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"A grande contribuição do pontificado está relacionada à preocupação e àcapacidade de repropor as coisas essenciais do Cristianismo."

Dom Gilson Andrade da Silva, bispo auxiliar de Salvador (BA).

"Ratzinger é um teólogo bastante completo, de visão muito ampla. Espero que inspire a muitos no modo de fazer teologia, de maneira que superemos a atmosfera imanentista e racionalista que ainda nos envolve."

Dom Henrique Soares, bispo auxiliar de Aracaju (SE).

"Acredito que os escritos e os discursos pronunciados por Bento XVI durante o seu pontificado podem ser resumidos em quatro palavras: caridade, razão, fé e esperança."

Alex Catharino, teólogo e editor-assistente da Communio, revista internacional de teologia e cultura.

"Ele [Bento XVI] sabe que está cansado e que botou a Igreja no rumo correto, e tem a certeza que só a fé pode dar de que seu sucessor continuará o seu trabalho."

Carlos Ramalhete, colunista da Gazeta do Povo.

"Ainda que não tivesse sido eleito papa ou fosse nomeado para qualquer cargo na hierarquia católica, certamente o nome de Joseph Ratzinger entraria para a história como o mais significativo teólogo católico do período posterior ao Concílio Vaticano II e como um dos intelectuais mais importantes do século 20. Pode ser retratado como um homem gentil, com uma capacidade intelectual acima da média, dotado de impressionante erudição e hábil no diálogo com diferentes pensadores, inclusive os ateus."

Alex Catharino, teólogo.

"A melhor maneira de interpretar a renúncia do papa é nos atermos às suas declarações. Ele nos dá o verdadeiro sentido do gesto. O pontificado do papa Bento XVI se define com a palavra ‘verdade’. Num mundo de tantas mentiras, Bento XVI destacou-se na proclamação e no testemunho da verdade, contida no Evangelho."

Dom Milton Kenan, bispo auxiliar de São Paulo.

121 bispos, dos 474 bispos brasileiros listados no Diretório da Liturgia e da organização da Igreja no Brasil 2013, da CNBB, foram nomeados por Bento XVI.

Em 30 anos a contar de agora, o pontificado de Bento XVI provavelmente será visto de uma forma bem diferente. As análises que indicam um papa "fracassado" por não ter conseguido colocar um fim imediato nas desobediências ou nos escândalos desconsideram medidas que têm efeitos de médio e longo prazos, levando duas, até três décadas para seu impacto se tornar visível.

É o caso da escolha dos bispos, guias da fé em suas dioceses e responsáveis pelas diretrizes na formação de seminaristas. "Quando se pretende uma mudança no panorama eclesial, dois aspectos são decisivos: a nomeação de bispos e a formação do clero. E uma alimenta a outra no médio e no longo prazo. Bento XVI estudava exaustivamente os processos de nomeação", explica dom Gil­­son Andrade da Silva, bispo auxiliar de Salvador (BA).

Dom Henrique Soares da Costa, bispo auxiliar de Ara­­caju (SE), já não vê uma marca tão forte do papa no episcopado. "Não se pode afirmar que Bento XVI imprimiu uma mudança significativa no episcopado mundial", diz. Na opinião dele, não houve ruptura entre as nomeações de João Paulo II e as de Bento XVI. "A realidade desmente a ideia de que o papa nomeia somente bispos com determinada visão", acrescenta.

No entanto, dom Henrique aponta o legado de Ratzin­­ger na formação de religiosos: "Não tenho dúvida de que a nova geração de seminaristas tem uma notável influência ratzingeriana". Influência essa que coloca Deus no centro do discurso da Igreja para o mundo. "[Ele] nos recorda que a Igreja não existe para falar de si, não existe primeiramente para fazer discursos éticos ou falar sobretudo sobre questões morais", diz.

A preocupação de Ratzin­­ger com a educação religiosa é evidente em um de seus trabalhos mais significativos, a trilogia de livros Jesus de Nazaré. Dom Gilson diz que a tríade é uma resposta à tendência de se questionar o saber teológico, e reafirma o "mistério de Cristo", central ao Cris­­tianismo. Os livros aparecem como uma reação a correntes ligadas ao chamado "Jesus histórico", que tenderiam a mitigar ou até contestar os elementos sobrenaturais da vida de Cristo.

A atenção dada pelo papa aos seminaristas se ma­­nifesta também na carta que dedicou a eles em 2010, lembra dom Gilson. Nela, Bento XVI afirma que "o elemento mais importante no caminho para o sacerdócio e ao longo de toda a vida do padre é a relação pessoal com Deus em Jesus Cristo". Para dom Milton Kenan, bispo auxiliar de São Paulo, Bento XVI ofereceu aos seminaristas uma "compreensão genuína" das Escrituras. Manusear os textos da Igreja com uma abordagem científica, sem fé, "é trair o seu sentido original e despojar os textos de seu elemento mais importante", afirma o bispo. "Neste sentido, desvenda-se para os que se dedicam ao estudo da Escritura, e em particular aos que se preparam para o sacerdócio, um universo novo na compreensão e na leitura da palavra de Deus", continua.

Coerência

No tempo em que esteve à frente da Igreja, Joseph Ratzinger procurou ser coerente com sua obra teológica e, principalmente, com suas crenças. Dom Milton usa exatamente a palavra "coerência" para definir o papado que termina hoje, tanto em matéria de fé, quanto de moral. "Num mundo de tantas mentiras, Bento XVI se destacou na proclamação e no testemunho da verdade, contida no Evangelho", diz dom Milton.

"As inúmeras atitudes de defesa da fé e da caridade tomadas por Bento XVI, incluindo a abdicação, foram mais importantes que tudo o que escreveu", afirma Alex Catharino, historiador e editor-assistente da revista Communio. Mas os bispos ouvidos pela reportagem – todos nomeados por Bento XVI – também resistem a avaliações que destacam a renúncia do papa como a atitude que será lembrada sobre todas as outras. "Reduzir este pontificado a um único ato de humildade e coragem seria injusto para com sua grandeza e estatura moral, espiritual e humana", diz dom Antônio Carlos Rossi Keller, bispo de Frederico Westphalen (RS).

Colaborou Jônatas Dias Lima.

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