uma conexão emocional com as classes populares, seu sustento eleitoral.

Quase 14 anos depois de sua chegada à presidência, o governante mostrou em seus atos públicos que mantém um grande apoio entre os venezuelanos, gratos ao mandatário por seus populares programas sociais, as chamadas "missões", financiadas com a renda proveniente do petróleo, neste país com as maiores reservas de petróleo mundiais.

O presidente "tem um discurso que continua funcionando. Há todo o trabalho que fez em relação às missões e esta relação pessoal com os eleitores, a quem ele dá e concede os benefícios sociais", disse à AFP o escritor Alberto Barrera, co-autor da biografia "Chávez sem uniforme". Mas também se beneficia de contar com "todo o Estado como um aparato de publicidade para seu discurso", acrescenta.

Diante da disposição de recursos e do controle dos meios de comunicação estatais de Chávez, Capriles, de 40 anos, se lançou em um frenético percurso pelo país e foi crescendo nas pesquisas conforme visitava cada local, enumerando as promessas não cumpridas do governo e prometendo soluções para problemas concretos.

"Para este governo é mais importante a lealdade do que a eficiência. Eu venho convidá-los a construir um Estado, não um partido", disse o ex-governador do populoso estado Miranda (norte), que acusa o governo de condicionar as ajudas sociais à militância do governista Partido Socialista Unido da Venezuela.

Capriles "construiu um carisma novo, não joga com a polarização nem com a confrontação" recorrentes no chavismo e também "deu à oposição uma identidade própria popular, com uma proposta de país", disse Barrera para explicar seu crescente apoio popular. "Pela primeira vez, boa parte da oposição não vai votar contra Chávez, mas vai votar em Capriles porque sente que é seu líder", reafirma à AFP a jornalista e colunista venezuelana Luz Mely Reyes.

O ex-governador, eleito candidato único opositor em inéditas primárias em fevereiro, é membro da direção de "Primeiro Justiça", um partido social-cristão fundado por uma nova geração política que se distanciou das velhas formações, cujo desgaste abriu caminho para a eleição de Chávez em 1998.

Mas o analista Farith Fraija relativiza o avanço da oposição, ao afirmar que nos comícios eleitorais foi constatado que Chávez continua mobilizando os setores pobres, enquanto a oposição atrai as classes mais abastadas. "Isto nos permite fazer uma radiografia para ver onde estão os setores de cada um", explica à AFP Fraija, lembrando que na Venezuela as classes populares são majoritárias em uma população de 29 milhões de habitantes.

Além disso, Chávez "demonstrou nestas duas últimas semanas que está em boas condições físicas para um novo período. Isso é importante para os indecisos, porque exorcizou o que setores opositores quiseram reviver" sobre a incerteza do câncer, do qual o presidente diz estar livre, acrescenta.

Os dois candidatos se comprometeram a reconhecer os resultados eleitorais em um pacto assinado no início da campanha, embora desde então o presidente tenha acusado Capriles de ter planos de denunciar fraude, e a oposição convocou seus simpatizantes a defender o voto.

"Não são descartados atritos na noite eleitoral, mas em geral acredita-se que o Conselho Nacional Eleitoral e as Forças Armadas agirão de forma adequada se for necessário", afirma Reyes.

As eleições são acompanhadas com muita atenção na América Latina, onde Chávez construiu uma poderosa influência, graças especialmente ao petróleo, fornecido em condições preferenciais a vários países, e também às oportunidades de negócios fornecidas aos seus aliados, sobretudo Cuba, cuja economia depende, em grande medida, da Venezuela.

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